Morre aos 90 anos o escultor pernambucano Abelardo da Hora

 O escultor, pintor e desenhista pernambucano Abelardo da Hora, 90 anos, morreu no fim da manhã desta terça-feira (23), vítima de parada cardiorrespiratória. Ele estava internado há cerca de um mês no Hospital Memorial São João José, área central do Recife.


Crédito: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem

Desde que deu entrada na unidade de saúde, ele sofreu três quadros de infecção pulmonar. Na última crise, não resistiu e faleceu às 8h45. O velório é realizado no Salão Nobre da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e é aberto ao público, mas está fechado das 22h desta terça às 8h desta quarta-feira (23), dia enterro, que está marcado para as 11h, no Cemitério de Santo Amaro, Centro do Recife.

Filho de uma família de sete filhos – Abelardo é o segundo e um deles é o cantor Claudionor Germano -, ele nasceu em São Lourenço da Mata, no Grande Recife, no dia 31 de julho de 1924. Radicado na Capital pernambucana na década de 1930, ele começou a moldar suas primeiras obras nas aulas da Escola de Belas Artes do Recife, antes de ingressar no curso de direito da Faculdade de Olinda, nos anos 1940.

"A morte é uma traição que se faz contra a vida" Abelardo da Hora

Abelardo deu seus primeiros grandes voos nas artes plásticas, sob a tutela do industrial Ricardo Brennand – ex-chefe do seu pai, Cazuza. Foi quando deu aulas a Francisco Brennand: "Ele desistiu do curso de Direito para estudar arte comigo".

Em entrevista recente ao Jornal do Commercio, por ocasião das homenagens pelos 90 anos, Abelardo falou sobre sua relação com a política e cultura, o que o transformou num artista politicamente combativo e fortemente defensor do povo.


Abelardo esculpiu o busto da esposa, falecida há quatro anos

Na ocasião, o artista relembrou o nascimento do Movimento de Cultura Popular (MCP), no início da década de 1960: "Eu fiz parte do conselho de direção, junto com Geraldo Menutti e Luiz Mendonça. Representávamos a parte de cultura do Movimento de Cultura Popular; e o grupo católico, que cuidava da educação, era liderado por Paulo Freire. Nesta mesma época, fiz 22 desenhos sobre a situação de miséria da cidade. Era Meninos do Recife. Sobre a fome e a pobreza que esse meninos viviam".

Em abril de 1948, quando fazia sua primeira exposição de escultura no Recife, Abelardo da Hora conheceu o grande amor da vida, Margarida Lucena, de quem ficou viúvo há quatro anos. O amor, porém, continuou presente em todos os cantos do seu atelier, localizado na casa 307 da Rua do Sossego, no Centro do Recife. Para eternizar seu amor, o artista esculpiu o busto da esposa.


Abelardo da Hora esculpiu várias obras espalhadas pelo Recife. O nu feminino é uma de suas marcas. Fotos: Helia Scheppa/JC Imagem

Um artista incansável, que mesmo aos 90 anos não parou de criar, Abelardo da Hora possuiu importante papel na renovação do panorama artístico recifense e brasileiro. Ele foi responsável pelo projeto de Lei que obriga a existência de obras de arte em edificações com mais de 1500 m2 no Recife, além de criar a Sociedade de Arte Moderna do Recife.

Abelardo inaugurou, a partir de 2007, uma série de monumentos no Recife, onde se destacam o Monumento aos Retirantes, no Parque Dona Lindu, em Boa Viagem; o Monumento ao Maracatu, nas proximidades do Forte das Cinco Pontas; e o Monumento ao Frevo, na Rua da Aurora.

De acordo com Abelardo da Hora Filho, uma obra do pai ficou sem ser concluída: a escultura de Gregório Bezerra, torturado em 1964.

Fonte: NE 10/Jornal do Comercio