Liga Árabe quer Jerusalém Oriental como capital da Palestina
O grupo de estados árabes vai começar uma iniciativa para que as Nações Unidas reconheçam o Estado palestino com Jerusalém Oriental como sua capital, respondendo assim à decisão de Trump de mudar a embaixada dos EUA e considerar a cidade santa como capital israelita
Publicado 08/01/2018 18:34
O anúncio foi feito pelo ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, que não deu detalhes sobre o calendário para o processo, nem disse a que organismo da ONU se referia (uma resolução vinculativa seria certamente sujeita a um veto americano no Conselho de Segurança, já na Assembleia-Geral não seria vinculativa mas precisaria apenas de uma maioria de votos favoráveis para passar).
A discussão sobre Jerusalém foi aberta há cerca de um mês pelo presidente norte-americano, Donald Trump, quando declarou que iria mudar a embaixada norte-americana de Tel Aviv (onde estão todas as embaixadas) para Jerusalém, marcando assim o reconhecimento dos EUA da cidade como capital de Israel – uma declaração duramente criticada por todos os outros países, uma vez que Trump ignorou a voz palestina quanto as negociações sobre a cidade santa, contrariando todas as resoluções da ONU sobre o assunto.
Israel considera Jerusalém a sua capital “indivisível” (declarada assim de forma unilateral e por eles mesmos). A anexação da parte oriental da cidade nunca foi reconhecida pela comunidade internacional, que continua a considerar Jerusalém Oriental território ocupado. Nas resoluções da ONU sobre o conflito israelo-palestiniano sempre ficou estabelecido que a questão de Jerusalém seria definida em negociações entre as duas partes.
O grupo que irá tomar frente dessa iniciativa é liderado pela Jordânia e incluirá o Egito, Marrocos, Arábia Saudita, Emirados Árabes e a Palestina.
O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, disse que será discutido se Washington continuará sendo o medidador em qualquer futuro processo de paz, já que a declaração de seu presidente mostrou favorecimento a Israel. A possibilidade foi negada pela Turquia, que denunciou a incapacitação dos EUA de mediar qualquer negociação com objetivo de paz entre os dois países.
Na sequência da declaração de Trump, mais de 120 países votaram a favor de uma resolução na Assembleia Geral da ONU apelando aos EUA para voltarem atrás no reconhecimento. Trump ameaçou cortar financiamento a países que votassem a favor da resolução e ameaçou também cortar as verbas norte-americanas para a agência da ONU destinados aos refugiados palestinos, a UNRWA, porque, segundo acusou, os palestinos “já não querem negociar a paz”.
Os objetivos da UNRWA
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, defendeu o fim da entidade. Segundo ele, o objetivo da UNRWA "é destruir o Estado de Israel”. No início da reunião do Governo no domingo (7), Netanyahu declarou: “A UNRWA deve desaparecer do mundo”.
As palavras vão contra relatos na imprensa israelense de que o governo estaria tentando convencer Trump a não cortar o financiamento à entidade, por medo de consequências devastadoras na Faixa de Gaza, território sujeito a bloqueio de bens e de onde os habitantes só podem sair se tiverem uma emergência médica, e que está, segundo um relatório da ONU de julho de 2017, quase “inabitável”.
Israel critica a UNRWA há muito tempo, dizendo que as escolas geridas pela agência demonizam Israel e protegem guerrilheiros em Gaza. O fato da proteção da entidade ser estendida aos descendentes dos refugiados que fugiram de Israel quando foi criado o Estado judeu e nas guerras de 1948/49 e 1967 perpetua-se na questão dos refugiados palestinianos.