Campanhas alertam para a prática do assédio durante o carnaval 

O carnaval é um momento em que a objetificação do corpo feminino fica em maior evidência. Neste contexto, A jornalista brasiliense Nana Queiroz criou o Guia Prático e Didático da Diferença entre Paquera e Assédio. “Não é uma tristeza que, em pleno século 21, a gente ainda tenha que ensinar marmanjo como brinca de conquistar?”, questiona Nana.

Guia orienta homens a não praticarem assédio sexual no carnaval

A preocupação é válida. Em uma pesquisa realizada, cerca de 70% das mulheres disseram que já sofreram algum tipo de violência ao longo de sua vida

A secretária da Mulher Trabalhadora da CTB, Ivânia Pereira, diz que todo mecanismo que leve “informação às mulheres e aos homens contra o assédio e todo tipo de violência é bem-vindo, porque a violência sexual deixa marcas profundas, muitas vezes irreparáveis nas vítimas”.

Por isso, “a CTB parabeniza essa iniciativa e se propõe a colaborar com ela, assim como toda e qualquer iniciativa que divulgue os direitos das mulheres de viverem sem medo”, acentua.

Com a campanha Carnaval Sem Assédio, o guia está publicado na revista digital Azmina (azmina.com.br). A revista surgiu em 2015 depois de Nana ter feito a campanha, que viralizou na internet Eu Não Mereço Ser Estuprada.

De acordo com o guia a conduta correta de um rapaz, ao se interessar por uma garota, é “chegar perto, puxar assunto ou tentar se incorporar na rodinha dela”. Agora chamar de “gostosa”, de “delícia” pode assustar e a conquista se torna impossível.

Para Ivânia, iniciativas como essa são importantes, mas os governantes precisam realizar ações cotidianas de combate à violência contra as mulheres. “É muito importante desenvolvermos trabalhos para mudarmos os conceitos e comportamentos dos homens que olham as mulheres como objetos”.

Ela ressalta a necessidade de ampla campanha dos municípios, estados e União que devolvam à mulher a sua cidadania. Porque “as mulheres começam a se sentir inibidas de sair na rua, de se vestir como desejam, assim deixam de ser livres”.

E “o direito de ir e vir é um direito humano inalienável”, afirma. Para combater tenazmente essa violência, diz Ivânia, “se torna necessário uma articulação com campanhas diárias nas escolas, nas comunidades, nos meios de comunicação, que combatam a cultura machista e patriarcal que não respeita a mulher como um ser de direitos”.

A sindicalista lembra que assédio sexual é considerado crime pelo Código Penal e que “o simples ato de tocar numa mulher sem o consentimento dela pode ser considerado assédio”. Por isso, “devemos brincar o carnaval com alegria e irreverência, mas com respeito à dignidade da pessoa humana”.

Na capital paulista, a prefeitura irá distribuir 50 mil leques orientando ás foliãs sobre o assédio durante o carnaval. O material será distribuido nos blocos da cidade. A campanha #FoliaSemMachismo disponibiliza o telefone do Centro de Referência da Mulher e norteia sobre situações de violência física ou sexual.