Sofia Lerche Vieira: Sentidos de ocupação de escolas

Por *Sofia Lerche Vieira

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Em meio ao efervescente cenário dos últimos meses, onde manifestações políticas diversas têm ocorrido, chama atenção o protagonismo dos jovens na ocupação de escolas. Se em tempos passados a participação estudantil foi um elemento chave dos processos de mobilização, depois de um significativo arrefecimento, na esteira dos movimentos de 2013, vozes de alunos da escola pública voltaram a ser ouvidas em favor de questões diversas relativas aos sentidos, usos e abusos do poder público em relação às escolas.

Um rápido percurso pelos diferentes focos de protesto permite perceber elementos desse movimento. Senão, vejamos alguns casos mais evidentes. Em São Paulo, as manifestações de repúdio contra mais uma tentativa estado de reorganização da rede, em 2015, foram tão fortes que levaram o governo a recuar em sua proposta original e provocaram, inclusive, a queda do secretário de educação. Agora as ocupações chegam ao Ceará.

Em Goiás, houve expressiva rejeição à ideia do governo de entregar a gestão de um conjunto de escolas a organizações sociais. No Rio de Janeiro, reivindicações de melhorias diversas, com denúncias sobre descasos da gestão escolar têm ocupado as manchetes da mídia. O foco volta a São Paulo, mais uma vez em 2016, onde desvios da merenda escolar levaram a pressões por aberturas de investigações, ocupação de escolas técnicas e disputas entre grupos de estudantes.

As respostas que governantes, gestores educacionais e equipes escolares têm oferecido aos jovens não parecem ainda revelar compreensão mais ampla acerca do sentido das reivindicações juvenis. Para além da insatisfação face ao descaso com a gestão da máquina pública e do repúdio aos desvios de finalidades da merenda escolar, as ocupações têm também um sentido implícito e simbólico de busca de diálogo.

As novas faces da participação estudantil estão inseridas num contexto maior e ainda insuficientemente compreendido da sociedade em rede. As velhas formas de fazer política exercem pouco ou nenhum apelo sobre os jovens. Novas formas começam a nascer em meio aos “tempos líquidos” em que vivemos. Diante de cenários de aceleração, onde a vida se move ao toque do celular e as redes sociais são erigidas à tribuna onde todos têm direito a voz e veto, a mobilização dos estudantes merece ser compreendida como expressão de uma cidadania reprimida que teima em nascer. É preciso aprender a ouvi-los e interpretar seus gritos.

*Sofia Lerche Vieira é Professora da Uece e da Universidade Nove de Julho; pesquisadora do CNPq

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