Fernando Costa: O ódio de classes

"O golpe promovido pelos capitalistas paulistas e afiançado pelo Poder Judiciário trouxe para as ruas o antigo e perigoso ódio de classes, o estopim das mudanças radicais que aconteceram em todas as sociedades. Mais uma vez a classe média, ou a velha e perdulária pequena burguesia, é o canal de propagação desse ódio”.

Por Fernando Costa*

ódio

As eleições presidenciais deste ano prometem expor nas ruas o que muitos acreditavam estar morto e sepultado: a boa e velha disputa entre direita e esquerda. Só a direita achava, ou queria distorcer a História, que ela não existia mais e que a esquerda estava morta.

O golpe promovido pelos capitalistas paulistas e afiançado pelo Poder Judiciário trouxe para as ruas o antigo e perigoso ódio de classes, o estopim das mudanças radicais que aconteceram em todas as sociedades. Mais uma vez a classe média, ou a velha e perdulária pequena burguesia, é o canal de propagação desse ódio.

No último domingo, presenciei na Praça Benedito Calixto, em São Paulo, um ensaio do que está por vir.

Cena 1: Um pequeno grupo do partido Novo fez uma manifestação apoiando seu candidato a presidente, os transeuntes simplesmente ignoraram, o que deve ter provocado o comentário de uma bela e bem vestida militante do partido Novo, que dizia para um companheiro: "Ou nós implantamos um capitalismo de verdade no Brasil ou vamos perder para o socialismo".

Cena 2: Eis que surge no canto esquerdo da praça uma onda vermelha, um grupo de 300 pessoas cantando e gritando palavras de ordem: "Lula livre, Lula presidente".

Cena 3: O chão da praça tremeu e senhoras pacatas e senhores respeitáveis que passeavam entre antiguidades e quinquilharias foram tomados por um transe e começaram a babar e urrar com um ódio visceral. Por um ou três instantes, parecia que ia acontecer um enfrentamento, mas como ali só estavam representantes da pequena burguesia, ficou por isso mesmo, só os insultos de sempre. Mas o prenúncio do que está por acontecer, quando as massas estiverem nas ruas, está desenhado.

A classe média que apoiou o golpe certamente não estará nas ruas na hora do conflito, mas seus filhos estarão tentando remediar o erro que seus pais cometeram e que um dia eles, em sua grande maioria, voltarão a cometer, porque assim cavalga a pequena burguesia.


*Fernando Costa é sociólogo e publicitário.

Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as opiniões do site.