Apoiada por 30 senadores, CPI da Pandemia joga pressão em Pazuello

Parlamentares vão avaliar, primeiro, as explicações de Pazuello, na audiência prevista para esta quinta-feira

A criminosa negligência do governo Jair Bolsonaro diante da pandemia de Covid-19 está no centro de uma disputa no Senado. Pressionado por parlamentares de diferentes partidos, o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), quer aguardar a realização de uma audiência com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, antes de decidir se vai ou não vai instalar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o caso.

O requerimento de apoio à CPI – que tem como objetivo investigar as ações e omissões do governo no enfrentamento à crise sanitária – é apoiado por 30 senadores, de 11 diferentes partidos. O número preocupa o Palácio do Planalto. Nesta terça-feira, o assunto foi discutido durante a reunião de líderes do Senado. Ficou estabelecido que os parlamentares vão avaliar, primeiro, as explicações de Pazuello, na audiência prevista para esta quinta-feira (11), às 15 horas.

O clima na reunião foi de animosidade por conta da morte do senador José Maranhão (MDB-PB), que teve complicações devido à Covid-19. Maranhão é o segundo senador que morre por conta da doença desde o início da pandemia – o primeiro foi Arolde de Oliveira (PSD-RJ).

Na conversa, os senadores chegaram à conclusão de que é preciso pressionar Pazuello por conta da morosidade na vacinação. Os congressistas estão preocupados pelo fato de que, em vários estados, as vacinas já acabaram e o governo não conseguiu fazer a reposição. Em condição de anonimato, um senador fiel ao governo admitiu que, caso Pazuello não dê explicações satisfatórias, o apoio à instalação da CPI pode aumentar.

“Tem países com 80% da população vacinada e nós estamos num ritmo aquém do desejado. Isso coincidiu, infelizmente, com a morte do colega senador. Estão todos muito revoltados” , disse uma fonte. “Se ele (Pazuello) não for bem na audiência, a CPI vai se tornar uma necessidade.”

Durante a reunião, senadores também discutiram a possibilidade de cobrar explicações do presidente da Anvisa. Antônio Barra Torres, mas optaram por deixar isso para um outro momento. A oposição, de todo modo, acredita que Rodrigo Pacheco usará a audiência com o ministro para acalmar os ânimos. “A expectativa velada é de que a oitiva do ministro ajude a tirar assinaturas e inviabilizar a CPI”, disse um parlamentar.

A CPI da pandemia é um primeiro teste para o “governismo” de Pacheco. O senador foi eleito com a ajuda do Planalto e, por isso, alguma bancadas desconfiam que ele vá “retribuir o favor” engavetando o pedido. No último biênio, o ex-presidente Davi Alcolumbre foi acusado por alguns congressistas de barrar CPIs e projetos que contrariavam os interesses do Executivo.

Além de convocar pessoas para depor e ouvir testemunhas, a CPI pode requisitar documentos e determinar diligências, entre outras medidas. O relatório final poderá concluir pela apresentação de projeto de lei e, se for o caso, suas conclusões serão remetidas ao Ministério Público, para que promova a responsabilização civil e criminal dos infratores.

Com informações do Valor Econômico