Disputa acirrada e grande número de indecisos marca eleição no Peru

A instabilidade política tem sido uma marca no cenário político do pais andino.

As atividades de campanha no Peru encerraram nesta quinta-feira (8). No próximo domingo (11), o país deverá renovar o Congresso, elegendo 130 deputados, presidente, dois vices e cinco representantes do parlamento andino. As últimas pesquisas de opinião apontavam empate técnico entre cinco, do total de 18 candidatos à presidência.

Para tentar convencer o eleitorado indeciso, que representa cerca de 28% dos votantes, os candidatos apostam nos seus principais colégios eleitorais nos atos de encerramento de campanha. Se nenhum candidato obtiver mais de 50% dos votos, o segundo turno será realizado no dia 6 de junho.

A partir de sábado deixarão de ser veiculadas as propagandas por rádio e televisão, e também começar a reger a lei seca em todo o território peruano.

O voto é obrigatório e seu não cumprimento pode gerar uma multa de cerca de R$300. No dia das eleições, as urnas estarão abertas das 7h às 19h, horário local, enquanto o primeiro resultado prévio deve ser divulgado às 21h, segundo o poder eleitoral.

Diante da crise sanitária, gerada pela pandemia do novo coronavírus, o poder eleitoral recomendou que os candidatos priorizassem eventos online.

O Peru acumula 1,6 milhão de doentes e mais de 53 mil óbitos provocados pela Covid-19, sendo o país com maior taxa de letalidade da América Latina, com 1.619 mortos a cada milhão de habitantes. Nas últimas 24h foi registrado um novo recorde com 314 óbitos.

Conheça as principais candidaturas

Yohnny Lescano (Ação Popular)

O candidato de centro-direita é o favorito na corrida eleitoral, com 14,7%. Lescano foi a Puno, no sul do país, para realizar uma caravana, que percorreu os principais pontos da cidade.

Nessa reta-final, Lescano centrou suas declarações na promessa de  que, se eleito, irá reduzir as tarifas de água, eletricidade, telefonia e outros serviços básicos, reivindicando sua participação na elaboração do código do consumidor vigente no país, durante seus 18 anos como deputado (2001-2019).

Verónika Mendoza (Juntos pelo Peru)

candidata do campo progressista, tem 12,4% de intenções de voto. Na quarta-feira (7) realizou um evento com seu gabinete e artistas  indígenas peruanos, que foi transmitido pela plataforma Facebook. Finalizou a campanha com um comício, na sua cidade natal, Cusco, chamando “Tinkuy del cambio – Cusco va con Vero’.

Mendoza é a única candidata de esquerda com possibilidades de chegar ao segundo turno das eleições presidenciais peruanas. / Reprodução / Twitter


Mendoza cresceu nas pesquisas de opinião nas últimas semanas, depois de ter sido considerada a melhor debatedora entre o primeiro grupo de oito candidatos.

O favoritismo também gerou tensão dentro da esquerda, que postula Pedro Castillo pelo partido Peru Livre, que tenta disputar os votos com Mendoza para garantir um lugar no segundo turno. 

Hernando de Soto (Avança País)

Hernando de Soto escolheu Arequipa, sua cidade de origem, para realizar uma última caravana pelas principais ruas da cidade. O candidato de direita que também vem subindo nas últimas pesquisas, seria o segundo colocado, com 13,9% das intenções de voto.

Com um programa político liberal, Soto defende potencializar o trabalho formal e informal – realidade para 70% dos peruanos – para sair da crise econômica. 

Hernando Soto defende mega projetos de construção civil e mineração para reativar a economia peruana. / Reprodução / Twitter

Keiko Fujimori (Força Popular)

A filha do ex-ditador Alberto Fujimori possui 11,2% do favoritismo até o momento, no entanto, seu partido deve formar a maior bancada do Congresso, com 12 deputados.

A líder do partido Força Popular enfrenta um processo judicial, acusada de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro com a construtora Odebrecht. 

George Forsyth (Vitória Nacional)

O ex-goleiro do Alianza Lima Club está afastado das atividades de campanha por ter sido diagnosticado com covid-19, no último domingo (4). Seu partido realizou um comício no teatro Leguía, em Lima, que foi transmitido online, na última quarta-feira (7). E neta quinta-feira será transmitida uma mensagem do candidato pelas redes sociais da campanha.

Dança das cadeiras

A pandemia foi a gota d’água na já complexa crise peruana. Nos últimos quatro anos, o Peru teve quatro presidentes diferentes. O último eleito, o banqueiro de direita Pedro Pablo Kuczynski, venceu em 2016 prometendo reformas liberais. Terminou renunciando em 2018 após se envolver com escândalos de corrupção da Odebrecht e foi preso meses depois.

Desde então, uma montanha russa se seguiu. Após PPK, assumiu seu vice, Martín Vizcarra. Embora analistas apontem que o ex-presidente conseguiu alguns avanços no combate à corrupção – e muita briga com o Congresso -, Vizcarra terminou ele próprio sendo alvo de dois processos de impeachment por corrupção e “incapacidade moral”, o último deles bem-sucedido, em novembro. (Após sua saída, eclodiu ainda novo escândalo, em que se descobriu que o ex-presidente e membros do governo tomaram vacina contra o coronavírus às escondidas.)

Os protestos têm acontecido desde o dia 9 deste mês, quando o então presidente, Martín Vizcarra, sofreu impeachment por parte do congresso peruano.
Protestos no Peru em novembro passado: mesmo os que não apoiavam Vizcarra foram às ruas contra Manuel Merino e o Congresso (ERNESTO BENAVIDES/Getty Images)

O impeachment, no entanto, foi mal recebido por parte da população. Manuel Merino, então presidente do Congresso e maior defensor do impedimento, assumiu na sequência, mas durou somente dias no cargo em meio a protestos que chegaram a deixar mortos e feridos nas ruas de Lima. Por fim, o atual presidente, Francisco Sagasti, de centro, terminou escolhido presidente por votação no Congresso, mas não se candidatou à presidência nas eleições deste mês.

Com informações do Brasil de Fato e da Exame

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