Felipe Neto e o novo mundo
O Roda Viva trouxe um entertainment do novo mundo para o centro do programa.
Publicado 19/05/2020 17:51 | Editado 19/05/2020 17:53
O Roda Viva trouxe para o centro da roda o influenciador digital Felipe Neto. A transformação promovida pela equipe de Vera Magalhães teve seu ápice na noite desta segunda-feira (18). O programa pareceu finalmente estar conectado ao mundo digital. A primeira sinalização clara foi a presença do biólogo Átila, semanas atrás, em detrimento a nomes com maior staff para falar da pandemia. Nesta noite, a Roda foi mais ousada: trouxe um entertainment do novo mundo para o centro do programa.
Felipe Neto ainda soa jovem. É um mérito para quem está há tantos anos em destaque num universo digital cuja velocidade é lei (e talvez a única). Seu tom permanece juvenil e à prova de balas. Qualquer intempestividade logo é sucedida de uma desculpa alicerçada na sua juventude, a velha amiga que o influenciador mantém perto o suficiente para calcar seus antigos deslizes, penitenciando-se de forma quase beata. Apelar ao perdão cristão sempre é eficaz. Ainda mais quando se corrobora com “muitas leituras transformadoras”, mesmo que não se saiba – como não se soube – citar nenhuma delas.
Há um tom propositalmente inocente no que Felipe fala. Até sua falta de graça parece simpática e cuidadosamente pensada. Quando diz que Bolsonaro é “fascista” e que Dilma sofrera um “golpe”, soa quase estudantil. Ao contrário de suas opiniões sobre comunicação, verdadeiramente pós-graduadas. Falas como “A CNN não pode dar voz para todos os discursos” ou “o paypall dos jornais, do jeito que é feito, ajuda as fake news” foram devidamente embasadas e demonstraram rara substância sobre o tema.
O comunicador dá aula quando é perguntado sobre seus negócios e assuntos correlatos. O preparo excessivo soa efusivamente treinado e pouco natural. Contudo, Felipe não pode ser acusado de deixar perguntas sem resposta. Se desassociou de polêmicas sobre conteúdo infantil e problemas empresariais e saiu muito maior do que entrou. Soube se posicionar de acordo com os algoritmos, que lhe deram o primeiro lugar no Twitter durante todo o dia. Cada fala era repercutida como a de um grande líder. Um quase-político dos novos tempos.
Felipe tratou do dilema do Whatsapp, “É a rede mais perigosa, pois é a única privada”, criticou a comunicação de Lula, “Perdeu uma grande oportunidade de se colocar depois da cadeia”, atacou a meritocracia, “Impossível em qualquer condição de desigualdade”, e ainda teve tempo de dizer que sua opinião política era “entre Ciro e Amoedo”.
O enfant terrible da internet teve seu dia de consagração. É um comunicador extremamente habilidoso e está caminhando para ampliar sua gama – já enorme – de seguidores. Felipe Neto não desliza, mesmo que sempre pareça claudicante. Representa a juventude de classe média das grandes metrópoles, para o bem e para o mal. Toda a superficialidade será perdoada, ainda mais se alicerçada na juventude, esta velha amiga.
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Fonte: Portal Disparada