Estados Unidos: Imigração, um alvoroço no vespeiro em 2016

O plano do Escritório de Imigração e Aduanas (ICE, por suas siglas em inglês) de deportar milhares de famílias que cruzaram recentemente e de forma ilegal a fronteira com o México, provoca um alerta e destaca o tema da imigração na campanha pela presidência estadunidense em 2016.

EUA migração - Jennifer Whitney / The New York Times

Após anos de fracassos para conseguir uma reforma integral das leis migratórias, os estadunidenses enfrentam em 2016 fortes desafios, pois, se a iniciativa do ICE se concretiza a partir deste janeiro, a margem entre republicanos e democratas será muito pequena, comentam analistas sobre o tema.

O jornal The Washington Post, citando fontes anônimas, informou sobre essa campanha de deportações e, desde então, não cessam as críticas de organizações defensoras dos imigrantes que repudiam a expulsão das famílias.

Em novembro de 2014, o presidente Barack Obama anunciou medidas que convertiam em prioridade a deportação dos "indivíduos que representam uma ameaça para a segurança nacional, a segurança pública e a segurança fronteiriça".

Mas, alerta agora que o ICE colocará no mesmo saco todos aqueles que entraram recentemente no país e receberam uma notificação final de deportação em 1º de janeiro de 2014 ou após essa data, segundo indicaram porta-vozes.

Para endurecer a política de expulsões para aqueles que cruzaram recentemente a fronteira, Obama decidiu também em novembro de 2014 emitir outras medidas, atualmente bloqueadas, para frear de forma temporária a saída de pais com filhos estadunidenses e de jovens sem documentos que chegaram ao país quando crianças.

Vários analistas coincidem em que, com esta suposta campanha de deportações, a Casa Branca quer desmotivar o cruzamento da fronteira por imigrantes sem documentos.

Na realidade, provoca uma revolta entre a comunidade latina e defensores dos direitos dos imigrantes que propõem que estes devem ter direito a comparecer diante das cortes judiciais para se defender.

Por outro lado, comentaristas políticos estimam que o plano do governo é hoje uma verdadeira dor de cabeça para os democratas e suas aspirações de se manter no poder.

O tema é espinhoso e pode concentrar espaços importantes face às eleições presidenciais de 2016, comentam especialistas e meios de imprensa.

Análises indicam que se a Casa Branca põe em prática a ideia vai assumir a retórica anti-imigrante de Donald Trump, favorito nas pesquisas dos republicanos, cujas posições apontam para a expulsão de 11 milhões de pessoas sem documentos do país.

Meios de imprensa influentes como o The New York Times consideram que se isso se consumasse seria como a explosão de uma bomba para os democratas, que se sentem otimistas sobre suas perspectivas com os eleitores hispanos, dada a dura retórica de Trump e outros candidatos republicanos.

Em 2012, Obama ganhou quase 70 por cento do voto hispano e os do partido azul acham que sua quase candidata, Hillary Clinton, poderia subir esse número se os republicanos mantiverem suas posições contra a imigração ilegal.

Não obstante, se o Departamento de Segurança Interior (DHS) atuar contra as centenas de famílias de imigrantes que fogem da violência na América Central, isso suporia um duro golpe para Clinton, embora sua mensagem não acolha a iniciativa da Casa Branca e busque pender para uma posição que apoie as leis sem deixar de lado o problema humanitário.

O governo de Obama expulsou já mais de dois milhões de sem documentos desde 2009, segundo ativistas que preparam atos de protesto com a esperança de frear esta política.

Analistas olham com preocupação que os protestos estejam dirigidos ao DHS, sede do Comitê Nacional Democrata e aos seus pré-candidatos presidenciais, para que pressionem o governo, o que dá uma ideia de ameaça para o partido no governo e de perda do importante apoio da comunidade latina.

Por outro lado, críticos do governo de Obama estimam que as políticas de "mão de ferro" contra os sem documentos não conseguiram concessões dos republicanos no Congresso com respeito a uma reforma migratória e nem frearam a emigração ilegal da América Central.

Em outubro e novembro, a Patrulha Fronteiriça prendeu 12.505 famílias ao longo da fronteira sudeste, em comparação às 4.577 famílias durante esses mesmos meses do ano anterior.

Agora os principais ameaçados do primeiro programa de deportações em massa são refugiados centro-americanos, a maioria mulheres e crianças que tentam escapar dos ataques de gangues, da violência relacionada com as drogas e da brutalidade dos serviços de segurança apoiados pelos Estados Unidos na Guatemala, em Honduras e El Salvador.

Até o momento não se sabe se Obama apoiará a iniciativa repressiva que se inicia em 2016, ainda que fontes citadas pelo canadense Global Research afirmem que o secretário de Segurança Nacional, Jeh Johnson, pressiona em pró da decisão.

Neste contexto, destaca que o favorito entre os candidatos republicanos para as eleições de 2016, o multimilionário Donald Trump, forjou sua vantagem com uma mensagem baseada em discursos racistas contra os imigrantes e refugiados.

Segundo o Global Research, a medida do DHS contra os refugiados centro-americanos é uma luz verde para Trump e outras forças anti-imigrantes de ultradireita e prejudicaria os interesses democratas de ganhar um histórico terceiro mandato consecutivo na Casa Branca.

A esse assunto espinhoso se somam as tentativas do estado do Texas para que a Corte Suprema de Justiça evite a revisão de uma ordem de um tribunal de primeira instância que bloqueou as medidas executivas de Obama em matéria migratória.

Na última semana de 2015, documentos apresentados pelos demandantes ao Supremo sustentaram que os regulamentos do presidente para evitar a saída de cerca de cinco milhões de imigrantes estão além das leis estabelecidas e de sua autoridade constitucional.

Neste complexo cenário, destoam as deportações do ICE quando o tema migratório tem uma importância especial para três em quatro hispanos com capacidade de votar no próximo ano nas eleições presidenciais e 56 por cento disse que não concebe votar por um candidato que queira revogar as medidas de Obama.