Julgamento pelo Massacre de Curuguaty é adiado novamente

Mais uma vez o julgamento dos presos políticos do Paraguai pelo Massacre de Curuguaty foi adiado. Durante a audiência realizada na manhã desta segunda-feira (27) os acusados solicitaram trocar os advogados de defesa.

Rubén Villalba preso - Efe

O massacre de Curuguaty, aconteceu no dia 15 de junho de 2012, levou a uma manobra política do senado que destituiu o presidente constitucional Fernando Lugo.

O episódio aconteceu durante um despejo de famílias que viviam na ocupação Marina Kue, na região de Curuguaty, zona rural, em luta pela reforma agrária. Naquele dia, os camponeses enfrentaram um aparato policial de exageradas proporções – 300 homens, helicóptero, armas pesadas – e com tamanha violência que a desocupação acabou com 17 mortos: 11 agricultores e seis policiais.

Paradoxalmente, a repercussão que se seguiu ao massacre na mídia paraguaia e nos espaços políticos, não se deveu ao absurdo de uma força policial enfrentar com suprema violência uma pequena comunidade rural. O ódio voltou-se contra o presidente, o qual acusavam de promover a resistência camponesa, visto que estava em curso uma grande discussão sobre a reforma agrária no país.

É importante ressaltar que o Paraguai detém a maior concentração de terra do mundo. Apenas 2,6% dos proprietários detém 85% de toda a terra cultivável. E Fernando Lugo estava disposto a discutir o tema da concentração, construindo um processo de reforma agrária.

Dado o golpe, era necessário também aplicar mão de ferro no campo das lutas pela terra. Sendo assim, em vez de responsabilizar a polícia pelo massacre provocado em Curuguaty, a justiça decidiu punir os agricultores que fizeram a resistência. Treze deles foram presos sem que houvesse qualquer prova de participação nas mortes.

Segundo a Coordenadoria de Direitos Humanos do Paraguai (Codehupy), as armas encontradas com os camponeses eram de caça e, conforme atestam os laudos técnicos, elas não foram disparadas durante o conflito. Também é preciso considerar que os policiais mortos levavam tiros certeiros na cabeça ou foram atingidos por balas que puderam perfurar os coletes de proteção. Tanto a pontaria como as balas com essa característica não estavam no lado dos agricultores.