“Querem sentar na minha cadeira sem voto”, afirma Dilma em Salvador

A presidenta Dilma Rousseff esteve em Salvador nesta terça-feira (26/04) para entregar as chaves de casas para 2800 famílias beneficiadas pelo programa ‘Minha Casa Minha Vida’ (MCMV) na capital baiana. Na oportunidade, Dilma enalteceu o valor dos programas sociais, que são marcas da sua gestão, como o MCMV, e tornou a denunciar, duramente, a existência de um golpe em curso contra o seu mandato, materializado através do processo de impeachment.

“Há uma clara tentativa de golpe de mandato presidencial. Argumentam que impeachment está previsto na Constituição. É previsto sim, mas quando há crime de responsabilidade. Não cometi crime de responsabilidade. Eu nunca recebi propina, não tenho conta na Suíça, não sou acusada de corrupção”, declarou a presidenta, que foi ovacionada por uma multidão que acompanhava o ato, nos residenciais Coração de Maria e Lagoa da Paixão, na Fazenda Cassange.

Dilma argumentou, ainda, que as “pedalas” adotadas pelo governo, e que estão sendo consideradas crime, sempre foram feitas no Brasil pelos gestores públicos. “Sou acusada por algo que é feito desde 1994 e só agora virou crime. Isso significa dois pesos e duas medidas. Significa injustiça. Em alguns atos [que apontam como criminosos], eu sequer participei, mas não acharam outro motivo”.

Ela defendeu a necessidade das transferências como forma de garantir os programas sociais. “Um governo deve ser julgado pelo que foi, é e será capaz de fazer pelo povo. Nosso governo teve uma opção pelo ‘Minha Casa Minha Vida’, Bolsa Família para os que precisam, atendimento médico, luz, universidades. Eles me acusam de ter feito pedaladas. O que nós fizemos foi transferir parte do Orçamento Público para as pessoas que mais precisam”.

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), foi alvo de críticas de Dilma, que lembrou dos crimes atribuídos a ele e questionou a legitimidade da condução feita por ele do processo de impeachment. “Quem me julga é corrupto. Essa pessoa é o presidente da Câmara dos Deputados […] Se desrespeitam meu mandato, qual mandato respeitarão?”

A presidenta aproveitou a ocasião para agradecer aos deputados federais da Bahia pelo voto contrário ao impeachment na Câmara. O estado foi o que mais votou a favor do governo, na sessão do último dia 17. Diversos parlamentares estiveram na cerimônia e receberam os cumprimentos de Dilma, a exemplo de Alice Portugal e Daniel Almeida, ambos do PCdoB. O governador Rui Costa também participou da entrega das casas.

Eleição Indireta

Ao denunciar o “impeachment sem crime de responsabilidade”, a presidenta explicou que o processo é uma tentativa da oposição ao seu governo de conseguir um ‘atalho’ ao poder, diante das sucessivas derrotas nas urnas, a contar a partir da eleição do ex-presidente Lula, em 2002. Para ela, o que se pretende é voltar a um tempo em que as eleições eram indiretas – sem participação popular no processo de escolha presidencial – no Brasil, de modo a se impor um projeto não autorizado pelo povo.

“Esse impeachment é uma tentativa de fazer eleição indireta por aqueles que não têm votos. Se querem chegar ao poder, disputem eleições. O que eles querem é sentar na minha cadeira sem voto. Claro que isso é confortável para eles porque não precisam prestar contas para o povo. É golpe sim, e o mais descarado golpe. Uma injustiça contra meu mandato, contra a democracia e contra 54 milhões de votos”, disse.

Aos participantes do ato, Dilma pediu que a inconformidade com o processo de impeachment permanecesse, mas sem hostilidade ao adversário. Finalizou o discurso falando em vitória. “Nós sempre seremos vencedores! A democracia sempre foi e sempre será o lado certo na História desse País”.

Abraçaço

A cerimônia de entrega das casas também contou com uma manifestação de apoio de dezenas de mulheres baianas à presidenta. No ato, batizado de ‘Abraçaço’, as baianas promoveram um abraço coletivo, entregaram flores e presentes, e exibiram cartazes com mensagens de solidariedade à Dilma.

De Salvador,
Erikson Walla