Sousa Júnior: A estratégia “Lula ou nada” interessa a quem?

“Realizar a campanha Lula Livre e defender seu direito de ser candidato é uma obrigação de todos democratas e não apenas dos que defendem Lula presidente. Mas é uma obrigação maior ainda se preparar para seguir outro caminho, pois há uma grande distância entre Lula ser candidato e ser elegível, pois a (in)justiça brasileira não assegura a Lula nem o que a Constituição lhe dá direito, imaginem aquilo que a lei não lhe garante”.

Por Sousa Júnior*

Lula - Foto: André Dusek Estadão

Os dados da pesquisa realizada pelo instituto MDA, divulgados nesta segunda, 14/5, não surpreendem e continuam colocando o ex-presidente Lula como virtualmente eleito em qualquer cenário. O que surpreende e merece reflexão é o fato dessa pesquisa ter sido encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT).

Boa parte da esquerda não acreditou na possibilidade de Dilma ser afastada do governo devido à inexistência de justificativas legais para o “impeachment”. Esta ilusão na (in)justiça brasileira continua. Apesar de ser tão óbvio o motivo da injusta prisão de Lula, muitos acreditam que ele será eleito e tomará posse em 2019, mesmo o TSE indeferindo sua candidatura com base na Lei Complementar 135, de 2010 (a chamada Lei da Ficha Limpa).

Pelo menos essa é a estratégia do PT anunciada há poucos dias em vídeo divulgado nas redes sociais pelo senador Lindbergh Farias. Segundo ele, se a candidatura de Lula for indeferida pelo TSE, o PT vai recorrer ao STF na esperança de que até mesmo após as eleições esse indeferimento seja revertido. Isso é possível? Não. Mantida a candidatura de Lula após 17 de setembro, seu indeferimento anulará todos os votos que receber. Esse é o único caminho que tem a direita para vencer a eleição, pois não basta prender Lula e mantê-lo inelegível, é preciso neutralizar o enorme potencial de transferência de votos que ele possui.

Realizar a campanha Lula Livre e defender seu direito de ser candidato é uma obrigação de todos democratas e não apenas dos que defendem Lula presidente. Mas é uma obrigação maior ainda se preparar para seguir outro caminho, pois há uma grande distância entre Lula ser candidato e ser elegível, pois a (in)justiça brasileira não assegura a Lula nem o que a Constituição lhe dá direito, imaginem aquilo que a lei não lhe garante.

Se não há outro caminho para os golpistas ganharem a eleição, para a esquerda há outras alternativas pois, ao contrário do que diz Lindbergh, a eleição de Lula não é o único caminho que pode derrotar o golpe. A esquerda tem condições de ganhar essa eleição, com ou sem Lula, mas para isso é preciso agir, começando por mudar essa estratégia de “Lula ou nada”, embora mantendo a campanha Lula Livre, até porque sua liberdade é decisiva para vencer a eleição, sendo ele candidato ou apoiando outra candidatura.

Isso não significa abandonar a candidatura de Lula de forma prematura. O que defendemos é preparar as condições para ter uma candidatura de esquerda, apoiada por Lula, que possa aglutinar outras forças democráticas, tão logo se confirmar a impossibilidade de o ex-presidente se tornar elegível. Essas condições começam por evitar desconstruir todos os nomes de pré-candidatos a presidente, a exemplo de Manuela, Boulos e do próprio Ciro e tratá-los como aliados e não como adversários, como alguns setores do PT vêm fazendo, pois esse comportamento sectário semeia a divisão e joga água no moinho da direita.

Enfim, fazer todos acreditarem que a única possibilidade de vencer o golpe é através da candidatura, eleição e posse de Lula, não se preparando para adotar outra alternativa, mais do que uma atitude triunfalista é fazer o jogo da direita. É nesse contexto que se pode entender o porquê da mais recente pesquisa eleitoral ter sido encomendada pela poderosa CNI.


*Sousa Júnior é publicitário e diretor da rádio Atitude Popular.

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