Publicado 05/10/2015 10:08 | Editado 04/03/2020 16:25
Há quarenta anos, precisamente a 25 de outubro de 1975, o jornalista Vladimir Herzog era trucidado nos porões do DOI-Codi em São Paulo, vítima da tortura oficial.
Diretor do departamento de telejornalismo da TV Cultura, enfrentava dura campanha contra sua gestão à frente daquele órgão, encetada a partir das tribunas da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo pelo então deputado José Maria Marin, esse aí mesmo, que hoje na fria e neutra Suíça vê o sol nascer quadrado por suas trapaças e extravagâncias como dirigente da Fifa.
Foi intimado a prestar esclarecimentos sobre suas atividades supostamente criminosas – Vlado era militante no Partido Comunista Brasileiro e dizia-se dele, naqueles tempos paranoicos, ser um dos tantos artífices da infiltração comunista no governo de Paulo Egydio Martins. Não resistiu às bárbaras sessões de tortura a que foi submetido. Na versão mentirosa de seus algozes, suicidou-se.
Como aquele gaúcho de São Borja, saiu da vida para entrar na história. Símbolo da resistência pacífica (e não passiva) ao regime militar, o holocausto de Vlado (era judeu croata, vale, assim, a referência) crava o primeiro e decisivo prego no féretro da ditadura militar.
Seu assassinato naquela casa de horrores em que se transformou o DOI-Codi do II Exército, a que veio se somar a morte do operário Manuel Fiel Filho meses depois, concorreram para exoneração do General Ednardo d’Ávila Melo, linha-dura do regime, e para a afirmação do processo de distensão e abertura democrática.
Vlado virou mártir. Assim, meio que por acaso. Teve a coragem de estar do lado certo. Apenas.
*Hélio Leitão é Secretário da Justiça e Cidadania do Estado do Ceará
Fonte: O Povo