Luciano Siqueira: A real dimensão das reformas
Em meio à multifacetada crise em que estamos mergulhados, vêm à tona os verdadeiros problemas estruturais que travam o desenvolvimento do país. Para muito além de oscilações e percalços conjunturais. E do contraditório e desgastante emaranhado de denúncias, delações premiadas e entreveros entre os chamados Três Poderes da República.
Publicado 07/06/2017 14:59 | Editado 04/03/2020 16:55

O Brasil tem peso específico na geopolítica mundial, mas abrir espaço na cena internacional para o seu próprio desenvolvimento, afirmando-se como nação soberana e progressista, requer superar marcas negativas que historicamente permeiam a sua trajetória.
Em que pesem índices elevados de crescimento verificados entre os anos 30 e 80 do século passado, somos ainda uma nação em vias de desenvolvimento, “periférica”, gerida por um Estado conservador, sob controle dos círculos financeiros.
Temos, assim, uma economia ainda dependente e de desenvolvimento médio, relegada a um segundo plano na divisão internacional do trabalho imposta pelas grandes potências.
A persistência da propriedade latifundiária improdutiva ou de baixa produtividade, que inibe o aumento da produção e a democratização da terra e a enorme defasagem da renda do trabalho em relação à renda do capital fomentam profundas desigualdades sociais e regionais, articuladas com a concentração da produção e da riqueza nas regiões Sudeste e Sul.
Também o atraso civilizacional, traduzido em empecilhos à emancipação das mulheres, que esbarra na lógica do capital e nos preconceitos de gênero.
Estamos atrasados em décadas do desenvolvimento sustentável, do que resulta a degradação ambiental.
Sofremos gigantesca e sofisticada pressão ideológica de valores nocivos à afirmação da soberania do país, sustentada pelo monopólio midiático e pela indústria cultural estrangeira.
No exercício democrático, desastrosa é a permanência de um sistema político-eleitoral tendente à fraude, à influência nociva do poder econômico e à distorção da vontade cidadã expressa através do voto.
Tais obstáculos remetem a reformas estruturais de sentido democratizante, progressistas: tributária, urbana, agrária, urbana, do sistema educacional, dos meios de comunicação, do Judiciário e político-eleitoral. Com sentido democratizante, progressista.
Nada a ver com as reformas que pontificam na agenda do governo Temer, que têm caráter regressivo, como se vê nas reformas trabalhista e previdenciária. Nem de longe tocam nos verdadeiros impasses do desenvolvimento do País, mas se voltam especificamente para as necessidades da reprodução do capital como se dá hoje, sob a égide do setor rentista.
Daí a necessária percepção de que para destravar o desenvolvimento do País não bastará a superação do impasse político atual, concentrado na permanência ou na continuidade do governo Temer e em saída democrática ou restritiva para a sua substituição.
A empreitada tem dimensão estrutural e grande envergadura política.
Publicado originalmente no Blog de Jamildo.
(*) Luciano Siqueira é vice-prefeito do Recife e dirigente estadual e nacional do PCdoB.
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