Preso político paraguaio inicia nova greve de fome para exigir justiça

Rubén Vilalba é um dos líderes da comunidade de camponeses de Marina Kué, em Curuguaty, lugar onde aconteceu o massacre que impulsionou o golpe parlamentar contra Fernando Lugo em 2012. Desde então, Vilalba está preso sem nenhuma prova contra ele, acusado de ser um dos responsáveis pela morte dos seis policiais assassinados durante o confronto que levou a óbito também 11 trabalhadores rurais.

Por Mariana Serafini, do Portal Vermelho

Deputado Raul Carrion com Rubén Villalba - Reprodução

Junto a Rubén, foram presos mais 13 camponeses, que depois de uma longa pressão social, ganharam o direito de cumprir a pena em regime aberto. Mas Rubén é visto como um “subversivo” que poderia organizar novamente os camponeses, por isso segue cumprindo uma pena imposta sem julgamento em regime fechado.

Desde o presídio de Tacumbú, na região metropolitana da capital Assunção, Rubén enviou uma carta à opinião pública para dizer que novamente vai entrar em greve de fome em busca de justiça. Movimentos sociais do Paraguai, da Argentina e do Uruguai se mobilizam pela liberdade dos presos políticos e pelo direito de Rubén de, assim como os demais, cumprir a pena em regime aberto. A campanha “Não estamos todos, Falta Rubén”, tem sido amplamente divulgada com passeatas e publicações em jornais locais e redes sociais.

Leia a carta enviada por Rubén Vilalba nesta quarta-feira (1), desde o presídio de Tacumbú:

“Aos meus familiares, meus companheiros e companheiras de Marina Kué, à opinião pública:

Faz mais de dois anos que estou injustamente preso por ter defendido com meus companheiros nossas terras. O poder judicial que só defende aos que têm dinheiro e acusa aos pobres me trouxe ao cárcere sem nenhuma prova pelo caso Curuguaty, e agora me mantém encarcerado ilegalmente pelo caso Pindo.

Em todo o país se sente a injustiça deste governo de mafiosos e terroristas. Nos hospitais onde faltam medicamentos, camas, insumos; nas escolas sem aula, nem cadeiras, nem teto; no campo onde os sojeiros fumigam veneno sobre as pessoas enquanto seus capangas, policiais e militares baleiam os pobres, nos banhados onde querem sacar as pessoas de suas casas para fazer negócios. Em todo o país a injustiça é lei.

Há mais de dois anos estou preso injustamente, há mais de sete meses deveria estar em minha casa, em prisão domiciliar. Mas os juízes e fiscais corruptos inventaram outras razões para me manter preso. Em 18 de setembro passado, meus advogados e companheiros foram à Corte para prestar um habeas corpus para que se cumpra a ordem de prisão domiciliar. A Corte tinha 2 dias para responder, já se passaram 13 dias sem resposta. Sete meses de prisão totalmente ilegal. Dois anos de prisão injusta suportando um processo ilegal no caso Curuguaty que todo mundo sabe, além de ilegal é uma armação para não contar a verdade sobre o que passou em Marina Kué.

Eu sou um lutador do povo, por isso eles me mantêm preso. Como lutador, não posso ficar tranquilo suportando esta injustiça aqui dentro e lá fora contra todo o povo pobre. É por isso que, apesar de minha saúde não estar muito bem, decidi iniciar uma greve de fome e a partir de hoje tomarei apenas água.

Minha greve de fome é contra a prisão ilegal e injusta que sofro, que apesar dos reiterados pedidos legais o poder judicial se empenha em me manter. Minha greve é para voltar a denunciar a ilegalidade total do processo judicial do caso Curuguaty que se montou para acusar vítimas, lutadores, inocentes e não investigar os verdadeiros responsáveis. Exijo a anulação total do processo judicial que querem levar a juízo desde 17 de novembro, a recuperação definitiva de Marina Kué para o povo camponês pobre e o cumprimento urgente de minha prisão domiciliar.
Aproveito para agradecer toda a solidariedade e apoio que recebemos durante estes dois anos de nossos companheiros camponeses, estudantes, artistas, trabalhadores, dos nossos irmãos religiosos, da comunidade internacional e das organizações em geral e dou todas as minhas forças aos professores, aos médicos e aos camponeses em suas lutas e força para seguir construindo o Congresso Democrático do Povo.

Rubén Vilalba
Presídio de Tacumbú, 1 de outubro de 2014”.