Breno Altman: Proposta de Israel para a paz é capitulação palestina

A sina das palavras mais generosas é a promiscuidade. Até os interesses mais perniciosos buscam se camuflar com discursos pela justiça, a democracia e a paz.

Por Breno Altman*, em Opera Mundi

soldados israelenses - Reuters

Quando o governo de Netanyahu condiciona uma possível e futura liberação do bloqueio em Gaza à desmilitarização do Hamas, o que coloca sobre a mesa é um objetivo sórdido: consolidar nas mãos de Israel o monopólio da violência e da capacidade de defesa. Este discurso é típico dos Estados coloniais.

A retórica francesa sobre o Vietnã e a Argélia, por exemplo, não era diferente. As forças que lutavam pela auto-determinação eram “terroristas” e o conceito de paz se circunscrevia à capitulação dos rebeldes. A lógica da dominação colonial, afinal, é a supremacia.

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A paz justa é um movimento espelhado, baseada em direitos iguais. O Estado palestino deve ter as mesmas garantias de existência que Israel, tanto políticas e econômicas quanto territoriais e de defesa. Quando as armas se calam por submissão de uma das partes, a paz passa a ser instrumento de poder.

Mas este não é o único problema. A principal questão é que, enquanto Israel mantiver a ocupação ilegal dos territórios da Cisjordânia e o cerco contra Gaza, os palestinos têm toda razão de reivindicar o direito à resistência, por todos os meios que estiverem ao alcance de suas mãos.

Não há paz quando o povo colonizado abaixa os braços, apenas quando o Estado colonial renuncia à expansão ilegal. Quem acredita que a paz se resume ao silêncio dos canhões de guerra, faz o jogo da direita sionista, de forma consciente ou desavisada.

*Breno Altman é jornalista, diretor editorial do site Opera Mundi e da revista Samuel.
Fonte: Opera Mundi