Espanhóis exigem referendo sobre a monarquia após renúncia do rei

Diversas forças de esquerda na Espanha têm se manifestado pela realização de um referendo sobre a monarquia. Nesta segunda-feira (2), o anúncio da abdicação do rei Juan Carlos foi um novo impulso e um documento de 2013 voltou a ser divulgado pela Esquerda Unida – que aglomera movimentos e partidos comunistas e outros da esquerda – pedindo a consulta. Entretanto, o presidente do Governo, Mariano Rajoy, que defende a monarquia, disse que para realizá-la seria necessária uma reforma Constitucional.

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Milhares de espanhóis realizaram cerca de 60 manifestações, inclusive na praça Puerta del Sol, na capital e sede da monarquia, Madri, para exigir seu direito de decidir pelo futuro do Estado espanhol. Além disso, algumas plataformas na internet já recolheram as assinaturas de mais de 100 mil cidadãos para demandar o referendo, na sequência de um longo período de queda contínua na aprovação da monarquia.

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Uma das missivas que convoca os espanhóis a firmarem o pedido por um referendo diz: “O reinado de Juan Carlos de Borbón foi imposto pelos militares golpistas que criaram uma terrível ditadura. Francisco Franco o formou como herdeiro e é daí a sua falta de legitimidade (…). Exigimos a convocatória de uma votação para que nos dotemos de uma chefia de Estado democrática, renovável, e não de uma monarquia medieval.”

Juan Carlos foi nomeado rei pelo general Francisco Franco em 1969 – e corado após a morte do ditador, em 1975 – quando a Espanha já não era uma monarquia, desde a proclamação da Segunda República, em 1931. Na Espanha, o monarca é chefe de Estado, enquanto o presidente de Governo, ou chefe do Conselho de Ministros, é chefe de Governo.

Ainda na segunda-feira diversas forças de esquerda pediram a abertura de um processo constituinte e a convocatória de uma consulta. Além da Esquerda Unida, importantes vozes dentro do Partido Socialista Operário Espanhol, Esquerda Socialista, Juventudes Socialistas, Podemos e Equo já se manifestaram em defesa do referendo.

Neste processo reivindicatório, o impulso às forças de esquerda na Espanha destoa daquele verificado ao contrário, à direita, em países como a França, a Alemanha e alguns nórdicos, em tempos de crise, de políticas de arrocho destrutivas e de empobrecimento sistemático do povo. Exemplo disso foi o resultado nas eleições para o Parlamento Europeu, em 25 de maio, quando o bloco obteve quase 10% dos votos e elevou a sua representação de dois para seis deputados, dentro da coalizão Esquerda Plural com a Confederação dos Verdes.

Também para a União Geral dos Trabalhadores (UGT) e para a Confederação Sindical de Comissões Operárias, que chegaram a conferir importância ao papel de Juan Carlos na transição para a superação do regime ditatorial franquista, é chegada a hora de se realizar uma “reforma ambiciosa” da Constituição que instituiu a monarquia parlamentar na Espanha, em 1978.

Além do referendo sobre a chefia do Estado, entretanto, líderes como o da UGT, Cándido Méndez, defendem também a federalização da Espanha, um país com diversos movimentos separatistas, de comunidades autônomas – que exigem ainda maior autonomia – ou independentistas, com fortes expressões nacionalistas também contrárias à monarquia.

As reivindicações pelo referendo traçam também um paralelo com a consulta realizada na Itália, em 1946, que resultou na instituição da República, no processo de superação do fascismo pós-Segunda Guerra Mundial. O referendo italiano completou 68 anos exatamente nesta segunda-feira (2), quando se comemorou o Dia da República.

Moara Crivelente, da Redação do Vermelho,
Com informações dos jornais espanhóis