Rosemberg Cariry: Vivam os estudantes!

"Enquanto uma nova esquerda não se reinventa, os estudantes mantêm-se autônomos e são um alento. Trazem práticas solidárias e novas consciências para nos oferecer uma alternativa humanizada à estupidez mercantilista e bélica”.

Por *Rosemberg Cariry

MEC joga contra ocupações e exige que estudantes saiam das escolas - Ocupa Paraná

Em meio ao ódio, ao mofo e ao fundamentalismo neoliberal, está sendo imposta uma política econômica que já foi testada e fracassou em todo o mundo, levando muitos países à ruína. Até nisso, revela-se o atraso da elite brasileira. Contra esse estado de coisas têm se rebelado os estudantes, que emergem da lama da nação como uma flor de lótus, clara e bela em sua força vital.

As ocupações de escolas e universidades no Brasil hoje podem ser o fato mais importante desse momento em resistência. A PEC 241/55 é, sem dúvida, uma violência contra a nação. Graves serão as suas consequências, caso seja aprovada por um senado dominado por uma maioria conservadora. Para o neoliberalismo, o Estado só deve existir para atender aos interesses dos grandes grupos econômicos. Já para a população que trabalha e paga impostos, quer decretar o Estado mínimo.

Os estudantes perceberam que o que está em processo no Brasil é o plano de privatização de todas as riquezas nacionais, incluindo-se aqui a destruição dos nossos tesouros simbólicos e de toda a educação pública, notadamente as Universidades públicas. Assim, será completa a nossa dependência aos países hegemônicos. E anulado o sentido público e nacional da educação e saúde, da cultura e ciência e tecnologia, dos direitos sociais fundamentais e exercício da cidadania.

As forças conservadoras neoliberais acenam novamente rotas bandeiras para manter os seus privilégios. Manipulando consciências, erguem o fantasma do “comunismo” e acusam os alquebrados partidos de esquerda de estar por trás das ocupações dos estudantes. Enquanto uma nova esquerda não se reinventa, os estudantes mantêm-se autônomos e são um alento. Trazem práticas solidárias e novas consciências para nos oferecer uma alternativa humanizada à estupidez mercantilista e bélica. Como força política emergente, nesse momento, me fazem lembrar os versos de Violeta Parra, cantados por Mercedes Sosa: “Que vivan los estudiantes, jardim de las alegrias! Sons aves que no se asustan de animal ni policia, y no le assustan las balas ni el ladrar de la jauria”.

Se os professores das Universidades públicas – por vezes controlados por sindicatos do status quo, e ameaçados de perder os seus salários – não estão com coragem suficiente para defender o patrimônio brasileiro, os estudantes mostram tê-la e são hoje a vanguarda do País. É possível que essas ocupações coloridas, alegres, pacíficas e firmes aconteçam, não apenas em mil escolas e universidades, mas em todas as escolas e universidades públicas do País. Assim, os professores terminarão varrendo o comodismo e o medo de suas almas, colocando-se ao lado desses bravos estudantes. A partida decisiva sobre o futuro está sendo jogada hoje. Afinal, se “Deus não joga dados” (como diz Einstein), os homens jogam!


*Rosemberg Cariry é cineasta e escritor

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