Conheça humoristas cubanos que Marcelo Tas ignora

O apresentador brasileiro Marcelo Tas emparedou seu colega Marcelo Adnet, durante entrevista no Roda Viva, desta segunda (17), perguntando como ele poderia ser um comediante de esquerda se em países comunistas, como Cuba, humoristas são proibidos.

Humoristas cubanos que fazem o povo rir e refletir com inteligência e sagacidade.

Cuba é um país com uma longa tradição de humoristas, justamente pela sua característica de rir de tudo, inclusive da própria situação. Um cubano sempre vem acompanhado de senso de humor, mas há quem literalmente se dedique a gerar sorrisos.

Os humoristas cubanos são queridos na televisão do país e se tornaram ícones para seu povo. Alguns construíram personagens que revelam a alma cubana, modesta e solidária, alegre e lutadora. Senso de humor é um claro sinal de inteligência, e há poucos povos mais educados e inteligentes que o cubano.

Apesar disso, o apresentador brasileiro Marcelo Tas emparedou seu colega Marcelo Adnet, durante entrevista no Roda Viva, desta segunda (17), perguntando como ele poderia ser um comediante de esquerda se em países comunistas como Cuba e China humoristas são proibidos. Disse isso, insinuando que, nestes países, o Partido controla a produção de humor e a alegria do povo, sem lembrar que, ele mesmo, como Ernesto Varela, foi a Cuba e fez críticas ao regime em público, ouvindo de tudo nas ruas.

Depois, já em dúvida, pediu para indicarem humoristas cubanos, enfatizando “que façam críticas ao regime”. Novamente, esquece que Gustavo Mendes, que imita a ex-presidenta Dilma Rousseff, criticou o presidente Bolsonaro e teve que responder judicialmente por isso. Ou vários outros humoristas que são condenados como Rafinha Bastos e Danilo Gentili por extrapolarem os limites do humor. Outros sofrem linchamento virtual e até assédio público.

Em Cuba também se faz comédia… E o país está cheio de comediantes que também cresceram na TV, no stand-up ou até nas redes sociais. Há comediantes amadores youtubers, como no Brasil, e até comediantes de humor menos elaborado, ou baixaria mesmo, destes que se vê no Programa Sílvio Santos, pra todos os gostos. Abaixo uma lista de apenas alguns poucos:

Cubanos e queridos até em Miami

Luis Daniel Silva (Pánfilo)

Pois os comediantes da televisão cubana são queridos até em Miami, como revela o site Te Amo Cuba, que critica sistematicamente o regime socialista da Ilha.

Luis Silva é o comediante, ator e apresentador, criador do querido personagem de Pánfilo, que atua no programa humorístico “Vivir del Cuento”, o mais popular da televisão cubana há alguns anos. A revista americana chega a dizer que ele faz críticas sutis ao regime em plena televisão estatal. “Muitos têm vindo a classificar esta comédia como o verdadeiro telejornal nacional, visto que revela e questiona, por vezes de forma sutil, a realidade da Ilha, sujeita a reformas e mudanças que ainda não satisfazem o cidadão comum”, dizem os cubanos de Miami numa clara demonstração da liberdade de expressão em vigor no país socialista.

Ele ficou internacionalmente conhecido, em 2016, depois que jogou dominó e entrevistou o presidente Barack Obama em seu programa, numa visita histórica. Nenhum presidente americano tinha visita o país desde a revolução. Silva começou fazendo monólogos e ganhou notoriedade com seu personagem como Pánfilo Epifanio, um velho apegado ao livro de suprimentos e estrela uma distribuição de batatas.

Ele trabalhou como professor de Bases de dados e Lógica, mas teve que fazer uma “pausa” no ensino. Uma máxima em sua obra é “não subestime o público e sempre o considere inteligente”.

O personagem Pánfilo estreou em 2000. Para concebê-lo, Luís observou vários velhinhos nos botecos e bancas de jornais. O programa Viver do Conto surgiu em 2008 e continua a ser exibido às segundas-feiras, às 20h30, na Cubavisión. Ele está no topo da audiência da televisão cubana com 70% e 80% de audiência, um recorde muito alto no mundo.

Trabalha em boates e nas horas vagas também joga beisebol e softball. O Vivir del Cuento está disponível nas redes sociais da Internet, principalmente no YouTube, a fonte de acesso para cubanos de Miami (e do exterior).

Aurora Basnuevo: “Que gente, senhor, mas que gente!”

Aurorita, como muitos a conhecem, conquistou o respeito e o carinho do público com sua espetacular Estelvina do programa de rádio Alegrías de sobremesa, que a cada edição deliciava o povo cubano com “que vida mais saudável, que ar puro”.

Ela sempre se impregnou de sua malícia e forma particular de interpretar cada personagem. De San Nicolás del Peladero passou a ser uma das referências femininas do humor, daquelas que te fazem exclamar: “Que gente, senhor, mas que gente!”

Ela tem o dom da improvisação, o que pode ser visto em algumas de suas contribuições para os roteiros. Aprendeu em uma parte importante de sua carreira, no teatro Martí, como atriz de teatro bufo. Lá seus triunfos fizeram dela a única sucessora do vernáculo cubano e no Prêmio Nacional de Humor de 2004, a primeira mulher a obter um prêmio tão precioso.

Alexis Valdés (Cristinito)

Ator, diretor, humorista, roteirista, monologuista, produtor, compositor e intérprete, tudo, como vemos. Teve vários programas televisivos exitosos em Cuba, na Espanha e Estados Unidos, onde reside atualmente.

Cristinito é o cubano universal conhecido como “O Chaplin Hispânico”, que fez rir a América e a Europa com uma premissa muito certa: “tudo o que hoje é drama, amanhã é comédia”.

Todos concordam que o comediante cubano Alexis Valdés começou a ficar famoso em seu país após o sucesso do personagem “Bandurria” na série “Os pequenos fugitivos”, que foi transmitida em rede nacional.

Bandurria foi, segundo o próprio Valdés, um vagabundo “tragicômico” que bem poderia inspirar o ator a conceber outras histórias em sua fecunda carreira de roteirista, escritor, compositor, performer, diretor e showman de televisão.

Na escola, ele atuava, mas quase tudo era uma imitação de seu pai Leonel Valdés, que não queria que ele fosse ator devido às dificuldades da carreira.

Carmen Ruiz: “Minha chinesa: Teresita Prieto!”

A sua forma peculiar de falar – arrastando o r – e a espontaneidade desta personagem da cultura popular fizeram com que Carmen Ruiz, que tinha começado como dançarina, se posicionasse entre as figuras emblemáticas do humor cubano.

Além das apresentações no teatro Carlos Marx da capital cubana, a permanência de sua criação humorística em programas estelares da televisão nacional como o Sabadazo. Aquela que “se regava como uma mangueira” ou “encarnava uma transmissão espiritual” tinha a capacidade de fazer rir, sim “minha chinesa: Teresita Prieto!”

Osvaldo Doimeadios (Margot)

Ator e humorista. Poucos sabem que ele é graduado em atuação no Instituto Superior de Arte de Havana. Fez parte do famoso e popular programa de televisão Sabadazo e, desde então, tem uma exitosa carreira no teatro e na TV.

Trabalhou em importantes longas e curtas metragens da filmografia cubana, bem como em uma grande variedade de programas de televisão relevantes. No palco do teatro, atuou em um grande número de obras com diferentes grupos e diretores de teatro.

Natalia Herrera: “Xangô com conhecimento e Iemanjá no puja”

Iniciada formalmente no Supremo Tribunal de Arte, Natalia Herrera foi uma daquelas artistas que se interessou naturalmente pelo humor. Essa talentosa cubana usou seu humor não só em representações abertamente humorísticas, mas também as estendeu a boa parte de seus personagens. Ah, e não posso esquecer o talento que ela tinha para a comédia musical porque ainda consegue “dar Xangô com conhecimento e Iemanjá no puja”.

Carlos Gonzalvo

O ator de comédias, de 50 anos, tornou-se famoso com um personagem chamado professor Mentepollo, que poderia muito bem estar em programas como “A Praça É Nossa” e “Escolinha do Professor Raimundo”.

“Deixa-me dizer-lhe”, um espaço do humor, foi o que marcou uma viragem na sua carreira profissional e deu-lhe o espaço que ocupa atualmente no panorama do humor cubano. Seu personagem como Professor Mentepollo faz parte da galeria dos tipos de humor cubanos.

Aleanys Jáuregui: “A cultura não tem hora fixa”

Cuquita la Mora, foi uma daquelas personagens engraçadas que veio para ficar na memória cubana. A partir dessa interpretação Aleanys Jáuregui foi configurando outros personagens que dão vida à ocorrência e loquacidade da mulher cubana no cotidiano.

E como “a cultura não tem tempo fixo”, sempre temos um momento para curtir suas paródias e piadas que fazem da realidade social uma piada que vale a pena viver.

Há vários anos é apresentado semanalmente em teatros, cinemas, cabaré e espaços recreativos como os centros culturais Artex e Palmares, com o espetáculo solo “Cuqui contra el Machismo”, que também foi apresentado no Panamá, Venezuela e Estados Unidos. No momento faz parte de um espetáculo do Centro Promotor del Humor conformado por mulheres “Casting en 4”.

Robertico Riverón, el Comediante

O humorista de 50 anos, que na verdade se chama Roberto Riverón, fez sua carreira no stand-up, com shows em outros países da América Latina, na Europa e até nos Estados Unidos. Hoje, ele tem quase 250 mil seguidores no Instagram e acumula mais de 14 milhões de visualizações no YouTube.

Distingue-se pela improvisação e agilidade mental que evidenciam vivências cotidianas, familiares, trabalhistas e sexuais. Já trabalhou em teatro, rádio, cinema, televisão e cabaré. Ele levou o humor cubano a mais de 15 países. Entre 1994 e 2001, junto com seu colega Carlucho, formou a dupla Los Bufomaníacos, rompendo com todos os esquemas humorísticos que existiam no país até então.

Seu estilo stand up se popularizou em Cuba com vídeos distribuídos em mídias digitais portáteis. Já trabalhou em teatro, rádio, cinema, televisão e cabaré. É membro da UNEAC, organização de escritores e artistas cubanos.

Embora seja considerado pelos colegas um ator igualmente importante no âmbito dramático, Robertico não vacilou por um momento em sua inclinação para a comédia.

O sucesso de Robertico não se limita apenas à sua carreira artística, ele também é um empresário de sucesso. Ele dirige seu próprio clube na cidade de Havana, onde também se apresenta com frequência, quando está no país. O 3D Café, como é chamado o famoso local, é sem dúvida um dos clubes mais prestigiados da capital.

Yasnai Ricardo: “Tuniño me diga o 1”

Quem pode esquecer aquela frase do peculiar exame dos anjinhos, quando em seu personagem Yasnai Ricardo pedia a resposta ao colega. Integrante do grupo Komotú, a comediante cubana se destaca pelo tom de voz, pelo carisma e pela capacidade de ir do sarcasmo à ironia com um histrionismo invejável para qualquer dramatizado.

Membro do Centro de Promoção do Humor e da União de Escritores e Artistas de Cuba (UNEAC), é uma das poucas atrizes totalmente dedicadas ao humor em Cuba.

Alejandro García Villalón (Virulo)

Também da velha guarda, o comediante e cantor de 65 anos lançou uma música sobre a crise do coronavírus em que critica o presidente americano Donald Trump, comparando-o a um morcego.

É músico e faz parte do movimento musical conhecido como Nova Trova Cubana, ao lado de Pablo Milanés e Noel Nicola, além de compor trilhas de filmes. Afirmou que “ou o humor não distrai: concentra; ou o humor não aceita: questiona; e, por fim, não gratifica: inocula ou envenena dá dúvida”.

Em 1981, formou-se arquiteto na CUJAE. Em 1989, criou e dirigiu o “Centro Nacional para a Promoção do Humor” e organizou dois festivais internacionais de humor. Em 1990, o Ministério da Cultura de Cuba lhe outorgou a ordem Rubén Martínez Villena por seu apoio ao desenvolvimento do humor.

Ángel García (Antolín el pichón)

Para o povo cubano, Ángel é “Antolín el pichón”, como o batizou o radialista cubano Alberto Luberta. Seu personagem tem presença sistemática no programa “Palmas y Cañas” da televisão cubana e em muitos outros como convidado.

A grande cidade de Havana separa Ángel García de Los Píos de Alberto Luberta, outro grande comediante que todos lembram por seus roteiros humorísticos à noite na Rádio Progreso, e dá vida ao camponês que todos conhecem como Antolín el pichón.

Começou sua aventura na capital e aos poucos foi se dirigindo ao meio mais popular de Cuba, a televisão. Lá ele divide o palco com grandes comediantes cubanos e Antolín se confunde com La Pía, e La Pía com Antolín. Noites de riso no programa “Sabadazo” serão lembradas por muitos cubanos, Carlos Otero, Boncó Quiñongo, Geonel Martín, Antolín entre outros formaram o elenco que uniu muitos bons comediantes .

Ele também participou de Palmas y Cañas e “não quero chorar” e se aventurou, com sucesso e boa recepção, na música e no canto.

“Antolín sai de Manacas, dessa zona do centro do país, são muitos antolines, muitos, para encher 10 caminhões; em Cuba há muitos antolines com toda essa onda que ele tem … Quando há muito tempo não vou a Manacas, um pouco que me perco”, disse o autor sobre o personagem.

Omar Franco

Comediante e ator dramático, com ampla atuação no cinema cubano. Faz parte do elenco de “Vivir del cuento” e participa de outros programas de televisão. É membro da junta artística do Centro Promotor do Humor.

Omar é um dos melhores intérpretes do humor inteligente que hoje se vive em Cuba por sua forma inconfundível de agir. Seu carismático personagem no programa de televisão “Não quero chorar” catapultou-o para a popularidade entre os seguidores do humor contemporâneo.

Trabalhou no espaço humorístico Vivir del Cuento, desdobrado em um malandro de asfalto que viola a ingenuidade de Pánfilo, sob os códigos urbanos que este ator conhece muito bem e junto com Antolín nas noites de verão de domingo.

Foi convidado pelo prestigioso comediante Virulo, e na companhia da atriz Natalia Herrera y Churrisco, a Baja California, no México, para homenagear o escritor Cástor Vispo, criador da Tremenda Corte, espaço radiofônico humorístico que foi lançado na Cuba de Los Anos 50 do século passado.

Limay Blanco

Comediante especializado em contos, ganhou fama ao participar do programa de televisão “Los Amigos de Pepito”, concurso de brincadeiras.

Quando chegou a hora de começar a trabalhar, para Limay, isso ficou muito complicado porque tudo que ele gostava de fazer era contar histórias, mas eles sempre diziam que não dava para viver da história. Por isso ele teve diferentes empregos, alguns o deixavam, outros o expulsavam por passar mais tempo contando histórias do que trabalhando.

Um dia Limay estava fazendo contos na rua e lá Ismel Gonzáles o descobriu. Logo, Los Amigos de Pepito, um concurso da televisão cubana para os melhores contadores de histórias, apareceria. Limay a princípio não quis aparecer, mas sua família e amigos o encorajaram e o convenceram a fazê-lo. Assim, com muitas dúvidas sobre se o conseguiria, apresentou-se e venceu todas as fases do concurso: trimestral, semestral e anual, superando todas as expectativas que até ele próprio tinha.

Juan dos Mortos

Neste filme de humor, vencedor do Prêmio Goya de Melhor Filme Ibero-Americano em 2013, Havana é infectada por uma multidão de zumbis famintos. A população, claro, imagina que a maldição é culpa dos Estados Unidos – até os personagens perceberem que o regime da ilha tem muita culpa no caso. Sim, o filme de Alejandro Brugués (bastante elogiado inclusive pela crítica brasileira) faz uma crítica dura ao governo cubano (repare na foto de Che Guevara modificada no vídeo abaixo) e não foi censurado.

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2 comentários para "Conheça humoristas cubanos que Marcelo Tas ignora"

  1. Raimundo oliveira disse:

    Só me fala uma coisa,eles tiram sarro do Regime ou do regime ou dos governantes.

  2. Celos disse:

    Ah, pelo amor de Deus, vamos com esse mimi de cada dia, chega! É hora de parar com essa baboseira de com peninha. Como que um site desses publica um texto desse tamanho que dá até canseira na gente pra falar dos pobres coitados dos cubanos. É por isso que país vive fodido, tem sempre gente com esses discursinhos patéticos e cheios de demagogia. Que idiota!

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