Sousa Júnior: Em vez de facas, balas

“As medidas econômicas já anunciadas, o corte de direitos trabalhistas e outras surpresas que poderão advir de eventual governo Bolsonaro mergulharão o país em uma crise bem mais profunda do que a atual. Haverá reação dos trabalhadores e repressão violenta do Estado, assim como a “solução final” para o caso das facções instaladas nas comunidades levarão a uma inevitável guerra civil”.

Por Sousa Júnior*

bolsonaro arma criança

Engana-se quem pensa em votar em Jair Bolsonaro para “acabar” com o PT. Os números comprovam o contrário. O PT fica mais forte quando está na oposição. Em 2010, foram eleitos 88 deputados federais petistas. Quatro anos depois, estando no governo e apesar de todas as políticas públicas em favor da população, a bancada do PT caiu para 70 deputados. Em 2016, uma tragédia: os 630 prefeitos petistas eleitos em 2012 caíram para menos da metade, apenas 256. Parecia que o PT caminhava para o fundo do poço, mas bastou dois anos de governo Temer e o PT voltar para a oposição para ser o partido com maior apoio popular e eleger a maior bancada federal em 2018, com 56 deputados. Foi preciso condenar sem provas e prender Lula para evitar sua eleição. O candidato Fernando Haddad, desconhecido da maioria da população, saltou de 4% para 42% das intenções de votos em apenas 30 dias de campanha e pode ser o futuro Presidente da República.

Ao contrário de quem só enxerga a derrota do PT nesta eleição, caso Bolsonaro seja eleito não só o PT vai ficar mais forte como toda a esquerda que está alertando para o perigo que corre o país. E é sobre esse perigo o que de fato quero falar.

Devo dizer que fico estarrecido como pessoas aparentemente inteligentes e civilizadas apoiam um candidato que tem como símbolo uma arma; que quer resolver o problema da segurança armando a população; que ensina publicamente uma criança de dois anos a segurar um revólver; que ameaça fuzilar os petistas; que diante de uma plateia de 1.000 empresários, em evento organizado pelo Banco BTG Pactual, afirma que vai metralhar a Rocinha se os traficantes não se entregarem; que defende, enfim, a ditadura militar e a tortura.

Nem vou falar sobre as declarações machistas, misógininas e discriminatórias desse candidato contra negros, indígenas, comunidade LGTB, refugiados etc. Também relevo o caos econômico que será provocado com a privatização de 50 estatais que ele promete fazer só no primeiro ano de seu governo, além de destruir o que resta de direitos trabalhistas, como 13º salário, férias e FGTS. Tudo isso, apesar de muito grave, é bem menos relevante do que o maior perigo que representa Bolsonaro para o nosso país.

Falo de fascismo e de guerra civil. E não estou exagerando. Todos os elementos estão presentes. Há um líder de extrema-direita (Bolsonaro), um símbolo (a arma), meio de comunicação eficaz (as redes sociais) e um inimigo a abater (o PT e a esquerda) e, como uma onda, o apoio popular necessário para atingir seu objetivo, tendo por combustível uma crise econômica e um descrédito com a política tradicional que estimulam uma “solução final”, como defendeu Bolsonaro no caso dos traficantes da Rocinha (e certamente a adotará em outras comunidades).

As medidas econômicas já anunciadas, o corte de direitos trabalhistas e outras surpresas que poderão advir de eventual governo Bolsonaro mergulharão o país em uma crise bem mais profunda do que a atual. Haverá reação dos trabalhadores e repressão violenta do Estado, assim como a “solução final” para o caso das facções instaladas nas comunidades levarão a uma inevitável guerra civil. Será “o dia em que o morro descer e não for Carnaval”, como previu o saudoso mestre Wilson das Neves.

Nesse dia, senhores e senhoras inteligentes e ditas civilizadas, não me venham culpar o PT e a esquerda, pois a culpa será de cada um que digitar 17 no dia 28 de outubro, cujas mãos podem até serem lavadas, como fez Bolsonaro, mas será com o sangue que será derramado por todo o país, o mesmo sangue que brotou das costas do mestre Moa do Katendê da Bahia, assassinado covardemente com 12 facadas. A diferença é que não serão mais facadas, e sim balas de revolveres e fuzis disparadas por quem autorizou, com seu voto, a implantação do fascismo em nosso país.


*Sousa Júnior é publicitário e diretor da rádio Atitude Popular.

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