Violência: CUT-CE é atacada em dia de ato em defesa dos direitos

Entre seis e oito homens portando armas de fogo atacaram, na última quinta-feira (20) a sede da Central, em Fortaleza, e mantiveram reféns 15 pessoas, entre funcionários e membros da operativa da Frente Brasil Popular.

Violência: CUT-CE é atacada em dia de ato em defesa dos direitos - Letícia Alves/CUT-CE

Um grupo de bandidos encapuzados invadiu a sede da CUT-CE, em Fortaleza, na manhã da última quinta-feira (20), no momento em que se iniciaria uma reunião operativa da Frente Brasil Popular no estado. Dirigentes sindicais, políticos de partidos de esquerda e militantes de movimentos sociais foram mantidos reféns, roubados e ameaçados por pelo menos 40 minutos. A reunião definiria os últimos detalhes do ato em defesa da democracia, dos direitos, e em solidariedade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – marcado para a tarde do mesmo dia. A manifestação, que ocorreria na praça da Bandeira, no Centro, foi adiada, ainda sem data definida.

A invasão à sede da entidade aconteceu pouco antes das 10 horas. Com armas de fogo e estilete, os bandidos ameaçaram de morte quem estava no local e procuravam especificamente por dois dirigentes da Executiva. Roubaram e destruíram celulares, notebooks, dinheiro e pertences pessoais dos presentes, que foram ameaçados e mantidos reféns em duas salas separadas. Seguiram arrombando salas nos pavimentos da sede e destruindo o que viam pela frente.

“Esse ‘assalto’ nos causa um grau de perplexidade muito grande. Não queriam buscar dinheiro nem informação. Queriam a todo custo saber quem era o presidente e quem era o tesoureiro. Tocaram o terror, bateram e deram coronhadas nos reféns”, afirmou o presidente estadual do PT, Francisco de Assis Diniz, que participou de uma coletiva de imprensa convocada pela Frente Brasil Popular cerca de uma hora depois de os bandidos deixarem a sede da entidade. Para De Assis, “não é razoável que no Centro de uma cidade, um grupo de homens fortemente armados invadam um espaço de organização dos trabalhadores e patrocinem o que eles patrocinaram”. O dirigente exigiu o aparato do estado para rigorosa investigação “e para trazer à luz o que está por trás desses fatos”.

Os dirigentes estaduais do PCdoB-CE Luís Carlos Paes e Andréa Oliveira estavam no local e também foram vítimas da violência. “Fizemos um esforço grande para não olhar pra eles (criminosos). Ameaçavam o tempo inteiro dizendo que quem olhasse levaria bala. Deitamos no chão, bateram nos companheiros, colocaram estilete no pescoço de uma companheira e faziam muito barulho para nos amedrontar. Foram momentos de terror”, detalhou Andréa, a única vítima que conseguiu participar da coletiva. Pelo menos três pessoas necessitaram de atendimento hospitalar e foram liberadas em seguida. Outras equipes multidisciplinares envolvendo médicos e psicólogos também estiveram na sede da CUT-CE, prestando apoio e atendimento às vítimas.

Latrocínio envolvendo sindicalista

Durante a coletiva, também foi cobrada celeridade nas investigações da morte do sindicalista Jorge Costa Ferreira, o “Jorginho”. Nesta mesma quinta-feira, ele faleceu, vítima de assalto ocorrido na noite anterior, quando saía do Sindicato dos Bancários do Estado do Ceará, onde trabalhava. Jorginho não resistiu à gravidade dos ferimentos provocados por tiros que levou na cabeça durante um assalto, pouco depois das 20 horas. Os bandidos levaram pertences dele e de mais dois irmãos e atiraram, mesmo sem qualquer reação das vítimas. “A gente ainda estava aqui tentando digerir o assassinato do Jorginho, quando acontece um absurdo desses. Que país é esse em que estamos vivendo? Como conseguimos continuar lutando pela democracia e por um mundo mais justo?”, disse uma das vítimas do ataque à CUT-CE, ainda muito abalada e que pediu para não ser identificada.

Solidariedade

“Sede da CUT no Ceará é invadida por homens armados que quebraram equipamentos e ameaçaram dirigentes. Pessoal organizava ato em prol do ex-presidente Lula hoje à tarde. Lamentável esse clima de intolerância e ódio”.
(Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores – PT)

“Neste período tenebroso que vivemos no Brasil do pós-golpe, a ação contra a sede da CUT pode se revestir de um caráter político, configurando um atentado contra as liberdades de expressão e manifestação política. Confiamos na detalhada e breve apuração de todos os fatos, necessária ao esclarecimento deste lamentável episódio”.
(Chico Lopes, deputado federal – PcdoB)

“No momento em que a classe trabalhadora é vilipendiada por uma série de golpes, a sede da maior central da América Latina sofre esse tipo de ação, evidenciando que querem calar a voz dos trabalhadores. O Sindjorce e a FENAJ exigem rigor na apuração do ocorrido e conclamam a classe trabalhadora a permanecer em luta, atenta e forte. Mais do que nunca, somos fortes, somos CUT!”
(Nota oficial do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Ceará – Sindjorce)

“Evidentemente, isso é uma ação política e não foi isolada. Em nome do PT nacional, prestamos nossa solidariedade à CUT-CE e à Frente Brasil Popular, mas é preciso denunciar esse clima de terror promovido pela direita brasileira. Houve uma ação política, patrocinada pelas forças de direita que não sabem conviver com a democracia. Tentam amedrontar as pessoas para que elas deixem de lutar. Estamos perplexos pela situação ter chegado a esse ponto”.
(José Guimarães, deputado federal – PT)

“É com estranheza muito grande que vemos esse fato ocorrido no dia de hoje. Movimentos sociais e sindicais se reuniam pra definir ações e atuações em prol de direitos de liberdades civis e democráticas do país. Nossa preocupação nesse momento é imensa, primeiramente com o atendimento às vítimas, porque todos estão extremamente abalados. Não é a primeira vez que ocorrem depredações na Central. Esse clima de terror gerado precisa de uma investigação extremamente responsável e célere para a identificação desses criminosos, todos eles. E nós não vamos nos intimidar diante de ataques, para manter nosso direito constitucional de organização dos trabalhadores na defesa da nossa classe e so povo brasileiro”.
(Carlos Eduardo Bezerra, presidente do Sindicato dos Bancários do Estado do Ceará)

“Assim que soubemos do ataque, nos dirigimos à sede da CUT para prestar solidariedade a todos os companheiros e companheiros que foram vitimas desse ato criminoso. Chegando aqui, encontramos dirigentes sindicais e militantes de movimentos sociais em estado de choque, porque viveram momentos de terror e ameaças de morte. Foi um ataque ao principal ponto de apoio e de articulação dos maiores movimentos que o Ceará já viu. O Ceará tem se mobilizado de forma intensa contra retrocessos e reformas absurdas, e na defesa da democracia. Todas essas lutas contrariam interesses de poderosos”.
(Enedina Soares, presidenta da Federação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Estado do Ceará – Fetamce)

"Repudiamos veementemente a ação e exigimos a apuração rigorosa, tendo em vista ter ocorrido contra trabalhadores, sindicalistas, justamente no dia de uma manifestação – provocando o seu cancelamento – e num momento de intensos ataques aos direitos sociais. Estamos todos e todas juntos. Essa causa também é nossa. Também nos sentimos agredidos com tamanha violência! Pela imediata e completa apuração".
(Luizianne Lins – deputada federal – PT e equipe do mandato, em nota)