Cordel Umbilical: Carta de Joan para Erivan

Erivan, cabra invejoso
Repentista malcriado
Poetinha rancoroso
Magrelo desaforado
Nem os mais velhos respeita
Numa atitude suspeita
E cheia de prepotência
Onde foi que aprendeu
Querer cantar mais que eu,
Poeta sem experiência

Rima para ser bonita
Não tem que ser invejosa
Senão ninguém acredita
Em sua fala mentirosa
Pra que o saco puxar
E tanto elogiar
Um homem que não faz nada
Será que ele está pagando
Pra você ficar falando
Esta história mal contada?

Idalzira se enganou
Ao ler o meu documento
Acho que ela trocou
Cachaça por alimento
Eu disse em minha missiva
Que a sua boca é ativa
E está sempre comendo
A pessoa que não conhece
Jura que você padece
E de fome vive morrendo

Viver com inveja na mente
Não é um passo correto
Você ou erra ou mente
Ao me chamar predileto
Mamãe não faz distinção
Com a sua criação
Somos todos bem queridos
Todos nós somos iguais
A nenhum ela quer mais
Não existem preferidos

Antes de você partir
De Edvany a mobília
E de querer dividir
Para toda a família
Lembre que estou distante
E o guarda-roupa é gigante
Não dá para transportar
Disso estando consciente
Eu lhe faço um presente
Com ele pode ficar

Mostre que é bom poeta
Me responda sem demora
Com a rima bem completa
Feita em cima da hora
Dou uma tarefa a você
Me faça um ABC
Falando em nossa cidade
Que estou lhe enviando
Outro ABC contando
Como é grande esta saudade

Acaraú, 03 de maio de 1990