Para Camila Lanes, da Ubes, sem democracia não há conquistas

A presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Camila Lanes, esteve em Fortaleza, no último sábado, 12, para participar do 4° Congresso da Associação Cearense de Estudantes Secundaristas (Aces). 

Camila Lanes

Em entrevista ao jornal O Povo, a líder estudantil contou um pouco sobre a experiência de protestos em São Paulo onde alunos ocuparam escolas para evitar que o governo Geraldo Alckmin (PSDB) fechasse diversas unidades no Estado.

Lanes disse ainda que a estratégia utilizada, a resistência, foi fator decisivo para o recuo do governo paulista. Segundo ela, a mesma estratégia pode ser utilizada em outros Estados que passam por problemas semelhantes e que precisam de mobilização social. Confira os principais trechos da entrevista:

Por que a manifestação se saiu vitoriosa contra o governo do Estado?

O governador Geraldo Alckmin comprometeu a distribuição de água no Estado, houve problemas com metrô, com a Polícia Militar, presenciamos escândalos de corrupção, mas ele não tinha mexido tanto com a educação como ele queria fazer agora. Fechar as escolas, fechar a nossa segunda casa, esse fator fez com que os estudantes se unissem. Muitos colocaram as divergências políticas de lado para a mesma luta. O próximo desafio agora é lutar por uma reestruturação das escolas, para possibilitar uma educação de qualidade.

O que vocês fizeram de diferente que possibilitou essa vitória?

Resistência. A gente resistiu muito. Dormimos no chão, comemos comida fria, fomos pra cima. A resistência fez com que o Alckmin percebesse que a gente não ia parar. E nós cuidamos do patrimônio público. Pintamos escolas, reformulamos, dedetizamos cozinhas, limpemos banheiro, cortamos gramas etc.

Em Goiás, governado também pelo PSDB, estudantes estão ocupando escolas. Há alguma ideologização nesses protestos estudantis?

Que culpa tem a Ubes se o PSDB fecha escolas? Não estamos ocupando só em Estados governados pelo PSDB. A nossa luta não é ideológica, é pela educação. Vamos nos colocar contra qualquer governo que feche escolas. Estudantes precisam se mobilizar e resistir da mesma forma que em São Paulo em vários outros Estados. É possível. Escola sucateada e quebrada a gente vai ocupar sim. Se o PSDB tem como linha política nacional fechar escolas e sucatear a educação, vamos caçar e lutar. Sucatear a educação é crime.

Após o recuo do governo tucano em São Paulo, houve um enfraquecimento do movimento.

Não. Demos mais um gás. Nas ocupações, cada assembleia em cada escola decide. Ainda existem mais de cem escolas ocupadas e que resistem. Muitos estudantes já voltaram para as suas casas de acordo com as resoluções das suas assembleias, mas o movimento continua avançando nas discussão das pautas.

Qual o posicionamento da Ubes sobre a discussão do impeachment da presidente Dilma Rousseff?

No dia 16 vai ter uma mobilização nacional, e a Ubes vai estar presente com seus diretores, estudantes… Vai ser o dia principal que vamos ocupar as ruas contra o golpe, que não tem justificativa jurídica. Nós somos contra muita coisa do atual governo, mas precisamos dialogar, fazer críticas construtivas. Mas temos que manter a democracia. Longe disso não tem conquista.

Como a Ubes avalia o momento político atual?

É um momento político atípico. No Paraná também teve greve, truculência da PM. Nacionalmente ainda mais. Esse Congresso Nacional eleito em 2014 é o mais conservador desde 1964. Infelizmente a gente encontro Bolsonaros e Felicianos da vida. A nossa avaliação é para que se avance mais, que se mude a política econômica, se invista mais na educação. Não aceitamos corte na educação. A nossa luta é para reverter isso.

Você foi presa durante as manifestações estudantis em São Paulo. A prisão foi injusta?

Muito injusta. É ridículo. Quem fecha uma escola, abre uma prisão. Quem fecha uma escola aumenta a criminalidade. A prisão de estudantes nos protestos é injusta e cruel, fora a agressão física e psicológica que passamos, foi muito cruel. Muito estudante agredido, spray de pimenta na cara, ameaça e marcas de agressão.

Qual o tom de um Congresso de estudantes no Ceará no momento em que há várias experiências de manifestações pelo Brasil contra governos?

O movimento estudantil se constitui de várias formas, a nível municipal, estadual e nacional. Esse espaço é muito importante porque a gente está renovando a organização estudantil, o espaço do diálogo é muito importante. Juntar a galera do movimento estudantil tentando imprimir a sua opinião do que é educação é muito importante. É preciso que as entidades estudantis dialoguem no sentido de melhorar as políticas públicas.