Vítimas do conflito civil na Colômbia passam de sete milhões

Um marco trágico passou praticamente despercebido pela imprensa na semana passada, quando uma organização colombiana publicou o seu relatório afirmando que o número de vítimas da guerra civil na Colômbia ultrapassou os sete milhões.

Por Daniel Kovalik*, na Telesur

Farc - Reprodução

Esse número inclui aqueles que foram mortos, desapareceram ou foram deslocados desde 1956. Para um país de menos de 50 milhões de cidadãos estes números são alarmantes e, certamente, de interesse jornalístico, mas, aparentemente, não para os nossos meios de comunicação de língua inglesa.

Claro, violência e violações dos direitos humanos na Colômbia tornaram-se verdades desconfortáveis para os meios de comunicação ocidentais como os dos EUA que têm sido um dos principais patrocinadores da violência e do abuso no país.

Um fato notável no relatório é que "a maior parte da vitimização ocorreu depois de 2000, com um pico em 2002, com 744.799 vítimas". Não é por acaso que o "Plano Colômbia" ou "Plano de Washington", como muitos colombianos têm chamado, foi inaugurado pelo Presidente Bill Clinton em 2000, o que elevou o conflito a níveis de barbárie. O Plano Colômbia é o plano pelo qual os Estados Unidos têm dado a Colômbia mais de US$ 8 bilhões em assistência, principalmente militar e policial.

A Anistia Internacional vem pedindo que os EUA cortem a ajuda militar para a Colômbia, por um período maior que uma década, devido à continuidade da colaboração entre as forças armadas da Colômbia e seus aliados paramilitares e do fracasso do governo colombiano para melhorar a situação dos Direitos Humanos.

“A Colômbia tem sido um dos maiores receptores de ajuda militar dos EUA por mais de uma décadal. No entanto, a tortura, massacres, desaparecimentos e assassinatos de não-combatentes são generalizadas".

"O Plano Colômbia", em vigor desde 2000, foi criado como uma estratégia de combate às drogas e contribuição para a paz, principalmente através de meios militares.

Apesar da esmagadora evidência na falha em se proteger os direitos humanos, o Departamento de Estado continuou a certificar a Colômbia como adequada para obter mais ajuda. Os EUA têm seguido a política de atirar "lenha na fogueira".

Além disso, depois de 10 anos e mais de US $ 8 bilhões de ajuda dos EUA para a Colômbia, a política americana não reduziu a disponibilidade ou o uso de cocaína em seu território e os Direitos Humanos na Colômbia continuam a ser um motivo de preocupação.

O Plano Colômbia começou em meio as negociações de paz entre o governo colombiano e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e de fato teve um papel fundamental no descarrilamento dessas conversas, e com ele, as chances de paz.

A combinação dos paramilitares (também conhecidos como "esquadrões da morte"), estratégia dos Estados Unidos na Colômbia, com os bilhões de dólares de ajuda militar letal tem contribuído em grande parte para a catástrofe maciça dos direitos humanos que já custou, até agora, mais de sete milhões de vítimas, número este que pode aumentar.

Seria útil se os nossos meios de comunicação, que fingem ser uma pedra angular do nosso sistema democrático, mostrassem estas questões, pelo menos ocasionalmente. Em vez disso, a Colômbia e o conflito armado permanecem quase invisíveis nos grandes veículos de comunicação.

* Daniel Kovalik é um advogado de direitos humanos e da vida de trabalho em Pittsburgh. Ele se formou na Columbia Law School, em 1993, e tem sido Professor de Direitos Humanos Internacionais da Universidade de Pittsburgh School of Law.