Baixa escolaridade e renda aumentam risco da Covid-19

Os fatores de risco para a doença têm incidência de 54% quem tem apenas o ensino fundamental, contra 34% em quem tem ensino superior.

Fila para atendimento em hospital do SUS (Foto: Reprodução)

Brasileiros com menor escolaridade têm mais chance de apresentar fatores de risco como hipertensão, diabetes, asma, doença cardíaca, doença renal, entre outros que podem agravar o quadro de pacientes com a Covid-19.

A conclusão está em nota assinada pelas economistas Laura Carvalho, da Universidade de São Paulo (USP) e Luiza Nassif Pires, da Bard College, e pela médica Laura de Lima Xavier, da Massachussetts Eye and Ear Infirmary. As pesquisadoras analisaram dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada em 2013.

O levantamento considerou como fatores de risco ter acima de 60 anos, ter sido diagnosticado com diabetes, hipertensão arterial, asma, doença pulmonar, doença cardíaca ou insuficiência renal crônica. Levando em conta tais critérios, a PNS sugere que 42% da população brasileira se encontra em algum grupo de risco.

A questão é que essa proporção aumenta consideravelmente na parcela da população que declara ter frequentado apenas o ensino fundamental: chega a 54%, contra 28% para quem frequentou o ensino médio e 34% para os que têm ensino superior ou pós-graduação.

“Esta diferença é ainda maior quando se considera quem tem mais de um fator de risco, sendo a presença de dois ou mais fatores de risco três vezes maior entre aqueles que frequentaram apenas o ensino fundamental do que entre aqueles que frequentaram o ensino médio”, afirma a nota.

Para as autoras, o dado causa preocupação, uma vez que na província de Hubei, na China, a taxa de hospitalização da Covid-19 foi 1,8 vezes maior para pacientes com uma comorbidade e 2,6 maior para aqueles com duas co-morbidades.

Os dados da PNS também indicam que os brasileiros com menor renda declaram ter condições de saúde piores. Segundo a pesquisa do IBGE, em 2013, entre os 20% mais 10,9% avaliavam a própria saúde como regular, ruim ou muito ruim e não haviam consultado um médico no último ano. Entre os 20% mais ricos, o percentual que fez as mesmas declarações sobre a própria saúde ficou em apenas 2,2%.

Com relação ao acesso a serviços de saúde, 94,9% entre os 20% mais pobres declararam não ter plano de saúde, ante 35,7% entre os 20% mais ricos. Além disso, o número disponível de leitos de Unidade de Tratamento Intensiva (UTI) é de 1,04 leito para 10 mil habitantes no SUS, quase cinco vezes menos que os 4,84 leitos da rede privada.

A partir dessas informações, as pesquisadoras concluem que outros fatores além da idade devem ser levados em consideração ao definir políticas para lidar com a pandemia.

“Não basta, portanto, dedicar esforços maiores para evitar a contaminação de idosos: para evitar o colapso do sistema de saúde e a progressão acelerada do número de óbitos, as medidas desenhadas também devem destinar-se a proteger os mais pobres, seja por meio de políticas de preservação da renda que permitam o isolamento social, seja pela ampliação do número de leitos disponíveis no SUS”, recomendam.

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