No México, camponeses anunciam posse de terra ancestral

Um grupo de camponesas e camponeses luta em defesa do direito ao território de seus ancestrais na localidade mexicana de San Francisco, município de Teopisca (Estado de Chiapas). Diante da omissão do Estado mexicano em dar prioridade a eles na ocupação da zona, anunciam, em comunicado público, ter tomado posse da área e exigem dos governos municipal, estadual e federal o reconhecimento da terra recuperada.

camponeses mexicanos - Reprodução

Desde o ano de 1995, eles gerem uma área de 170 hectares de terras na região, ocupando a propriedade El Desengaño, cujo dono é C. Pedro Hernandes Espinosa. Depois de 19 anos de espera por uma solução à acomodação formal da comunidade em sua terra ancestral por parte do Estado, eles exigem que o proprietário desocupe o local o mais breve possível e resolva questões jurídico-financeiras de compensação pela perda da posse com o próprio governo.

"O governo nunca nos deu uma solução para nossa necessidade de terras, e apesar de fazer pouco caso, seguíamos solicitando as terras, mas vimos que era impossível que o governo escutasse nosso pedido e por essa razão decidimos ocupar essa porção [de terra]”, relatam.

Desde 24 de março deste ano, os camponeses expõem letreiros para declararem, publicamente, a posse das terras pela comunidade e exigirem seus direitos. "De agora em diante, trabalharemos sempre nessas terras para nosso sustento diário e queremos que sejam retirados os animais, porque não são nossos, queremos a terra porque ela, sim, nos pertence e também dizemos a C. Pedro Hernandes Espinosa que não permitiremos outro grupo que queira aproveitar-se de nossa luta”, declaram.

Os camponeses se reconhecem donos legítimos da área, na qual seus avós tiveram sua força de trabalho explorada desde os anos 1800. "Aqui, morreram trabalhando sob as ordens do patrão, que fez muitas coisas contra nossos antepassados, castigavam, agrediam, os amarravam pelos pés, mesmo trabalhando de sol a sol. (…) Caminhavam muitas horas com 70 quilos de carga cada um e alguns avós choravam de cansados”, relatam.

Além disso, os camponeses e camponesas se sustentam em princípios da Convenção nº 169, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que reconhece o direito de posse e propriedade dos povos originários indígenas e tribais sobre terras onde tenham, tradicionalmente, acesso para suas atividades e subsistência. "Nós seguimos 19 anos cuidando e defendendo essas terras, nos organizando. (…) Cuidaremos do futuro de nossa descendência”, reforçam.

Os camponeses e camponesas fazem parte de um grupo chamado Semente Digna, formado por comunidades que integram a Sexta Declaração da Selva Lacandona, ligada ao grupo armado mexicano Exército Zapatista de Liberação Nacional (EZLN). Este defende os direitos coletivos e individuais negados historicamente aos povos indígenas e atua sob orientação de uma política de esquerda autonomista, anticapitalista, antiglobalização e antineoliberal, se comunicando através de declarações.

Fonte: Adital