Socióloga do Mundial de Futebol de Rua conta a experiência no Brasil

Entre os dias 1º e 12 de julho aconteceu o Mundial de Futebol de Rua (também conhecido como Futebol Callejero), em São Paulo. Ao todo, participaram delegações de 20 países. Além dos jogos, o evento proporciona diversas ações sociais e culturais para os participantes. A socióloga Carolina Moraes, responsável pela secretaria executiva do campeonato, falou exclusivamente com a Rádio Vermelho.

Por Ramon de Castro, para a Rádio Vermelho

mundial futebol rua - Mundial de Futebol de Rua

O Mundial de Futebol de Rua surgiu na Argentina, na cidade de Moreno, onde existiam muitos conflitos nas comunidades. “A possibilidade desse futebol entra como um mediador dos conflitos dentro das comunidades e com o tempo foi crescendo e começa a ter participação de organizações de todos os lugares do mundo”, disse Carolina.

Uma das coisas que mais chamou a atenção desse evento é que os times são mistos, ou seja, meninos e meninas jogam no mesmo time. “A relação entre os jovens é muito boa e ao jogar o Mundial a questão da mulher não é mais vista como tal, pois isso já é trabalhado e fato consumado, então a mulher faz parte do time como qualquer outro jogador.”, contou Moraes.

Os jogos acontecem em três tempos e os times tem autonomia para escolher as regras e até mesmo o vencedor da partida, tudo decidido de forma democrática. “A metodologia funciona da seguinte maneira: são três tempos, no primeiro tempo os times se reúnem para acordar as regras, por exemplo, se o lateral é cobrado com os pés ou mãos, se o goleiro pode sair jogando, questões básicas da organização do jogo; no segundo tempo acontece a partida e no terceiro tempo discutem quem ganhou, porque mesmo algum time que tenha feito mais gols, necessariamente não será considerado o vencedor, pois as regras estabelecidas no primeiro tempo também somam pontos” explicou Carolina. “Vale ressaltar que não temos juízes, temos os mediadores que acompanham todo o processo de formação da partida e tem o papel de mediar todo o diálogo em torno do jogo”, completou.

As delegações, totalizando 280 jovens, ficaram alojadas em 7 Ceus da capital paulista. Durante os dias que se passaram houve um processo de integração com a comunidade do lugar onde estavam hospedados, visitaram pontos culturais da cidade e também acompanharam shows de bandas locais. “Fizeram visitas ao museu da cidade, ao parque Ibirapuera e saídas, por exemplo, pelas comunidades de Heliópolis, Paraisópolis e sempre com shows de samba, reggae, rap, entre outros”, falou Moraes.

Para a socióloga o Mundial de Futebol de Rua no Brasil foi um momento histórico e ressaltou o esforço das entidades envolvidas para que todas as delegações pudessem comparecer ao evento. “Temos casos de organizações que durante meses venderam marmita para arrecadar dinheiro das passagens”, revelou. “E ressalto a importância da Fude (Federação de Futebol para o Desenvolvimento da Argentina), da Ação Educativa e da Prefeitura da cidade de São Paulo que contribuíram nesse processo que proporcionou para esses jovens uma experiência única, pensando o futebol de outra maneira, mostrando que podemos lidar com futebol não apenas baseando-se em autopromoção ou mercantilização, mas numa perspectiva de troca e de aprendizado”, concluiu.

Na final, disputada no sábado (12) a Colômbia superou Israel por 6 a 3. O Brasil parou nas quartas de final quando perdeu para Gana por 6 a 3.

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Ouça a entrevista completa na Rádio Vermelho: