Governo ignora desemprego recorde e prepara campanha falaciosa

Mesmo levando-se em conta apenas os empregos formais, saldo do ano deve ser negativo

O Brasil perdeu 171.139 empregos formais (com carteira assinada) nos dez primeiros meses de 2020, conforme o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Apesar do balanço negativo – e da perspectiva de redução do número de posto de trabalho neste final de ano –, o governo Jair Bolsonaro prepara uma campanha falaciosa de rádio e TV. Segundo o UOL, a equipe econômica diz que o País deve terminar o ano sem perdas em termos empregos registrados, embora as estatísticas apontem o inverso.

Vale lembrar que, no conjunto geral das ocupações (formais, autônomos e informais), o mercado de trabalho brasileiro nunca viveu uma crise tão profunda quanto a atual. De acordo com dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada em 27 de novembro, 14,1 milhões de trabalhadores estavam desempregados no terceiro trimestre – um número recorde. A taxa recorde de desocupação, de 14,6%, foi a maior da série histórica do IBGE, iniciada em 2012. Em estados como Bahia, Sergipe e Alagoas, há ao menos 20% de desempregados.

Omitindo esses dados, o ministro bolsonarista da Economia, Paulo Guedes, tem dito publicamente que a economia brasileira está se recuperando depois da maior recessão da sua história. “Reagimos com resiliência e podemos terminar o ano perdendo zero emprego”, declarou Guedes quando os dados do Caged de outubro foram divulgados. Naquele mês, o Brasil abriu 394.989 postos de trabalho com carteira assinada.

De fato, foi o quarto mês seguido de saldo positivo – mas tão-somente quando se trata de empregos com carteira assinada. Além disso, os resultados históricos para os dois últimos meses do ano indicam que o país pode fechar o ano com patamares negativos. Ouvido pelo UOL, um técnico do governo que acompanha os dados do Caged admite a dificuldade de alcançar a meta.

“O resultado de novembro teria de ser suficiente para compensar o saldo negativo acumulado do ano e o do mês de dezembro, quando historicamente há um número elevado de demissões”, diz ele. Segundo esse técnico, “a geração líquida de empregados de novembro teria de ser de ao menos 450 mil vagas, o que nunca aconteceu na história”.

Até hoje, o melhor resultado para um mês de novembro foi o de 2009, “quando 247 mil empregos foram gerados”. Em novembro do ano passado, porém, o Brasil criou apenas 99.232 empregos formais. Já no mês seguinte, foram perdidos 307.311. “Em 2017 e 2018, a perda de empregos em dezembro foi superior a 300 mil. Nos anos anteriores, foi ainda maior”, registra o UOL.

Como a pandemia de Covid-19 está na iminência de uma segunda onda na maior parte do Brasil, qualquer ensaio de recuperação econômica – por mais modesto que seja – fica em xeque. Com um governo de costas para a indústria e sem um projeto realmente audacioso para gerar emprego e renda, tudo indica que a nova campanha publicitária bolsonarista será mais uma peça de seu inventário de fake news.

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