Cientistas alertam para risco de novo colapso no AM devido à pandemia

Grupo de cientistas divulga estudo que aponta a existência de 85 mil pessoas infectadas em Manaus que estão no campo das subnotificações

Vala comum aberta no cemitério de Manaus (Foto: Michael Dantas/AFP)

Por recomendação do Ministério Público do Amazonas (MP-AM), nove cientistas elaboraram nota técnica sobre o coronavírus (covid-19) no estado. Como resultado do estudo, apontam que, sem isolamento “rigoroso” em Manaus, o sistema de saúde pode sofrer novo colapso, pior do que o de abril.

Os cientistas são de universidades e instituições brasileiras e de outros países. O estudo resultou em documento de 13 páginas, divulgado nesta quinta (28).

Coincidentemente, nesse dia o Amazonas registrou 2.638 novos casos da doença em 24 horas, o recorde do estado durante a epidemia. Dessa maneira, o vírus atingiu até ontem 36.146 pessoas, pelos números oficiais.

Segundo o estudo, apesar de recente queda no número de sepultamentos e maior oferta de leitos em Manaus, a situação continua “extremamente crítica”.

Por meio de modelo matemático, os pesquisadores alertam que qualquer afrouxamento de medidas de distanciamento e isolamento, agora e nas próximas quatro semanas, pode levar a novo caos na saúde.

De acordo eles, o modelo usado foi o compartimental Seir, metodologia amplamente aplicada para projetar universo de infectados pelo vírus.

É a partir de dados de óbitos por causas respiratórias dos cartórios de registro civil e de mobilidade urbana, portanto, que o estudo emitiu o alerta. No caso da mobilidade, os pesquisadores usaram a geolocalização de celulares do “Covid-19 Community Mobility Report”.

Elevada subnotificação

Como resultado do estudo, os cientistas estimam que só em Manaus há 85 mil pessoas infectadas, mas são casos subnotificados. Ou seja, um índice considerado muito elevado que não aparece nos registros oficiais.

“Nossos resultados indicam que entre dez e quinze por cento da população de Manaus contraíram o Sars-Cov-2, o que contrapõe pseudo-estudos que indicariam que a população estaria adquirindo imunidade de rebanho”, diz trecho da nota.

De acordo com o documento, em 17 de abril já houve alerta para a necessidade de isolamento rigoroso. Nessa data, portanto, o Amazonas alcançava 1.809 casos e 145 mortes. E por isso, os cientistas publicaram artigo na revista Science para chamar atenção para o isolamento social na capital.

Essa revista é uma das mais importantes das publicações científicas do mundo,

Além disso, foi indicada a necessidade de interrupção de transporte intermunicipal e interestadual (rodoviário, aéreo e fluvial). O objetivo, conforme os cientistas, era impedir alastramento do vírus ao interior do estado.

Conforme os pesquisadores, nenhuma das duas medidas foram adotadas e desde lá, até 22 de maio, os casos confirmados aumentaram 1.494% (27.038). Além disso, houve explosão de 1.151% no número de mortes (1.669).

“A adoção de medidas para o controle da pandemia em Manaus, como o isolamento social, é especialmente importante, uma vez que a cidade abrange a maioria das UTI do estado. Dessa forma, o colapso do sistema de saúde na capital representaria o colapso do sistema de todo o estado, afetando os demais municípios.”

Informações equivocadas

Por conta de alta divulgação na mídia e redes sociais de que a pandemia está “passando” em Manaus, os pesquisadores recomendam ao MP-AM que avalie medidas jurídicas.

De acordo com eles, a propagação de tais mensagens representa uma ameaça à saúde pública no contexto da atual pandemia. Dessa forma, induz a população a adotar comportamentos deliberados que desrespeitam os protocolos de isolamento e distanciamento social.

Os pesquisadores dizem ainda que isolamento social não deve ser encarado como o causador da crise econômica.

“De fato, a pandemia do covid-19 é a responsável pela crise, o que torna o isolamento necessário. Cidades com um isolamento social mais rigoroso tiveram uma recuperação econômica mais fortalecida, comparadas a cidades que negligenciaram estas medidas no passado”.

Os autores do estudo declaram não possuir conflitos de interesse, sendo as atividades de pesquisa financiadas exclusivamente com verbas públicas.

Portanto, os recursos proveem da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino de Superior, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam).

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