Carlos Campelo Júnior: Que saudade das aulas de história

“Vivemos um momento ‘pleno de liberdade’. Pelo menos na aparência, encorajada pela doutrina liberal que rege o mundo. Fala-se sobre tudo e sobre todos, sem escrúpulos ou pudor. Sem conhecimento. Criticam-se ações que não nos dizem respeito. Analisam-se as questões cotidianas, políticas ou econômicas de forma subjetiva e sem a devida profundidade. A liberdade é relativa. Alguém ou algo sempre terá um controle sobre a nossa aparente ‘liberdade’".

Por *Carlos Campelo Júnior

Opinião

Ali, na sala de aula, no intervalo do recreio ou no retorno para casa, podíamos aprender, sonhar e nos colocar no ambiente da pré-história, do mundo antigo e feudal. Poderia tentar acender um fogo com pedras e lutar grandes batalhas com os amigos, com espadas de plástico, elmos feitos de jornal e cavalos de madeira. Disputar duelos.

Misturava-se tudo. História, ficção e fábulas. Viajava no tempo com uma fertilidade juvenil mais rápido que um piscar dos olhos. De centurião romano, transformava-me em um cavaleiro galanteador e apreciador de poesia, para encantar platonicamente as donzelas, mas com a firmeza do caráter de quem empunha com destreza a espada e a lança contra os dragões do meu imaginário, a destruir a opressão nos reinos de Avalon e os inimigos da liberdade, nas ruínas do Castelinho do Plácido, hoje Praça Luiza Távora, ao lado de companheiros como Sir Tristão e Lancelot.

Brincava com arco e flecha numa relação com o diferente, sem ainda ter a mínima noção de identidade com o nosso índio e jamais seria um negro. Muito menos, escravo. Isso é até compreensível pela pouca idade.

Somente fui entender conceitos de dominação, identidade, raça, aculturação e o etnocentrismo, um pouco mais na frente. Com mais leitura. A compreensão da história na minha vida e na vida em sociedade me fez um ser humano melhor. Abriu as portas para as outras ciências humanas.

Pela leitura da história do nosso passado e presente, entrou através da retina e para a minha alma inquieta, a percepção do real valor da construção da nossa brasilidade, da destruição das nossas Culturas, das atrocidades cometidas, as outras raças e outros povos em nome da civilidade do "velho continente" e a opressão, miséria e desigualdades impostas pelos "agentes" de um sistema, uma elite privilegiada, a mesma de hoje.

Vivemos um momento "pleno de liberdade". Pelo menos na aparência, encorajada pela doutrina liberal que rege o mundo. Fala-se sobre tudo e sobre todos, sem escrúpulos ou pudor. Sem conhecimento. Criticam-se ações que não nos dizem respeito. Analisam-se as questões cotidianas, políticas ou econômicas de forma subjetiva e sem a devida profundidade. A liberdade é relativa. Alguém ou algo sempre terá um controle sobre a nossa aparente "liberdade". Não sou eu quem afirma isso, são os filósofos.

Nos últimos dias, assistimos um turbilhão de opiniões críticas ao ex Presidente Lula e sua ida a “República de Curitiba”, encontrar-se pela primeira vez como réu com o juiz “jacobino” Sérgio Moro, o responsável, juntamente com o Ministério Público Federal e uma mídia sem pauta de empurrar para o limite, a crise e o terror que a operação Lava Jato vem provocando nas instituições e na indústria nacional. Assim como o líder da Revolução Francesa Robespierre e seus jacobinos que condenaram à guilhotina toda a oposição, inclusive o rei Luís XVI, o clima também para o ex-presidente era, dependendo da torcida, de guilhotina. Um desabafo politizado do viúvo e acusado, num momento cheio de fortes emoções seria no mínimo compreensível. Mas não foi!

Desse momento de tamanha intolerância, ódio e “vergonha alheia”, que passa o país com o desgoverno antinacional e antitrabalhador de Temer, tiremos pelo menos, uma lição. Temos liberdade de emitir uma opinião? Claro que sim! Mas talvez fosse melhor praticar a sua ou a minha liberdade de ficar em silêncio. Por que não? Para a vergonha de tanta insensibilidade, omissão e indiferença não ser maior!

*Carlos Campelo Júnior é professor e ex-secretário executivo da Secretaria de Esporte e Lazer de Fortaleza (Secel).

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