Mídia e alienação: neoliberalismo e golpe de Estado
Provavelmente no domingo 13, assistiremos pasmos mais um espetáculo deprimente de uma horda de zumbis vestidos com camisas amarelas da CBF, protagonizando cenas dignas da Alemanha da década de 30, talvez só não tenhamos a suástica tremulando.
Publicado 15/03/2016 13:56 | Editado 04/03/2020 16:48
Dr. Sergio S. Negri*
Como nos alerta o Filósofo Karl Marx: “Toda ciência seria desnecessária se a realidade correspondesse à aparência”. Por isso, segundo ele, devemos ser radicais, buscar a raiz dos problemas para assim desvendar a verdade, a essência que se esconde atrás das aparências.
Assim, para uma leitura correta e verdadeira do mundo, do plano local ao global, necessário se faz lançar mão de estudos e análises que separem o “joio do trigo”, levando uma informação honesta ao público, seja ele acadêmico, jornalístico ou popular. São estes os pressupostos básicos que deveriam nortear a produção do conhecimento científico, jurídico, jornalístico, entre outros. Inclusive com a presença de várias posições contraditórias que possam ser objeto de debates, críticas, buscando alcançar a realidade factível de forma honesta e legítima.
Mas como chegarmos a este estágio de excelência e honestidade intelectual no campo jornalístico, incluindo todos os seguimentos e plataformas midiáticas, num quadro onde somente meia dúzia de agências internacionais monopolizam a produção dos fatos, das notícias e fenômenos mundo afora? Quando estas mesmas agências pertencem a grandes grupos econômicos que ao mesmo tempo atuam nas áreas de armamentos, agrotóxicos, automobilísticas e, sobretudo, grandes bancos e agências financeiras globais? Seriam estas informações produzidas com a devida isenção ou seriam apenas leituras parciais do real, uma visão de mundo própria das elites internacionais?
Também de Marx temos a afirmação de que “as ideias dominantes em uma determinada sociedade são as ideias da classe dominante desta mesma sociedade em determinado momento histórico”! Assim, fica cristalino que a alienação advém, sobretudo, do bombardeamento diário das ideias da classe dominante, daquele 1% mais rico, sobre o conjunto da população. Nesse contexto, a mídia hegemônica brasileira, que se apresenta como a mais concentrada no mundo, já que é propriedade de apenas cinco famílias no país, repete essa lógica, ou seja, explicita cotidianamente somente uma versão dos fatos da realidade brasileira em suas várias facetas: política, econômica, cultural, etc. levando até os televisores, rádios, computadores, smartfhones, jornais e revistas, justamente a versão da elite econômica, financeira e da política nacional.
Dessa forma, fica mais evidente perceber o que é propalado e martelado incessantemente pela mídia hegemônica – e o que se encontra no subsolo – de forma absolutamente seletiva e leviana no que tange à propalada crise econômica e política no Brasil. Ancorada e ao mesmo tempo impulsionadora do conservadorismo político e do neoliberalismo econômico, essa mesma mídia propala aos quatro ventos pérolas do tipo: “o PT criou a corrupção no Brasil, os malfeitos na Petrobrás significam os maiores desfalques ilegais da história do Brasil, a crise econômica tem origem interna devido à incompetência técnica e gerencial do governo federal, especialmente da Presidenta Dilma, partidos políticos são todos iguais e todos os políticos são ladrões” (claro que nessa ótica seletiva partidos de esquerda seriam mais corruptos).
Continuam com outros impropérios do tipo: “esse governo é uma ditadura comunista, financiam os Bolivarianos, Lula é o chefe da quadrilha, o Lulinha é proprietário da Friboi”, etc. Realmente é uma lista interminável e lastimável!
É por demais óbvio, que nenhuma destas invencionices, destas calhanices, sobrevivem quando confrontadas à realidade, aos dados, aos números, às provas! Desafio quem disser o contrário! A título de exemplo: no bojo do denuncismo contra a corrupção, tem se a impressão que o Brasil é o país mais corrupto do mundo, não é mesmo? Pois bem, segundo pesquisa realizada pela Transparency International relativa a 2014, o Brasil figurava em 69º lugar num universo de 174 países pesquisados! Ou seja, nesse ano havia nada mais nada menos que 105 países onde a corrupção era um problema mais sério que em nosso país!
Em verdade, trata-se de uma retórica orquestrada pelos verdadeiros donos do poder no Brasil e no Mundo, sob a batuta do imperialismo americano, fenômeno que já atingiu países africanos e Oriente Médio com a Primavera árabe e boa parte do leste europeu como a Ucrânia.
Desembarcou na América Latina, primeiro na Venezuela, depois na Nicarágua, Paraguai, depois Argentina, Equador e Bolívia, além da eterna Cuba. Agora a bola da vez é o Brasil!
Nesse contexto, o que se esconde atrás da aparência, a raiz do fenômeno, deve ser entendido como a nova ofensiva do Neoliberalismo, sob a hegemonia do capital financeiro, das grandes corporações, cujo objetivo primeiro é dilapidar e se apropriar das riquezas destes territórios, do patrimônio público dos Estados Nacionais que, de alguma forma, tentaram confrontar o poderio do capital internacional através de projetos nacionais de desenvolvimento soberano. No caso brasileiro, como sabemos, além do Banco do Brasil, Caixa Econômica, Universidades, etc., a galinha dos ovos de ouro é a Petrobrás, responsável por 30% do PIB brasileiro e, especificamente o Pré-Sal, cuja riqueza está calculada em trilhões de dólares! Suficiente para alcançarmos índices de desenvolvimento de primeiro mundo para nossos filhos e netos.
Completando o saque, o pacote neoliberal inclui também a precarização do trabalho, com terceirização de serviços, aumentando a exploração com redução de salário e das conquistas trabalhistas, fato que caminhará paralelo à criminalização e desmonte da estrutura sindical brasileira!
Tomando por base o papel da alienação que acompanha esse processo, podemos entender porque importante parcela da classe média, historicamente reacionária e, sobretudo, parte da nova classe trabalhadora constituída nos últimos anos, sob os governos trabalhistas de Lula e Dilma, despertaram um sentimento de ódio à esquerda, com surtos de fascismo! Esses mesmos trabalhadores que adentraram ao consumo, que adquiriram moradias, acesso a universidades, ao lazer, etc., porque tiveram seus salários aumentados em termos reais em mais de 70%! Fatos motivados por um autoengano da suposta meritocracia, como se não trabalhássemos antes, assim como nossos pais e avós! Talvez seja obra divina, como alguns também parecem acreditar, pois não é raro nos depararmos com veículos estampando frases do tipo: “presente de Deus”!
Assim, depois de “preparar o terreno” resta ao grande capital materializar seu intento, se apossando do país. Para isso não faltam candidatos a JUDAS! Perfilam como traidores do povo brasileiro os moralistas hipócritas de plantão pendurados nas principais Siglas golpistas do momento: PSDB, DEM, PPS, Solidariedade, PV e outros nanicos.
Aliados e na vanguarda desse arranjo golpista se encontram setores do Estado, com destaque para parcelas da Justiça, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal. Se antes os golpes se davam sob tanques e baionetas, agora ganha ares de legalidade mesmo que para isso seja necessário que se rasgue a Constituição Federal!
Provavelmente no domingo 13, assistiremos pasmos mais um espetáculo deprimente de uma horda de zumbis vestidos com camisas amarelas da CBF, protagonizando cenas dignas da Alemanha da década de 30, talvez só não tenhamos a suástica tremulando. Por enquanto!
*Professor da UFMT- Campus de Rondonópolis – Doutor em Geografia Humana; Presidente Municipal do PCdoB e Membro da Coordenação do Fórum Popular em Defesa da Democracia de Rondonópolis – e-mail: sernegri@hotmail.com