Acampados em Guarulhos, Colombianos lutam por repatriação humanitária

Sem resposta satisfatória do governo de seu país, mais de 200 colombianos se encontram no aeroporto de Guarulhos aguardando repatriação […]

Sem resposta satisfatória do governo de seu país, mais de 200 colombianos se encontram no aeroporto de Guarulhos aguardando repatriação humanitária.

Desde o início do mês de maio, colombianos começaram a ocupar os saguões do aeroporto de Guarulhos reivindicando repatriação humanitária ao governo de seu país de origem. Em virtude da crise desencadeada pela pandemia do novo coronavírus, a entrada no país vizinho tem sido restrita, voos comerciais são limitados e cobram cerca de 400 dólares por passageiro. O grupo, que hoje reúne cerca de 230 pessoas é formado por alguns turistas e estudantes sem possibilidade de voltar para casa, mas, sobretudo, por uma maioria de famílias que dependiam de renda informal no Brasil e que, em virtude da crise, perderam seus sustentos. Os acampados alegam não possuir condições de arcar com o alto custo cobrado, tampouco de permanecer no Brasil nas condições atuais.

A situação é delicada por questões diplomáticas que devem ser tratadas com certa cautela. Uma reunião coordenada pelo Ministério Público junto à Embaixada da Colômbia no Brasil, ao Consulado da Colômbia em São Paulo e à representantes do Ministério das Relações Exteriores, da Prefeitura de Guarulhos, da Delegacia Especializada de Polícia Federal do aeroporto e da GRU Airport – empresa responsável pela concessão do aeroporto – , foi realizada na quarta-feira (27) com objetivo de resolver o impasse, no entanto, não houve, por parte dos órgãos colombianos, uma resposta positiva para que a repatriação humanitária aconteça de forma gratuita para os acampados.

Por sua vez, entendendo os limites de sua atuação, a Prefeitura de Guarulhos busca auxiliar os acampados. A Secretaria de Saúde do município realizou uma ação na quarta e na quinta-feira (28 e 29) com enfermeiros e médicos fluentes em espanhol para avaliar condições clínicas, realizar procedimentos de enfermagem e dar orientações sobre prevenção de contágio ao coronavírus. Além disso, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social (SDAS) tem acompanhado a situação e feito doações regularmente para alimentação e materiais de sáude e higiene, como máscaras e álcool em gel.

A situação tem gerado uma grande onda de solidariedade. Cidadãos brasileiros e colombianos, grupos organizados e coletivos realizam doações para tornar esse momento mais brando para essas famílias. Os acampados relatam que a ajuda dessas pessoas tem sido fundamental para garantir a alimentação e necessidades básicas. “Temos tido ajuda de alimentação, dadas tanto por estabelecimentos do aeroporto que nos dão comida preparada, assim como de pessoas que nos trazem alimentos, fraldas e leite, por exemplo” relata Mônica Ramirez que está acampada no aeroporto.

Dentre os apoiadores, se encontra um grupo de colombianos residentes em São Paulo que se juntou para fazer arrecadações. Ileana Jaramillo, uma das organizadoras desse grupo, relata que a situação a sensibilizou especialmente pela forte presença de crianças no local. Além das arrecadações, o grupo contatou o Consulado da Colômbia para contribuir com as negociações. De acordo com Ileana, foram informados que não haveria possibilidade de uma repatriação humanitária gratuita, em virtude de legislação vigente no país vizinho. Diante disso, os colombianos residentes começaram a organizar uma vaquinha para auxiliar no retorno de seus compatriotas. Na quarta-feira passada (27) o Consulado da Colômbia em São Paulo os contactou para informar que um voo programado para o dia 4 de junho receberia 30 dos acampados em situação de maior vulnerabilidade por um preço abaixo do cobrado (200 dólares). O consulado delegou ao grupo que filtrasse quem seriam as pessoas beneficiadas por tais vagas. De acordo com Ileana serão 5 núcleos familiares que possuem como membros crianças pequenas, idosos e/ou pessoas com problemas de saúde.

Possibilidades e pressão Política

Hoje, apenas duas possibilidades se colocam para a resolução da questão. Ou alguma empresa se solidariza e patrocina a volta dos colombianos ou o governo do país vizinho se movimenta para atender a reivindicação.

Na sexta-feira (29), os acampados lançaram vídeo nas redes sociais onde reivindicam resposta do presidente colombiano para a resolução definitiva do problema. ONGs, movimentos sociais e associações políticas do Brasil, da Colômbia e de ação internacional, buscam alternativas para agilizar o processo e cobrar que o governo colombiano dê respaldo a reivindicação dos acampados por repatriação humanitária gratuita.

De Guarulhos
Por Sábatha Fernandes – mestranda no Programa de Pós-graduação em Integração da América Latina – PROLAM/USP

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