Adeus ao amigo do Arouche

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Ainda mais um adeus, como todos, indesejável. Ainda não sei quantos darei a um camarada nesse longo caminho movido principalmente pela Esperança. Foram tantos companheiros e companheiras de sonho cuja ausência não se mede, mas que trazemos na memória. João e irmãos Canuto, Brás e Ronan, Paulo Fonteles, Videriana, Pororoca, José Dutra, Neuton Miranda, Paulo Fonteles Filho, Jorge Farias, Edivarde Gomes, Haroldo Lima, todos em campo de batalha levantando bem alto a bandeira do Socialismo, a honrosa condição de militante do Partido Comunista do Brasil.

As dores parecem, mas têm diferenças. São diversas as dores que nós todos sentimos por ti, camarada Michel. A dor dos parentes, a dor da namorada, a dor dos amigos e companheiros de luta. E nós, com a nossa profunda dor de camaradas, que não se explica pelo sangue, pelos simples afetos, pela convivência diária. Ela transcende, porque compartilhamos tudo isso e mais, quando nos encontramos na mesma estrada e nos forjamos um só, sendo muitos e diversos.

Até ao partir tu nos ensina, camarada! Que não podemos esquecer o calvário que passaste junto aos quase 400 mil brasileiros e brasileiras mortos pela pandemia. Não, não há fatalidade nessa tragédia em curso. Foram os descasos com a Saúde vista como mercadoria; são os cortes e sucateamento dos serviços públicos; foram os 70 milhões de vacina rejeitados desde o início; é o obscurantismo, o escárnio e todos os atos nefastos contra a vida praticados por um presidente genocida com a conivência dos donos do poder. Um assassino que os neoliberais levaram ao governo central; que deve ser impedido, julgado, condenado e pagar pelos crimes de lesa-pátria.

A luta perde um bravo e determinado soldado; o PCdoB, um destacado e sensível comandante. Um jovem apaixonado pela vida, homem simples e estudioso, preparado para as inúmeras tarefas que assumiu com afinco, desvelo e competência política e técnica. Como militante e dirigente se pautou mais pela construção, juntou mais que dividiu, mesmo em situações adversas e complexas. Sua capacidade, jeito e gesto foram determinantes na difícil tarefa de conduzir o comitê municipal de Belém com suas vitórias.

Estivemos juntos em inúmeras jornadas. Ele, Regina Martins e eu participamos do Curso Nacional Nível 3, em São Paulo, onde nos tornamos “os amigos do Arouche” como nos cumprimentávamos afetuosamente. Sempre dedicado aos estudos e as lutas de ideias, tinha um aguçado senso crítico, distribuindo fraternalmente seu conhecimento em aulas ministradas nos cursos da Escola Neuton Miranda, em suas intervenções políticas profícuas e bem elaboradas.

A última vez que nos vimos e falamos presencialmente, ele, com sua paciência revolucionária, expressou suas preocupações sempre voltadas para o Partido, sua unidade, Estruturação e fortalecimento. Refletindo sobre a resolução de inúmeros problemas para garantir os projetos e metas partidários. Senti que sua vida, seu futuro e perspectivas estavam cada vez Mais entrelaçadas e dedicadas à vida do PCdoB. O que aumentou em mim o orgulho de ser seu camarada.

Michel Sodré foi muito cedo. Injustamente!

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