Rei da Espanha abdica em contínua queda na avaliação da monarquia

O rei Juan Carlos da Espanha decidiu abdicar do trono a favor do seu filho, Felipe VI, príncipe das Astúrias. O anúncio foi feito pelo presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, nesta segunda-feira (2), quando pediu também a “calma” da população para que a sucessão ocorra com “normalidade, como mais uma expressão da maturidade da nossa democracia.” De acordo com o Centro Espanhol de Investigações Sociológicas (CIS), o rei abdica em um momento de baixa avaliação da monarquia.

Espanha - El País

Juan Carlos foi nomeado rei da Espanha em 1969 pelo general Francisco Franco – que controlava um regime ditatorial (de 1936 a 1975), quando o país já não era uma monarquia – e foi coroado após a morte de Franco, em 1975, sucedendo o general enquanto chefe de Estado.

O avô de Juan Carlos, Afonso XIII havia sido o rei da Espanha até 1931, quando foi proclamada a Segunda República espanhola, após a vitória expressiva dos republicanos em eleições locais, que resultou na renúncia do monarca da família Bourbon (ou Burbón, em espanhol).

Chefe do Governo espanhol (cargo originalmente denominado presidente do Conselho de Ministros), Rajoy limitou-se a expressar a “vontade” do rei Juan Carlos de abdicar do trono, sem especificar os motivos. “O rei está convencido de que este é o melhor momento para que se produza, com normalidade, a mudança na chefia e a transição da coroa ao príncipe,” disse o presidente do Governo pelo Partido Popular, de direita, amplamente questionado pelas políticas de arrocho impostas aos espanhóis em crise, em paralelo com os benefícios ao setor bancário.

“Sua majestade deseja comunicar seus motivos aos cidadãos pessoalmente,” anunciou Rajoy, que também convocou um Conselho de Ministros extraordinário para esta terça (3), para iniciar o processo legal de transferência do trono. Para isso, é necessário aprovar uma Lei Orgânica que resolva a renúncia do monarca, explica o jornal espanhol Público. O diário ressalva, porém, que não serão feitas modificações aos artigos constitucionais relativos ao processo.

Além das pesquisas sobre a redução significativa nas médias de aprovação da monarquia, demonstradas pelo Centro de Investigações Sociológicas, episódios marcantes sobre a postura do rei são a divulgação das suas imagens caçando elefantes em Botsuana, na África austral, em 2012, e o ataque verbal e ofensivo contra o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, durante a 17ª Conferência Ibero-Americana, em 2007, pelo que foi amplamente condenado pelo desrespeito a um chefe de Estado.

Rajoy pediu “calma” aos espanhóis, no que o Público classificou de uma previsão sobre as petições já encaminhadas por numerosos setores pedindo a convocação de um referendo, para que os cidadãos possam escolher se querem a continuidade da monarquia ou se preferem a Terceira República.

O presidente do Governo, segundo o diário, evitou este tema na coletiva de imprensa em que anunciou a renúncia do rei, mas teceu elogios ao príncipe Felipe pelo que saudou como “sua preparação, seu caráter e sua ampla experiência em assuntos públicos.”

Moara Crivelente, da Redação do Vermelho,
Com informações do Público e agências de notícias