Rússia critica discurso de Obama na ONU

O discurso proferido pelo presidente dos EUA, Barack Obama, na última sessão da Assembleia Geral da ONU não se destaca pela tonalidade pacificadora ou reconciliatória. Tal opinião foi expressa pelo chanceler russo, Serguei Lavrov, após a intervenção do líder norte-americano em Nova York. Da tribuna da ONU, Barack Obama apelou à união das nações perante novos desafios globais, incluindo a febre ebola, a escalada de terrorismo no Oriente Médio e a Rússia.

Serguei Lavrov

A discussão política se iniciou esta quarta-feira (24), no âmbito da 69ª sessão da Assembleia Geral da ONU. Por tradição, os debates foram abertos pela presidente brasileira, Dilma Rousseff, para a qual a voz dos países emergentes tem sido muito fraca.

Depois, o presidente dos EUA tomou a palavra. O laureado do prêmio Nobel da Paz estava aparentemente com ânimos belicosos. Lançou apelo à coesão perante os desafios globais, entre os quais assinalou o vírus ebola, o terrorismo na região do Oriente Médio e a Rússia. Na situação em que mesmo para a luta contra a epidemia de ebola os EUA enviam tropas para África, um apelo de Obama a “tomar partido justo da história” na avaliação do comportamento da Rússia na arena internacional, nos faz pensar e refletir seriamente no assunto em causa.

Não convém atirar a sua própria culpa a outrem, disse a propósito o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov.

“A julgar pelo discurso do senhor Obama, à Rússia coube a honra de ocupar o segundo lugar no meio de ameaças à paz e à segurança globais. Na primeira posição está a febre, causada pelo vírus ebola, e no segundo lugar, conforme salientou Barack Obama – a “agressão russa na Europa”. Assim, no terceiro lugar se viram o Estado Islâmico, a Al-Qaeda e os demais terroristas que operam hoje no Oriente Médio, antes de mais, nos países atingidos pela intervenção dos EUA em violação das normas do direito internacional. O discurso de Barack Obama apresenta um enfoque norte-americano dos acontecimentos ocorridos no mundo. É uma visão do país que, em sua doutrina de segurança nacional, reservou a si um direito exclusivo de, independentemente de resoluções do Conselho de Segurança da ONU ou outros atos jurídicos internacionais, empregar a força à sua livre vontade. Acho que o “discurso de pacificação” não deu certo“.

Em termos gerais, a intervenção do presidente Obama se centra numa tese de que o mundo de hoje se tornou “mais livre e mais seguro”. Na Europa, a saber, na Ucrânia, deflagrou uma guerra fratricida que, ao durar alguns meses, matou de milhares de pessoas, tendo desalojado ainda centenas de milhares de habitantes civis. No Oriente Médio se assiste ao surto de extremismo que tem causado a ruína de muitos Estados. Terroristas capturam reféns, oriundos de vários países, inclusive os EUA, e depois fazem execuções públicas aos olhos de todo o mundo. Enquanto isso, o presidente dos EUA, procura asseverar a comunidade mundial que a vida se torna melhor, afirma o chefe do fundo Político, Viacheslav Nikonov.

“Algumas pesquisas internacionais prestigiosas, realizadas, por exemplo, pela Rand Corporation, e dedicadas à questão do terrorismo, demonstram que, nos últimos anos, se verificou um surto de ameaças terroristas devido ao aumento do número dos militantes ativos da Al-Qaeda e de outros grupos extremistas. Há dados de que após o início da operação antiterrorista em 2001, o número de terroristas veio crescer em 50 vezes. O mesmo se refere aos atos terroristas. É verdade que isso não acontece nos EUA, atingindo, sobretudo, o Oriente Médio. No entanto, é evidente que o mundo não se tornou mais seguro”.

Ora, aquilo que antigamente era destinado para um auditório interno – um famigerado postulado sobre a impecabilidade dos EUA e a sua exclusividade – hoje se ouve a partir da tribuna das Nações Unidas. “Mas como de outra forma poderia Barack Obama convencer o mundo da necessidade de sete guerras locais que ele desencadeou nos territórios alheios nos sete anos de sua presidência?”, se interroga Andrei Klimov, dirigente da delegação russa no Parlamento Europeu.

“Inicialmente, intervindo num Estado, os EUA participam de desmantelamento de suas estruturas pública, criando caos, depois entregam armas a quem quer que seja, depois começam a lutar contra eles. Numa palavra, criam uma situação de absurdo”.

A discussão política irá durar até o dia 1 de outubro. Nesse espaço de tempo deverão discursar mais de 140 representantes de vários países e organizações internacionais. A delegação russa é chefiada pelo chanceler, Serguei Ivanov. O seu discurso está agendado para o dia 27 de setembro.

Fonte: Voz da Rússia