IGP-M acumula alta de 23,14% em 2020 e salário mínimo sobe 5,6%

Índice da FGV reflete maior impacto da inflação sobre o bolso, especialmente dos mais pobres, que gastam parte maior de sua renda com alimentos. Salário mínimo, no entanto, é reajustado pelo índice oficial (IPCA), além de não ter aumento real, acima da inflação.

INPC, IPCA, IPCA-E, IPCA-15, IGP, IGP-10, IGP-DI, IGP-M, IPC-Fipe, IPC-S. São muitos os índices inflacionários, medidos por diferentes instituições, com diferentes metodologias e com distintos objetivos. Mas existe também a sensação de inflação que o consumidor de menor ou maior renda sente no bolso, que não bate com os índices oficiais do governo e seus reajustes do salário mínimo, da aposentadoria e dos benefícios trabalhistas, sempre baseados nos índices de menor impacto.

Se a variação do seu salário, de um ano para o outro, for menor do que esses índices, você perde seu poder de compra, pois os preços sobem mais do que a sua renda. Se a inflação e o seu salário têm a mesma variação, seu poder de compra se mantém. Se você, porém, receber um aumento acima da inflação, seu poder de compra aumentará.

Em ano de pandemia, com alta taxa de desemprego, informalidade e renda emergencial, ficou mais evidente o encarecimento dos produtos e serviço mais utilizados pela população mais pobre, especialmente dos alimentos básicos, enquanto o índice oficial do governo pouco diz ao cidadão que precisa sustentar a família com um salário mínimo de pouco mais de mil reais, valor que não compra nem duas cestas básicas. Vivendo com os R$ 600 iniciais de auxílio emergencial, praticamente o valor da cesta básica, e R$ 300 nos últimos meses, que compram metade dos alimentos da cesta, cada aumento do saco de arroz no supermercado acaba se tornando um problema de segurança alimentar, num momento em que as pessoas estão vulneráveis a uma doença que se agrava principalmente nesta população em risco nutricional.

Com essa diferença enorme entre o cotidiano e a percepção governamental, os índices inflacionários se transformaram no vetor de uma guerra entre analistas econômicos. Os economistas ortodoxos, em sua defesa intransigente de políticas fiscais austeras, enfatizam índices oficiais do governo, enquanto economistas com uma visão mais social observam a discrepância entre índices como o IGP-M e seus mais de 23% de acúmulo no ano (contra acúmulo de 7,30% em 2019), enquanto o IPC-A aponta para um aumento de apenas 5,6% no salário mínimo.

O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) variou 0,96% em dezembro, percentual inferior ao apurado em novembro, quando havia apresentado taxa de 3,28%. Entre janeiro e dezembro de 2020, o índice acumulou alta de 23,14%. Em dezembro de 2019, o índice havia subido 2,09% e acumulava alta de 7,30% em 12 meses.

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medido pelo IBGE, apresentou acúmulo de 4,31% em 12 meses, até novembro de 2020. O resultado fica acima do centro da meta para este ano, que era de 4% com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, medida pelo IPCA. Além disso, a taxa acumulada no ano é a mais alta desde 2016, quando foi de 6,58%, e ficou bem acima do aumento de 3,91% do IPCA-15 verificado em 2019.

O IGP-M é calculado e divulgado mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE) e utilizado amplamente no reajuste de tarifas públicas (energia e telefonia), em contratos de aluguéis e em contratos de prestação de serviços.

O Índice Geral de Preços – Mercado também é utilizado como o indexador de contratos de empresas prestadoras de serviço de diversas categorias, como educação e planos de saúde. Além disso, o IGP-M se popularizou por ser amplamente utilizado como referência para o setor imobiliário, para o reajuste de contratos de aluguel.

Por seu histórico regular de divulgação desde a década de 1940, o IGP-M também é citado em vários contratos público-privados dos mais variados segmentos.

Salário mínimo

O salário mínimo vai subir a R$ 1.100 em 2021, 5,26% acima dos atuais R$ 1.045. A mudança foi anunciada na quarta-feira, 30, pelo presidente Jair Bolsonaro em sua conta no Twitter. Apesar de o valor ter ficado acima do previsto há duas semanas pelo governo, o reajuste repõe supostamente a perda no poder de compra dos brasileiros devido à alta de preços ao longo de 2020. Na prática, assalariados e beneficiários do INSS ficarão pelo segundo ano seguido sem aumento real na remuneração.

Ao atualizar as bases para o Orçamento de 2021, o governo havia informado ao Congresso que o salário mínimo ficaria em R$ 1.088, pois ainda estava com uma projeção menor para a inflação. Com a atualização, as despesas obrigatórias vão crescer em ritmo mais intenso, já que o piso é referência para o pagamento de aposentadorias, pensões e outros benefícios.

Inflação para mais pobres

A recente alta dos preços dos alimentos alavancou a inflação das classes mais pobres do Brasil, configurando 60% do indicador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) por faixa de renda. O professor e especialista em inflação da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, Heron do Carmo, comenta em entrevista à Rádio USP, que os impactos dos altos preços nas vidas das classes mais baixas. Embora a variação da inflação em 12 meses seja de 4,31%, somente os alimentos semielaborados (carnes, frutas, óleo de soja) aumentaram em 27%. As despesas familiares das classes mais pobres têm maior parcela destinada a gastos em alimentação, o que gera um alto impacto no custo de vida. Heron do Carmo também pontua que grande parte do Auxílio Emergencial dado pelo Estado durante a pandemia foi gasto com custos em alimentação.

Segundo o especialista, a situação dos preços dos alimentos só deve voltar à normalidade no fim de 2021. Explica que, como os preços já subiram, há uma tendência de estabilização no pico por um tempo para que, com a evolução da economia e do câmbio, haja uma queda. 

Sobre a inflação em outras áreas da economia, Heron do Carmo aponta que a área de transporte aéreo está em alta, mas não afeta as classes mais pobres. “Se nós calculássemos só a inflação da classe média, ela seria menor que a inflação geral, enquanto a dos mais pobres é muito maior que a geral.” O professor também traz previsões de que a inflação deve continuar a aumentar em novembro, mas começar a apresentar recuos em dezembro.

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