Jesualdo Farias: A mulher do Lula?

"Entender as manifestações fascistas daqueles que nutrem ódio ao Presidente Lula já não requer qualquer esforço. Mas daqueles que deveriam neste momento ajudar a amenizar a dor e o sofrimento da sua família é uma tarefa impossível. Afinal, quem morreu não era apenas a mulher do Lula. Ela era, antes de qualquer rótulo, Mulher”.

Por *Jesualdo Farias

Lula e Marisa

No Brasil, o ódio, o preconceito e a intolerância mais uma vez se revelaram de forma incompreensível. Agora, com mais violência porque também partiram de onde se esperava apoio no momento de dor. Não se trata apenas de justiça. Trata-se de dever, de compromisso profissional e ético assumido com a profissão. Quando reitor da UFC, compreendi a especificidade dos concluintes de Medicina, que sempre defenderam o clássico juramento de Hipócrates.

Pois bem, foram muitas as manifestações de ódio e de intolerância acerca do trágico falecimento da ex-primeira-dama. Desde a sua chegada ao hospital até a confirmação do óbito, assim como durante e após o velório, explodiram nas redes sociais declarações comemorando a sua morte e o sofrimento do Presidente Lula.

O fato de várias destas manifestações terem sido atribuídas a médicos, inclusive com vazamentos de exames clínicos e com sugestões de procedimentos para abreviar a morte, é muito grave. Cabem providências urgentes da classe médica e dos Conselhos responsáveis pela fiscalização do exercício da Medicina. Que “o contrário aconteça” àqueles médicos que, movidos pelo ódio cego e pelo preconceito, infringiram princípios éticos e profissionais que juraram exercer.

Entender as manifestações fascistas daqueles que nutrem ódio ao Presidente Lula já não requer qualquer esforço. Mas daqueles que deveriam neste momento ajudar a amenizar a dor e o sofrimento da sua família é uma tarefa impossível. Afinal, quem morreu não era apenas a mulher do Lula. Ela era, antes de qualquer rótulo, Mulher.

Uma Mulher que soube ocupar o seu lugar na história, com humildade e acima de tudo com respeito às tradições do seu país, uma mãe e avó. Antes do “consumatum est”, termo tão festejado, usado pelos facínoras nas redes sociais, ela se despediu com um gesto de grandeza, típico daqueles que nunca alimentaram o ódio, doando seus rins, fígado e córneas. Este ato de amor e de solidariedade, em um momento tão delicado, foi a sua resposta derradeira a tamanha ignomínia. Esta Mulher tem nome: Marisa Letícia.

*Jesualdo Farias é secretário estadual das Cidades e professor titular da UFC.

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