Nagyla Drumond: O Fascista "nosso" de cada dia

"Infelizmente fascistas não vivem em catacumbas, cavernas ou porões. Estão nas ruas, nas famílias, nas igrejas, nos governos, nos parlamentos disputando mentes, corações e consciências à luz do dia, de forma escancarada, despudorada. Por isso é que precisamos exaltar as qualidades e conquistas do nosso campo. Por isso que devemos encurralar fascistas e dialogar com o povo. Serve aos embates eleitorais e serve ao permanente enfrentamento para a reconstrução do Brasil”.

Por Nagyla Drumond*

Ilustração: Laerte

Vou direto ao ponto: fascista é bicho perigoso e precisa ser enfrentado. Mesmo que façamos piadas e memes de toda espécie (e acho que precisamos, sim, “mangar” e escrachar) não esqueçamos que é preciso estratégia e tática pra eliminá-los politicamente.

Para isso, dentre outras questões, é preciso que sejam nominados devidamente! Sim, eles precisam deixar de ser vistos como "doidos" ou, meramente, imbecis. Há doidos que também são fascistas. Há imbecis que também são fascistas. Mas, fascistas são tão perigosos que em seus discursos totalitários, messiânicos e cheios de verdades absolutas e de frases de efeito, mais parecem delirar em imbecilidades retumbantes.

Quando estão com um microfone ou megafone nas mãos, quando estão num debate, numa tribuna, num palanque e/ou na frente de uma câmera de TV, exalam o enxofre de suas entranhas neoliberais com o objetivo de destruir tudo que não lhes “for espelho”. O fascista planeja, age, executa e monitora. Há métodos claros, mesmo quando se apresentam de forma atabalhoada.

No Fascismo do Século XXI não se enxerga fascista fora de um campo específico de ideias: neoliberais, privatistas, lesa-pátria. Conservadores, mas, nem sempre fundamentalistas. Mais misóginos e homofóbicos do que "meramente machistas". Terraplanistas, anti-vacinas, xenófobos? Nem todos. Há contradições e essas valem, sempre, ser exploradas.

Não deliram. Tripudiam, tramam e executam os planos sórdidos de seus muitos patrocinadores. Sim, eles têm patrocinadores, nada imbecis por sinal. Já tem gente do campo popular escrevendo sobre o assunto de forma muito mais profunda do que faço agora. São desavergonhados, de falso *glamour*. Déspotas de exércitos de "gentes" desesperadas desesperançadas, desorientadas, muitas vezes perdidas e consumidas pelo o quê de pior a nossa sociedade produziu.

Gente como o trabalhador do "Ponto da Moda", na esquina da Guilherme Rocha com Barão do Rio Branco, no centro de Fortaleza que, ao me ver fazendo campanha, disse que votaria em Bolsonaro para presidente. Não resistiu a três simples argumentos. Emudeceu. Amofinou. Espero que pensando, um pouco que seja, pois me pareceu muito mais despedaçado do que fascista. Não o vejo como inimigo, nem tampouco digno de pena.

Nem todo mundo que declara voto a fascista é fascista. Nem todo desinformado é fascista. Presa mais fácil, talvez.

Infelizmente, os fascistas não vivem em catacumbas, cavernas ou porões. Estão nas ruas, nas famílias, nas igrejas, nos governos, nos parlamentos disputando mentes e corações. Disputando consciências à luz do dia, de forma escancarada, despudorada.

Por isso é que precisamos exaltar as qualidades e conquistas do nosso campo. Por isso que devemos encurralar fascistas e dialogar com o povo. Serve aos embates eleitorais e serve ao permanente enfrentamento para a reconstrução do Brasil.


*Nagyla Drumond é socióloga, professora e doutoranda em sociologia.

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