Cidade mais indígena do país, São Gabriel está ameaçada pela covid-19

Diante do risco de calamidade, mulheres indígenas lançam campanha para evitar o alastramento da doença pelo município amazonense

(Foto: Anna Amélia Handam/ISA)

Após o registro dos primeiros casos de coronavírus na cidade de São Gabriel da Cachoeiras, localizada a Noroeste do Amazonas, o Departamento de Mulheres Indígenas da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) lançou a campanha “Rio Negro, Nós Cuidamos!”.

O principal objetivo da ação é evitar que os indígenas de diversas comunidades se desloquem para a cidade, onde foram registrados 16 casos e uma morte pelo coronavírus.

A Foirn quer recursos para comprar produtos de limpeza, ferramentas agrícolas, combustível, kits de pesca e alimentos não perecíveis, além da ampliação de serviços de comunicação fundamentais via radiofonia, carros de som e informes de áudio.

“Estamos apoiando nossos parentes a ficarem em suas comunidades e não virem para a cidade, onde o vírus já está circulando. Sabemos que o nosso único jeito de sobreviver a essa pandemia é fazendo o isolamento social”, reforçou Elizângela Silva, do povo Baré, liderança feminina da Foirn.

90% da população é indígena

Considerada a cidade mais indígena do país, São Gabriel pode sofrer uma calamidade caso a pandemia se alastre pelo município, pois aproximadamente 90% dos 44 mil habitantes são indígenas

Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), trata-se de um povo “considerado mais suscetível a doenças infecciosas e já está exposto a altas incidências de outras morbidades, como malária e dengue, além das dificuldades de acesso aos limitados serviços de saúde.”

De acordo com ISA, outro agravante é que a estrutura hospitalar no município não consegue atender a uma grande demanda de pacientes.

Entrevistado por Ana Amélia Handam e Juliana Radler, do ISA, o secretário municipal de Saúde, Fábio Sampaio, lembrou que a cidade possui apenas o Hospital de Guarnição do Exército (HGU), com 59 leitos e sete respiradores, não contando com Centro de Terapia Intensiva (CTI).

“Nosso medo é esse. Temos sete respiradores aqui. E se 10 pessoas precisarem? Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), temos 44 mil habitantes, mas acredito que seja muito mais do que isso. Devemos ter mais de 50 mil pessoas no município”, afirmou.

Para Marivelton Barroso Baré, presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), é preciso reforçar as medidas de isolamento social: indígenas que vivem nos territórios não devem ir à cidade, a não ser em casos de extrema urgência.

“Estamos fazendo um grande esforço de comunicação, usando todos os meios, principalmente a radiofonia, para manter nossos parentes avisados dos riscos que o coronavírus traz à sobrevivência dos povos indígenas”, ressaltou Marivelton.

Segundo ele, várias comunidades já estão tomando medidas de prevenção e proibiram que pessoas de fora circulem ou pernoitem, a não ser agentes de saúde.

Em São Gabriel, a Vigilância Epidemiológica investiga como aconteceu a contaminação. Mas há indícios de que o contágio já é comunitário, o que dificulta muito o controle da transmissão.

Campanha “Rio Negro, Nós Cuidamos!”.

Para apoiar é fácil! Basta acessar o site https://noscuidamos.foirn.org.br/ e fazer a doação via cartão de crédito, PayPal ou depósito direto na conta do Fundo Foirn.

Com informações do ISA

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