Alexandre Lucas: Que o povo seja os representantes

Por *Alexandre Lucas

Atuar politicamente e criativamente nos ambientes de moradia das camadas populares exige constante análise dos discursos e das práticas políticas diante da relação dos sujeitos com os seus lugares e com as suas paisagens sociais e culturais.

O lugar é de quem reside, de quem convive com as realidades e conflitos, de quem constrói as suas formas de lazer e de sobrevivência comunitária. O lugar é território alheio aos agentes externos. Portanto, o lugar não é um campo estático e despovoado, pelo contrário é recarregado de práticas sociais peculiares e dinâmicas que devem ser percebidas como depositários de saberes e fazeres comunitários.

Historicamente foi negado às camadas populares o direito da qualidade de vida no seu aspecto ambiental, social, cultural e de lazer. Criando um ambiente de descrença no poder público, de conflito e de uma compreensão assistencialista e despolitizada da população.

Os agentes do poder público, gestores, parlamentares e servidores, na sua maioria, deseducam as populações no sentido de se colocarem como redentores das soluções, negando a possibilidade de organização e de reivindicação das demandas sociais como mecanismo de resoluções.

É neste terreno fértil de contradições que reside compreensões que se diferenciam das lógicas institucionais, que muitas vezes desconhecem os desejos, motivações e as práticas culturais que silhuetam a vida nas comunidades periféricas.

Imergir nas raízes destas questões é essencial para compreender e atuar numa perspectiva emancipatória de organização e de empoderamento social. O que requer criar laços comunitários visando potencializar o que já existe e criar novas possibilidades organizativas numa dimensão horizontalizada e de trocas entre agentes sociais internos e externos do ambiente de vivência.

A ideia de troca deve ser revestida de uma dimensão baseada na amplitude da visão social de mundo, a partir de uma perspectiva de estudo contextualizado das realidades em que as problemáticas locais sejam apreendidas a partir das questões macro e que vivência possa ser instrumento de aproximação e participação social, o que pode gerar uma experimentação de protagonismo sem tutelas ou dependências políticas.

A partir desde entendimento, talvez seja possível combater a invisibilidade das práticas culturais das camadas populares e as suas mais diversas formas de organização dando vazão a um processo de educação política em que os interlocutores sejam os próprios sujeitos da comunidade dando visibilidade a uma cartografia social marcada pela exuberância de direitos sociais historicamente negligenciados pelos representantes das elites econômicas no poder.

*Alexandre Lucas e pedagogo, artista/educador e coordenador do Coletivo Camaradas

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