Em defesa da vida, do desenvolvimento e do trabalho

Antecipar o debate eleitoral de 2022 fragiliza os esforços em torno de uma heterogênea frente de salvação nacional. Miremos no foco que protege a vida do povo brasileiro.

No atual estágio da globalização mundial, os acontecimentos internacionais chegam a condicionar e até interferir sobre os acontecimentos nacionais. Em países como o Brasil – de um desenvolvimento tardio e dependente –, ainda mais.

Portanto, para uma elaboração de uma estratégia nacional mais avançada no País, é indispensável examiná-la e, sobretudo aproximar-se da melhor aferição possível sobre a correlação de forças entre as que a disputam em nível internacional.

A geopolítica antes e no transcurso da pandemia

A transição geopolítica à multipolaridade, marcada pelo relativo e progressivo declínio dos Estados Unidos e a ascensão da China, já era um quadro geopolítico que se delineava há algum tempo, assim como as tensões e os riscos advindos da acirradíssima disputa ideológica, tecnológica, econômica e militar entre esses dois novos polos.

Paralelamente, a crise capitalista se arrasta desde 2008, sem um desfecho. Reafirma-se a prevalência da ultrafinaceirização em detrimento da produção, a sistemática desvalorização do trabalho e a subtração de direitos sociais. Sem perspectivas, as vítimas dessa crise – massas de refugiados, desempregados, desalentados e precarizados – compõem uma tempestade perfeita para as manipulações do neofascismo, que, com o uso intensivo dos meios digitais, ganha força ideológica, social e eleitoral.

O advento da pandemia da Covid-19 acelera todos esses processos, potencializa contradições e desnuda a natureza degradante do capitalismo, sobretudo nos países desprovidos de uma proteção social mínima. Uma tragédia sanitária e social se instala no mundo – e o Brasil é seu novo epicentro.

Contudo, ganham também maior nitidez os sistemas e os modelos que apresentam melhor eficácia ao enfrentamento do novo coronavírus. Os Estados fortes, modelos orientados pelo planejamento estratégico nacional e pela planificação, ganham proeminência. Não à toa, as vacinas e seus insumos provêm, em grande parte, dos Estados Chinês, Indiano e Russo.

Até mesmo os Estados Unidos reeditaram o New Deal, o II, intervindo com a injeção de quase US$ 2 trilhões para enfrentar a emergência sanitária – mas também para reativarem suas cadeias produtivas e se reposicionarem para o pós-pandemia contra a primazia econômica chinesa.

A ciência é a grande vencedora de todos esses embates. Em menos de um ano, foram produzidas vacinas à humanidade. O charlatanismo travestido hoje de terraplanismo foi derrotado.

O Brasil

Sob a desgovernança de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, o Brasil – que já caminhava para mais uma década perdida – deteriora-se ainda mais. A desnacionalização da economia, o desemprego e a precarização do trabalho são consequências das escolhas pretéritas desse governo.

Com uma concepção negacionista e uma condição sociopata, a gestão Bolsonaro nega um necessário plano nacional articulado contra a Covid-19 no País. Reside aí a causa principal de nossa maior tragédia sanitária, que já ceifou 300 mil vidas no Brasil. Além disso, o governo desconsidera a estrutural desigualdade social brasileira e joga milhões de pessoas no desespero, ao cortar o auxílio emergencial em dezembro do ano passado e projetar só agora sua reimplantação – mesmo assim, com um valor vergonhoso. O Brasil está à deriva e em estado de calamidade pública.

Neste quadro devastador, a defesa da vida dos brasileiros e das brasileiras deve estar no comando das ações políticas dos entes governamentais, legislativos, judiciais, partidários, sociais, empresariais e artísticas. É inadiável articulá-los em torno de uma ampla frente de salvação nacional.

Nessa frente já se destacam governadores, prefeitos e o Supremo Tribunal Federal. Mais recentemente, a carta de grandes banqueiros e empresários foi uma insuspeita manifestação de denúncia à inoperância do governo federal. Acuado, o Legislativo – leia-se Centrão – busca se reposicionar para não se contaminar com as posturas do mandrião. Em seu conjunto, é o sentido e a resultante desses movimentos que devemos evidenciar.

Portanto, 2021 é mais um ano com dura travessia pela vida e, como tal, não devemos interditá-lo com outros temas. Antecipar o debate eleitoral de 2022 fragiliza os esforços em torno de uma heterogênea frente de salvação nacional. Miremos no foco que protege a vida do povo brasileiro.

Cuidemo-nos, venceremos!

Fora Bolsonaro!
Vacinação Já!
Auxílio emergencial de RS 600 já!

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Este artigo é baseado na exposição feita pelo autor no Ciclo de Debates do PCdoB-RN, alusiva aos 99 anos do PCdoB e realizada em 22 de março

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