Técnico delator do programa nuclear de Israel é proibido de viajar

Uma década depois da sua liberação da prisão por ter vazado informações sobre o programa de armas nucleares de Israel, Mordechai Vanunu foi proibido de participar de uma conferência sobre direitos humanos no Reino Unido. Vanunu, ex-técnico no programa israelense, foi libertado em 2004, depois de passar 18 anos preso por dar informações sobre as armas nucleares de Israel à mídia britânica.

Israel nuclear - Moti Kimche / Haaretz

O ministro do Interior israelense Gideon Sa’ar e o promotor-geral Yehuda Weinstein negaram a permissão de viagem a Vanunu, segundo matéria do jornal israelense Haaretz, nesta segunda-feira (2), para participar de uma conferência da organização não governamental Anistia Internacional e para discursar no Parlamento britânico.

A justificativa do Ministério do Interior é a alegação de que Vanunu “ainda representa uma ameaça securitária”, mas havia sido convidado para falar sobre a liberdade de informação e à proteção a delatores, em comemoração pelos 10 anos da sua libertação, de 17 a 19 de junho.

Leia também:

Agência nuclear rechaça resolução contra arsenal israelense
Para Irã, Israel é grave ameaça por possuir armas nucleares
Israel tem 80 ogivas nucleares, mas agências não se manifestam
A verdade sobre o arsenal nuclear secreto de Israel

Em resposta à negativa do Ministério do Interior, Vanunu apelou à Suprema Corte de Justiça contra a decisão, na semana passada, informa o Haaretz. Desde a sua liberação, o técnico nuclear tem sido impedido de deixar o país ou de falar com estrangeiros sem a permissão do serviço de segurança interna, Shin Bet.

As ordens foram estendidas ano após ano e a Suprema Corte rejeitou sete petições sucessivas contra elas. A última decisão neste sentido, de 2013, afirmava que Vanunu “ainda tem um tesouro de informações classificadas e não renunciou à sua intenção de disseminá-las.”

Mas segundo o advogado do técnico, depois de tantos anos, as informações que ele possui já não são tão ameaçadoras para a segurança nacional. “As informações sobre as capacidades nucleares de Israel publicadas desde a libertação do requerente [Vanunu] são incomparavelmente maiores, tanto quantativamente quanto qualitativamente, do que qualquer coisa que ele pudesse adicionar, hoje, mais de 20 anos desde que deixou de trabalhar no reator nuclear de Dimona,” escreveu o advogado.

Sentença permanente 
e impunidade de Israel

Além disso, a proibição às viagens constitui punição adicional além da sentença já cumprida por Vanunu. “Esta é uma punição dura imposta ao requerente. Não é suficiente que ele tenha servido uma longa sentença de prisão; agora, ele é controlado, com sua liberdade limitada, como se não tivesse terminado de servir sua sentença,” continua o advogado.

O advogado de Vanunu também criticou a renovação das restrições pela Suprema Corte pelos últimos 10 anos com base em informações que ele e o seu cliente são impedidos de aceder, e “sobre as quais é duvidoso que qualquer juiz da Suprema Corte tenha qualquer entendimento.”

Em resposta ao pedido do advogado de Vanunu para a sua viagem, Sa’ar escreveu: “nenhuma restrição ou garantia com que o seu cliente possa concordar tem o poder de proteger o Estado de Israel e seus residentes do dano que a partida do seu cliente de Israel poderá causar – dano que o seu cliente já expressou desejo por causar mais de uma vez, se permitido deixar o país. Seu cliente retém a capacidade de causar tal dano, que seria irreversível, através da informação que possui, que ainda não foi publicada e que, como foi provado no tribunal, ainda é relevante até hoje.”

Atualmente,  o Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês) estima que Israel tenha cerca de 80 ogivas nucleares, enquanto outras fontes mencionam até 200. Dessas ogivas, segundo o Sipri, 50 são para mísseis balísticos de alcance médio e 30 para bombas transportadas por avião, o que reflete as ambições agressivas deste país instalado à força no coração do Oriente Médio.

Ainda assim, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), da qual Israel é membro – ainda que não tenha assinado o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) – continua criticando, de forma retórica, a insistência das autoridades israelenses em não permitir a inspeção do reator nuclear de Dimona e outras instalações suspeitas.

Moara Crivelente, da Redação do Vermelho,
Com informações do Haaretz