Jovem não se vê representado pela política, diz Gomyde 

O ex-deputado federal Ricardo Gomyde (PCdoB) disputa pela primeira vez uma cadeira no Senado, sob a bandeira da renovação. E deixa claro que seu principal adversário na disputa é o senador Álvaro Dias (PSDB), candidato ao quarto mandato, a quem atribui uma atuação muito mais partidária e oposicionista do que de representação do estado.

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Para Gomyde, ao se dedicar quase que exclusivamente ao combate aos governos Lula e Dilma Rousseff, o tucano teria deixado de lado outras responsabilidades, como a de buscar recursos para obras e projetos nos municípios paranaenses.

O candidato – que surgiu para a política na esteira dos movimentos estudantis que atuaram para derrubar o então presidente Fernando Collor, no início dos anos 1990 – avalia que as manifestações de rua que explodiram em junho de 2013 são um sintoma da rejeição ao sistema político, principalmente entre os jovens, que não se sentem representados por parlamentos e governos.

Para resolver isso, afirma, só uma reforma política que acabe, por exemplo, com práticas como a indicação de suplentes milionários para o financiamento da campanha do titular. Na última entrevista da série do Bem Paraná com os candidatos ao Senado, Gomyde explica essas e outras ideias que pretende defender até as eleições de outubro.

Bem Paraná:
O senhor foi candidato a deputado federal na última eleição e teve 44 mil votos. Porque decidiu se candidatar ao Senado desta vez?
Ricardo Gomyde: Eu seria candidato a deputado estadual quando fui convidado pela nossa coligação, pelo prefeito Gustavo (Fruet), pela senadora Gleisi (Hoffmann) para ser o candidato ao Senado porque entendíamos que era preciso apresentar uma candidatura com perfil de renovação para fazer o debate com o Álvaro [Dias, PSDB], que já é senador há muito tempo. Entendeu a coligação que eu tinha o perfil adequado para fazer esse debate.

Qual a sua avaliação sobre o desempenho dos atuais senadores paranaenses?
Olha, a vaga que está em disputa é essa que o Álvaro ocupa já há mais de 20 anos. E eu acho que o Álvaro cumpriu um papel na redemocratização do país, mas nada justifica uma permanência quase eterna no Senado. Principalmente se a gente analisar o perfil de como essa vaga tem sido usada no nosso estado. São apenas três vagas por estado e custa muito caro para o Paraná destinar uma dessas vagas exclusivamente para o contraponto político, que é ao que o Álvaro se dedica no Congresso. O Álvaro deixou de ser um senador do Paraná para ser exclusivamente um senador do PSDB. Combate cotidianamente a presidenta Dilma, o presidente Lula, a Gleisi, o nosso campo político. Se opôs a todos os avanços sociais que o Brasil teve – isso é inconteste – nos últimos 12 anos. Foi contra tudo o que melhorou a vida do povo. De Bolsa Família a Mais Médicos – tudo encontrou no Álvaro a voz do não. Eu tenho nessas andanças pelo interior perguntado aos prefeitos se o Álvaro tem percorrido os municípios, se colocado como parceiro no Senado para atrair investimentos, a resposta comum é não. E isso custa muito caro porque hoje há uma concentração muito grande de recursos em Brasília, e nós precisamos, os nossos senadores, em consonância com o setor produtivo, movimentos sociais, prefeitos, com o estado do Paraná. Afinal de contas o senador é do Paraná. Acho que o Álvaro deixou de cumprir esse papel há muito tempo. É exatamente isso que a gente pretende retomar essa vaga para o estado. Precisamos de um senador do Paraná, não exclusivamente do PSDB.

O governo Beto Richa diz ser discriminado pelo governo federal? O que acha disso?

Isso não se justifica quando você examina os fatos. São Paulo – que é o maior colégio eleitoral do país – é governado pelo PSDB. E o Alckmin recebeu recursos e eu não o vi reclamar. Minas Gerais – que é um grande colégio eleitoral – é governado pelo Anastasia, do PSDB, terra do Aécio Neves que houve discriminação política com Minas Gerais. Só faltaria o Paraná ser um caso único de discriminação. Evidentemente que não é isso. Aliás a gente faz um comparativo que é muito fácil. Em qualquer município do Paraná que você for o que chegou de recursos estaduais e o que chegou de recursos federais. Aí o governo federal ganha de lavada.

O governador tem dito que os outros estados não tiveram uma ministra da Casa Civil como pré-candidata de oposição ao governo contra eles.
Aqui o que houve em determinados momentos foi falta de certidão negativa, ou até falta de projeto.

Mas o fato do governo ter recorrido e obtido decisões favoráveis do Supremo Tribunal Federal para a liberação dos empréstimos não corrobora esses argumentos?
O Supremo não diz que houve discriminação política. O que ele faz é o agente público tem que administrar com o ordenamento jurídico que existe no país. Fiscalizado pelo Tribunal de Contas da União, pela CGU (Controladoria Geral da União). E ele tem que observar diversas normas. Evidentemente que se o Judiciário diz que naquele determinado momento o convênio pode ser feito o agente público vai fazer.

O Senado é visto como uma coisa meio arcaica, distante da realidade do cidadão comum. O que o senhor acha disso? O que precisaria melhorar ou mudar?
Não deveria ser. É que tem gente que acha que o Senado é uma Casa para governador, ex-governador aposentado. Não pode ser. O Senado é um instrumento de luta para melhorar as condições de vida do povo, é um instrumento para a representação dos estados. Para ser como eu disse um interlocutor que possa aproximar prefeitos, entidades do Paraná do governo federal. Então evidentemente o Senado precisa ser renovado e a minha candidatura vem exatamente nesse sentido, para que a gente possa cumprir esse papel, que na nossa análise, não é cumprido pelo senador Álvaro Dias.

Alguns candidatos defendem o fim do modelo de indicação de suplente de senador e a redução do mandato de oito para quatro anos. O que o senhor acha?
Eu acho que a grande questão aí e a excrescência está colocada em você vender a vaga de suplente para um financiador de campanha. Isso é lamentavelmente uma deformação da democracia, e que acontece. Você observa que grandes fortunas acabam ficando na primeira suplência. Qual é o critério de composição? A minha chapa obedeceu um critério completamente diferente. Foi na conversa com os partidos aliados que definiu-se quem seria o suplente. O primeiro suplente meu é o Eliseu Chociai, presidente do PTN; o segundo é um empresário, Pratinha, lá de Paranavaí. Essa excrescência precisa ser resolvida. Fim de suplente, ok, sou a favor. É o fim do mundo a pessoa comprar a vaga de suplente para depois o titular se licenciar e a pessoa virar senador. E o povo se descobre tendo um senador com o qual ele não tinha nenhuma afinidade. Redução de mandato dá para discutir. Agora tem que ter a reforma política. E ela vai discutir esse e outros pontos. Porque não é mais possível que a gente tenha esse sistema representativo no nosso país, campanhas milionárias. E essas deformidades de vender a vaga de suplente para financiador de campanha.

O senhor fez parte de uma geração que surgiu para a política com o “Fora Collor”. O que acha das manifestações do ano passado?
Eu vejo como muito positivo. Eu sou fruto dos movimentos de rua. Em 92, Fora Collor, fui diretor da União Nacional dos Estudantes. Acho que foi uma manifestação fundamentalmente contra o sistema político porque essa gente não se vê representada, nos parlamentos, nos governos quaisquer eles que sejam. Então foi um recado muito grande, mas que tem que ser ouvido agora nas urnas. De nada adianta a pessoa estar indignada com o sistema político e na hora da eleição votar nos mesmos. Então eu espero, tenho a certeza, tenho a convicção que essa indignação vai se fazer sentir de maneira muito intensa nas eleições de outubro, inclusive tirando e aposentando pessoas que acham que vão renovar os seus mandatos com muito conforto. Vão ter uma grande surpresa a hora em que as urnas forem abertas.

O senador Roberto Requião o acusou de ter fechado aliança com o PMDB e depois mudado de ideia e se aliado ao PT de Gleisi. O que aconteceu?
Eu além de candidato sou presidente do meu partido. E converso com todos os candidatos que estão no nosso arco de alianças. Aqueles que estão com a Dilma de presidente. No final o partido se reuniu de forma uníssona, avaliou que a nossa candidata deveria ser a Gleisi Hoffmann e partiu sem qualquer dissensão dentro dessa aliança. Aliás nossa aliança trabalha com harmonia desde que foi montada. Diferentemente do que a gente vê em outros locais, o PMDB fracionado. Eu tenho recebido apoio de muitas lideranças do PMDB. E o próprio PSDB que teve muito problema para escolher o seu vice. De início queria um vice do PMDB, não deu certo. Depois correu atrás do deputado Ratinho Júnior (PSC), acabou não dando também. E acabou saindo com a deputada Cida Borguetti (PROS) de vice do atual governador.

Mas houve um setor do PT que chegou a divulgar manifesto defendendo a indicação do deputado Dr Rosinha para o Senado. E o PDT também reivindicava a mesma vaga.
É, mas isso não diz respeito à minha candidatura. Eu quando vim fui convidado por todos os partidos da nossa coligação. O Rosinha é uma referência, grande amigo, grande parlamentar. Ele fez questão de me procurar naquele momento dizendo que era um debate interno do PT, não era nada contra a minha candidatura. E da parte do PDT havia um entendimento majoritário no PDT e eles tiveram dificuldades com outra pessoa, o próprio Jorge Bernardi foi vereador comigo. Isso tudo se resolveu, mas foi uma coisa interna dos partidos, não foi uma coisa da coligação, nada com respeito à minha candidatura.

Na primeira parcial de contas de campanha o senhor declarou ter recebido R$ 40 mil da direção estadual do PT. O financiamento da campanha fez parte do acordo para que a aliança fosse fechada?
Claro que não. Até porque com R$ 40 mil não se faz campanha alguma. Nós temos um histórico de aliança com o PT. Desde 89 apoiamos o presidente Lula. Aliás o próprio presidente Lula brinca que o único partido que o apoiou em todas as eleições foi o PCdoB, porque o próprio PT em um momento ele teve que passar por prévias. Então nossa aliança é absolutamente natural.

Em 2009, um relatório da controladoria Geral da União apontou que sua gestão na Secretaria dos Esportes deixou de repassar R$ 1,850 milhão para prefeituras, conforme previa convênio entre o Estado e o governo federal . O que aconteceu nesse caso?
Não foi isso. O que teve ali foi o seguinte: a lei Pelé destina uma quantidade de recursos das loterias para as administradoras do esporte no estado. E diz que tem que ser repassado também aos municípios. Então os 27 gestores de entidades de esporte, os anteriores a mim e aos outros nas outras unidades federativas utilizavam esses recursos para fazer competições como por exemplo os Jogos Abertos e os Jogos da Juventude, competições municipais. E a gente sempre cobrou a regulamentação da lei Pelé para que pudesse ser repassado para os municípios. E a partir de um determinado momento, eu acho que foi depois da minha saída, que isso foi regulamentado. E hoje há o repasse para os municípios, coisa que não era possível na época, até porque alguns municípios vão receber fração de centavos.

O TCE também divulgou que teria multado o senhor por conta de compra de R$ 465 mil em material esportivo sem licitação. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Eu nunca fiz dispensa de licitação, não tenho a menor ciência disso. Minhas licitações, quando eu estava no governo, eram feitas por pregão eletrônico na DEAM (Departamento de Administração de Material) e a Secretaria de Educação do governo do estado era onde minha autarquia estava incluída.

O senhor foi demitido em 2009 da secretaria pelo então governador Requião. Na época comentou-se que o motivo seria a aproximação com o então pré-candidato ao governo Beto Richa. Foi isso mesmo?
Os cargos em comissão são de livre provimento do governador. Ele que se candidata, ele que se elege, ele que destina a quem ele achar de direito. Eu tenho com o governador (Beto Richa) relações institucionais. Não ando de tacape na mão agredindo os adversários.

Frases

“O Álvaro deixou de ser um senador do Paraná para ser exclusivamente um senador do PSDB. Combate cotidianamente a presidente Dilma, o presidente Lula, a Gleisi, o nosso campo político. Se opôs a todos os avanços sociais que o Brasil teve – isso é inconteste – nos últimos doze anos.”

“Tem gente que acha que o Senado é uma Casa para governador, ex-governador aposentado. Não pode ser.”

“A grande questão aí e a excrescência está colocada em você vender a vaga de suplente para um financiador de campanha. Isso é lamentavelmente uma deformação da democracia, e que acontece.”

“Acho que (os protestos de junho de 2013) foi uma manifestação fundamentalmente contra o sistema político porque essa gente não se vê representada, nos parlamentos, nos governos quaisquer eles que sejam.”

Fonte: Bem Paraná