A memorável missa de dom Pedro Casaldáliga

Perseguido e ameaçado, várias vezes foi acusado de comunista, inclusive por alguns dos seus pares da Igreja Católica.

Arte e ato religioso se combinaram para denunciar as consequências da escravidão e do preconceito no Brasil. A Missa dos Quilombos, atitude revolucionária de membros da Igreja Católica, foi uma combinação de fé, comunhão, música e ritmo.

Criação de dom Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra, com música de Milton Nascimento, a Missa dos Quilombos expôs o que representa a escravidão e sua herança no Brasil. Um documentário da TV Senado relata a importância histórica da obra. A equipe da emissora viajou para São Félix do Araguaia, Rio de Janeiro e Belo Horizonte para colher depoimentos exclusivos dos três autores e outros personagens.

A Missa foi inicialmente celebrada na cidade de Recife, em 20 de novembro de 1981, para um público de 8 mil pessoas e se transformou em peça de teatro, dirigida por Luiz Fernando Lobo. O documentário mostra depoimentos do bispo dom José Maria Pires, que conduziu a cerimônia em Recife; do diretor teatral Luiz Fernando Lobo, que dirigiu o espetáculo homônimo encenado pela Cia. Ensaio Aberto; do compositor Fernando Brant; do percussionista Robertinho Silva e de todos os músicos, artistas e produtores envolvidos na história.

Além do depoimento emocionado de Milton Nascimento, dom Pedro Casaldáliga fala sobre o sentido revolucionária da Missa. Com direção de Liloye Boubli e produção de Cláudia Rangel, o documentário estreou em novembro de 2006, mês em que a Missa completou 25 anos desde a sua celebração em Recife.

Segundo dom Pedro Casaldáliga, o objetivo da Missa foi uma retratação aos povos negros, herdeiros dos escravos. “Para escândalo de muitos fariseus e para alívio de muitos arrependidos, a Missa dos Quilombos confessa, diante de Deus e da história, esta máxima culpa cristã”, disse ele. “Mas um dia, uma noite, surgiram os quilombos, e entre todos eles, o Sinaí Negro de Palmares, e nasceu, de Palmares, o Moisés Negro, Zumbi”, afirmou.

Assim pensou o bispo do povo. E por isso foi perseguido e ameaçado, várias vezes acusado de comunista, inclusive por alguns dos seus pares da Igreja Católica. Mas também foi reconhecido por sua contribuição às causas do povo. Com sua sensatez e serenidade, estava sempre presente nos debates sobre as demandas populares. Inclusive fora do Brasil, como no encerramento do diálogo juvenil e estudantil da América Latina e do Caribe sobre a dívida externa, realizada em Cuba no ano de 1985. Com sua pausada voz característica, ele ocupou a tribuna e conclamou os jovens ao sagrado exercício da rebeldia.

Em 2004, foi um dos organizadores da Agenda Latino-americana, lançada no Parlamento Latino Americano – composto por 22 países – com dados, análises e propostas para o combate a “uma nova fase do império”.   

Quando começaram as denúncias golpistas contra o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dom Pedro Casaldáliga também se apresentou ao debate. Em artigo publicado no Jornal do Brasil, fez críticas ao governo e ao Partido dos Trabalhadores (PT), mas enfatizou que “os grandes meios de comunicação e os grandes do dinheiro se refocilam com essa situação”. “A corrupção vem de longe e antes era maior e era a corrupção deles”, resumiu.

Jornal do Brasil reporta Missa dos Quilombos no Rio de Janeiro
Artigo publicado no Jornal do Brasil
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