Esther Solano: 'Precisamos de uma Frente Ampla democrática para evitar Bolsonaro'

Em entrevista ao Brasil de Fato, a socióloga Esther Solano afirmou que a saída para derrotar o avanço da direita conservadora e a ameaça à democracia representada pela campanha do ultra conservador Jair Bolsonaro (PSL) é a unidade do campo democrático num frente ampla.

A cientista política Esther Solano

"A única estratégia seria que todos do campo democrático se juntassem contra ele, setores da mídia, do mercado, para desconstruir o discurso dele, sobretudo em relação à economia, porque as pessoas ainda não entenderam bem o que significa o Bolsonaro no comando econômico no país. Me parece que temos que fazer uma Frente Ampla Democrática contra ele, expondo seu ponto fraco: a área econômica", afirmou a socióloga que é professora adjunta de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e professora do Mestrado Interuniversitário Internacional de Estudos Contemporâneos da América Latina da Universidade Complutense de Madrid.

Esther lançou no último dia 1º de outubro, o livro "O ódio como política. A reinvenção das direitas no Brasil". A obra, impressa pela Editora Boitempo, traz análises de 15 pesquisadores sobre o papel e consequências da intolerância e do ódio em diferentes áreas sociais.

Segundo ela, o fenômeno que denomina como "rebeldia conservadora" está presente nos discursos dos eleitores de Bolsonaro. "A rebeldia é porque veem no Bolsonaro uma renovação, algo novo, anti-sistêmico, contra a política. Tem a esperança de que ele vai mudar algo. Mas são conservadores porque têm esse discurso da ordem, da tradição, da família", explicou.

Ela enfatiza que, apesar da aderência à candidatura de Bolsonaro, a maior parte dos seus eleitores não endossam o discurso machista, racista e homofóbico. "Não acreditam que ele seja tudo isso, mas que é muito exagerado na fala. Ou minimizam a importância desses discursos", contou.

Sobre a tese do "antipetismo" como causa e efeito do crescimento de Bolsonaro, Esther também discorda. Para a socióloga, essa tese é "injusta", assim como "falaciosa" a tentativa de colocar a candidatura de Fernando Haddad (PT) como um extremo oposto à de Bolsonaro. "Não gostar de Lula, do PT ou do Haddad é uma coisa, mas é um partido democrático, que não tem nada a ver com o que Bolsonaro propõe", afirmou.

Ela também rebateu a tese de que o movimento #Elenão tenha favorecido Bolsonaro nas pesquisas. "Essa estratégia de dizer que foi o #Elenão que impulsionou a candidatura de Bolsonaro é muito falaciosa, nada diz que foi isso, e muitos outros fatores interviram. Em paralelo, o Bispo Edir Macedo da Universal declarou apoio ao Bolsonaro, fez uma campanha muito intensa e houve uma campanha na imprensa com um antipetismo muito forte. Então essa fala desqualifica o movimento #Elenão, que é importantíssimo, e cumpre o papel da política machista de colocar as mulheres como culpadas de tudo", analisou.

Segundo ela, a estratégia do #Elenão foi importante porque colocou a mulher na vanguarda da política, que é muito machista. Ela salientou ainda que o movimento não é uma luta contra Bolsonaro, mais pela democracia. "As mulheres serão vítimas de Bolsonaro, caso ele ganhe a eleição, com seu discurso misógino", advertiu.