Deputadas cobram respostas sobre rejeição da Sputnik V no Brasil

Alice Portugal e Jandira Feghali cobraram explicações do gerente geral de Medicamentos da Anvisa sobre a decisão da agência de negar a liberação do uso do imunizante russo no Brasil. Gustavo Mendes disse que decisão não é definitiva e pediu ajuda aos parlamentares para obter informações

Foto: Gustavo Salles/Câmara dos Deputados

“A Sputnik não está inviabilizada, mas precisamos das informações”, disse o gerente geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Gustavo Mendes, nesta terça-feira (27), durante audiência pública da Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19.

A afirmação de Mendes foi feita às deputadas Alice Portugal (PCdoB-BA) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ), após questionamentos feitos pelas parlamentares sobre a rejeição anunciada pela Anvisa ao uso e importação da vacina russa pelo Brasil. A decisão da Agência foi anunciada na segunda-feira (26), por unanimidade, e gerou diversos questionamentos na audiência que discutiria a situação das vacinas Pfizer, Janssen e Sputnik.

“A negativa da Anvisa nos causou espanto. O risco sanitário não é muito maior não tomando a vacina? É um ponto final sobre a Sputnik? Pois dispensar uma vacina que já tem percentual de eficácia divulgado no mundo é algo nos condena mais ainda a uma circunstância de abandono sanitário no Brasil”, afirmou a deputada Alice Portugal, que é farmacêutica por formação.

A deputada Jandira Feghali também manifestou sua inquietação em relação à recusa da vacina e lamentou a ausência dos representantes da Sputnik V no debate para poder trazer as informações necessárias. Os convidados deixaram a reunião devido ao atraso para início do evento.

“Infelizmente representantes da Sputnik saíram da reunião da Comissão Externa de Enfrentamento à Covid por conta do atraso do evento. O Congresso quer e o Brasil precisa ouvir a empresa para que possamos resolver os entraves que impedem o uso da vacina”, pontuou Jandira.

A parlamentar, que é médica e membro ativo da Comissão Externa, lamentou a rejeição do imunizante diante do elevado número de óbitos pela Covid-19 no Brasil. Nesta segunda-feira, o Brasil chegou a 391.936 mortes pela doença, segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). 

“Ontem fiquei muito decepcionada, pois nossa expectativa é muito alta. Nós partimos de um contexto muito dramático no Brasil. Não temos vacinas suficientes no Brasil. Trabalhamos com duas: Coronavac e Astrazeneca, com números limitados na produção, até pela limitação na importação do IFA. Agora temos a notícia da Pfizer, mas ainda assim é insuficiente. É uma expectativa muito tímida para o número de casos e óbitos. Estamos perdendo vidas cada vez de pessoas mais jovens. Precisamos ter vacinas. Este Parlamento aprovou propostas com exigências cada vez menores e celeridades maiores, baseada na certificação internacional. Temos mais de 60 países utilizando a vacina. São afirmações ou são dúvidas a partir da falta de dados? Minha ponderação é pelo desespero por não termos vacinas para aplicar na nossa população. E a gente aqui sem poder importar os 37 milhões de doses da Sputinik”, pontuou Jandira.

Segundo Mendes, na análise do pedido de importação da vacina russa feita pelos governadores que desejam a autorização para compra da vacina, os diretores e a equipe técnica da Anvisa identificaram a ausência de dados mínimos, que consideram essenciais para a liberar com segurança o uso do imunizante no Brasil.

“Um dos pontos críticos foi a presença de adenovírus replicante na vacina. O que esperamos de uma vacina de adenovírus vetor é que não tenha vírus replicante. E essa especificação de permitir essa presença não foi justificada pela empresa. É uma não conformidade grave e pode trazer impactos na segurança da vacina”, explicou Mendes.

Segundo ele, a Agência continua aberta ao recebimento das informações solicitadas para uma nova análise e pediu ajuda aos parlamentares para obter os dados, visto que as análises feitas por outros países, de acordo com Mendes, ou não são compartilhadas em sua totalidade com o Brasil ou não respondem às dúvidas da Anvisa.

“O argumento que a vacina está sendo utilizada em outros países não responde nossas questões. As informações que nós solicitamos são mínimas para garantir segurança e eficácia no processo. Mas as portas não estão fechadas. Temos dúvidas e existe espaço para que se apresentem as informações, mas com o que temos hoje não dá. O balanço risco-benefício, na nossa decisão hoje, com os dados apresentados, não compensou. É muito angustiante pra gente também”, reiterou o gerente-geral de Medicamentos da Anvisa.

O presidente do colegiado, deputado Dr. Luiz Antonio Teixeira (PP-RJ), afirmou que a Comissão Externa não medirá esforços para contribuir na busca pelas informações necessárias para envio à Anvisa. “A entrega de mais documentos e a revisão do foi apresentado vai fazer com que a vacina possa ser utilizada. Afinal, estamos brigando há mais de um ano para termos todas as vacinas possíveis para enfrentarmos a Covid-19”, pontuou.

Fonte: PCdoB na Câmara

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