Publicado 03/03/2015 10:10 | Editado 04/03/2020 16:26
Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, só dá dentro. Moderno, lança em seu apostolado política de *aggiornamento* da doutrina e das práticas da Igreja Católica. Midiático, ministra lições diárias de humildade e tolerância, granjeando apoio de católicos e não-católicos. Habilidoso, reserva seu lugar no panteão dos grandes líderes políticos e espirituais ao concorrer decisivamente para o reatamento das relações diplomáticas cubano-estadunidenses mandando para a lata do lixo da história a velharia dos tempos da Guerra Fria.
Agora, tem-se a notícia da beatificação de Óscar Romero, arcebispo de San Salvador que nos anos 70 do século passado – fazendo clara “opção preferencial pelos pobres” – notabilizou-se pela defesa dos direitos humanos e denúncia de violência política perpetrados pela ultradireita salvadorenha.
Dom Romero foi assassinado em 24 de março de 1980 por atirador de elite do exército daquele país, enquanto celebrava missa. A escolha de Francisco pela beatificação sinaliza dois importantes pontos. O primeiro é um claro esforço de superação da visão eurocêntrica de mundo, cultivada desde sempre pelo Vaticano; o segundo, igualmente importante, é o comprometimento com a luta pela afirmação dos direitos humanos. Há aqui boa chance para ver amplificada a pregação humanística do arcebispo – agora quase santo -, para quem a violência “parecerá historicamente inevitável enquanto suas verdadeiras causas sejam elas a tremenda desigualdade, a falta de acesso à Justiça e a manutenção de sistema econômico em que muitos trabalham para o privilégio de poucos – não forem eliminadas’’.
A insistência na lógica do combate à violência com tiro, porrada e bomba -preconizada por Valesca Popozuda em seu clássico “Beijinho no ombro”, elevada nestes tempos medíocres a filósofa contemporânea – já revelou sua ineficiência, embora domine os espaços públicos de discussão e sensibilize grandes segmentos da população. É chegada a hora de um novo modelo. O papa Francisco acertou de novo.
*Hélio Leitão é Secretário da Justiça e Cidadania do Estado
Fonte: O Povo