Declaração final encerra trabalho do 20º Foro de São Paulo na Bolívia
O encerramento do 20º Foro de São Paulo (FSP) aconteceu nesta sexta-feira (29) com o ato de clausura e a divulgação da Declaração Final. Durante toda a semana, La Paz, na Bolívia, abrigou o encontro da esquerda. Cerca de 180 delegações tiveram a incumbência de refletir sobre diversos pontos, levando em conta o tema: “Derrotar a pobreza e contraofensiva imperialista, conquistar o Viver Bem, o desenvolvimento e a integração de Nossa América”.
Por Théa Rodrigues, de La Paz para o Portal Vermelho
Publicado 29/08/2014 22:52

Os partidos integrantes assinalam na Declaração Final do 20º Encontro do Foro de São Paulo, que reafirmam seu compromisso com o conteúdo das declarações anteriores, que “apoiam a independência de Porto Rico e exigem a imediata libertação de Oscar Lopez Rivera”, o preso político mais antigo do continente. Rivera foi detido em 1981 e tem duas condenações que somam 70 anos.
O documento reafirma a reprovação do FSP a todas as formas de colonialismo e a dominação europeia em Martinica, Guadalupe, Aruba, Bonaire, Curaçao e Guiana Francesa, ressaltando o direito destes à autodeterminação.
Também segue vigente a condenação ao bloqueio dos EUA contra Cuba: “permanece criminoso, injusto e desumano”. Da mesma forma, o FSP reitera a necessidade de lutar pelos antiterroristas cubanos que estão presos nos Estado Unidos há 15 anos.
América Latina, “região de paz”
A soberania Argentina sobre as Malvinas também é um tema que segue na pauta do grupo de trabalho do Foro, “como uma causa latino-americana e caribenha e desde a perspectiva do estabelecimento de uma América Latina como região de paz”.
Também neste sentido, o texto da declaração final afirma que “é importante para a região apoiar resolutamente o diálogo de paz entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo colombiano”. Os partidos do FSP expressam o desejo de que o processo de paz se dê “em um ambiente de cessar fogo bilateral entre as partes” e ressalta a importância da “humanização do conflito”.
As Farc e o governo colombiano discutem desde novembro de 2012 uma agenda de seis pontos com o propósito de marcar uma solução política que permita o estabelecimento de uma paz estável e duradoura, após mais de cinco décadas de confronto. As partes já chegaram a acordos parciais sobre o desenvolvimento agrário integral, participação política e solução ao problema das drogas ilícitas.
“Respaldamos também a abertura de negociações com o Exército de Libertação Nacional (ELN)”, segunda guerrilha mais importante da Colômbia, expressa o documento final.
Eleições
Durante os cinco dias de atividades do Foro, houve uma unanimidade em relação à um tema: a necessidade urgente de apoio aos processos eleitorais no Brasil, Uruguai e Bolívia. Os três países passam por processos de avanço no campo progressista, que, se interrompidos, podem significar um retrocesso ao projeto de integração regional.
“Convocamos a todos para a próxima e imediata batalha que são as eleições presidenciais na Bolívia, Brasil e Uruguai no mês de outubro, respaldando e apoiando as respectivas fórmulas eleitorais de Evo Morales e Álvaro García Linera, Dilma Rousseff e Michel Temer e Tabaré Vázquez e Raul Sendic”.
Segundo o documento, “nossa vitória é vital para a continuação do processo de transformações econômicas, sociais e políticas no continente”.
Ainda com relação aos processos eleitorais, os participantes do Foro de São Paulo, saúdam a vitória da presidenta Michelle Bachelet e se solidarizam com as reformas estruturais no país.
Conjuntura internacional
A Declaração Final alerta para o descenso norte-americano em relação a uma situação multipolar, o que resulta em crises econômicas, sociais e políticas, assim como conflitos armados com implicações globais.
Como não poderia deixar de ser, o grupo de trabalho do FSP inclui em seu documento, o rechaço ao ataque do governo de Israel ao território palestino, particularmente Gaza. Da mesma maneira, cita os ataques dos EUA e da Otan ao Iraque e à Líbia, além das agressões multinacionais externas contra a Síria.
“Se assinala também, a ingerência externa na Ucrânia a partir da aliança entre Estados Unidos e União Europeia com os grupos neonazistas, visando isolar a Rússia”, diz o texto, que pontua: “Esperamos que este conflito se resolva por meios pacíficos”.
Além dos conflitos internacionais, o FSP se solidariza tambpem com a luta do povo saharaui pelos direitos territoriais que lhes estão sendo negados desde 1975 pela monarquia marroquina.
Contraofensiva
Os organizadores do FSP alertam os países da região latino-americana a respeito da contraofensiva imperialista. “Como resposta aos avanços, a direita e a ultradireita fascista reincidem em implementar uma estratégia de desestabilização, em grande parte, como uma reação de impotência diante de sua incapacidade de derrotar politicamente as forças populares”, explica o documento.
Ações desestabilizadoras são fomentadas em busca de “uma mudança no regime”. Frequentemente, resultam em “revoltas populares”, que podem preceder um conflito armado. Esta estratégia ficou evidente na Venezuela, quando a oposição tentou, de diversas formas, criar um descontentamento contra a administração do presidente Nicolás Maduro, no início deste ano.
Meio Ambiente
Segundo a resolução do Foro, a contraofensiva do imperialismo inclui também a busca incessante pelo controle dos recursos naturais. “O FSP luta para defender o meio ambiente, os recursos naturais, os mares, os bosques e a água”, afirma o texto.
Organismos de integração
“Desde a perspectiva da unidade e integração latino-americana, assim como das relações Sul-Sul, é importante atuar com maior pró-atividade no fortalecimento de todos os mecanismos de integração e foros políticos regionais como a Celac, a Unasul, o Mercosul, a Alba, Petrocaribe e A Caricom”, afirma o FSP.
Foro
O Foro de São Paulo foi criado em 1990, quando partidos da América Latina e Caribe se reuniram com o objetivo de debater a nova conjuntura internacional pós-queda do Muro de Berlim e as consequências da implantação de políticas neoliberais pela maioria dos governos da região. A proposta principal foi discutir uma alternativa popular e democrática ao neoliberalismo, que estava entrando na fase de ampla implementação mundial.