Mudanças em comissões da Câmara ameaçam meio ambiente

Parlamentares aliados à agenda do Governo Federal irão assumir principais comissões da política ambiental na Câmara; veja esta e outras notícias da semana no Fique Sabendo

Foto: Marizilda Cruppe/Amazonia Real

Em meio ao aumento devastador da pandemia do coronavírus, esta semana foi marcada por mudanças importantes no Congresso que podem ser ameaçadoras para o meio ambiente e os povos da floresta. A Câmara dos Deputados elegeu, nesta quinta-feira (11), os presidentes de dez comissões permanentes para mandato de um ano, entre elas, a de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS), assumida pela deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP), e a Comissão de Minas e Energia (CME), assumida pelo deputado Édio Lopes (PL-RR).

Zambelli é notória pela sua defesa do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e do presidente Jair Bolsonaro. Além de adotar uma posição negacionista em relação a pandemia da Covid-19, que alcançou seu patamar mais trágico nos últimos dias, a parlamentar já acusou organizações não governamentais e comunidades tradicionais de provocarem queimadas, quando indagada sobre o aumento dos incêndios na Amazônia. A deputada também foi arregimentada pela Frente Parlamentar pela Agropecuária (FPA) logo no início do seu mandato, conforme levantamento do De Olho nos Ruralistas. Ela segue a orientação da bancada, como no caso da MP da Grilagem. A deputada bolsonarista também já recebeu doações do empresário bilionário Jorge Feffer, dono da companhia Suzano Papel e Celulose, cuja trajetória é marcada por problemas ambientais e uma relação estreita com o ministro Salles.

O deputado Édio Lopes é conhecido por defender grandes empreendimentos econômicos dentro de Terras Indígenas e foi relator do Projeto de Lei 1.610/1996, que pretende regulamentar a mineração nessas áreas protegidas. O deputado também se posicionou favoravelmente à construção da linha de transmissão de Tucuruí, obra que afeta a Terra Indígena Waimiri Atroari (AM/RR) e a Terra Indígena Piritiri (RR), onde há presença de indígenas isolados cercados pelo garimpo ilegal, pela grilagem e o desmatamento. A disputa sobre o linhão é ainda palco de conflitos entre políticos, de um lado, e o povo kinja e o Ministério Público Federal, de outro, devido a irregularidades a consultas feitas à comunidade.

Segundo levantamento publicado na revista Biologic Conservation, desde o início da gestão federal atual foram assinados 57 atos normativos– entre resoluções, portarias, decretos e instruções normativas –, que enfraqueceram regulamentações ambientais, deixando explícito a máxima de “passar a boiada” como diretriz do governo. Deste total, 49% foram assinados durante os sete primeiros meses da pandemia. Outro estudo, realizado pelo Imaflora, Artigo 19 e o ISA (Instituto Socioambiental), aponta redução da participação da sociedade civil e da transparência na formulação e implementação de políticas públicas voltadas à pauta ambiental. Tais constatações explicitam que está em curso uma estratégia política antidemocrática que se aproveita da morte de centenas de milhares de pessoas para aprovar uma legislação que tolera a devastação ambiental e ignora a vida dos que mais sofrem com a tragédia.

Fonte: Instituto Socioambiental