A comédia dantesca de Bolsonaro

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Ilustração: Aroeira

A Divina Comédia escrita pelo poeta Dante Alighieri era dividida em 3 partes; o Inferno, o purgatório e o paraíso. A novela do governo Bolsonaro, com capítulos dantescos diários ou semanais, arrasta o Brasil no sentido inverso, do purgatório para o Inferno.

Bolsonaro, um militar defenestrado do exército por tentativas de atos terroristas, associado a milícias cariocas se torna político. Em sete mandatos como representante desse setor não se conhece nenhum projeto de sua autoria que tenha servido ao povo e ao país. Sua atuação sempre em sentido contrário se destacava mais em homenagear milicianos ou torturadores de triste memória que assassinaram patriotas e democratas que lutaram contra uma ditadura militar que infelicitou o Brasil por 21 anos.

Em momento que a democracia se encontrava gravemente ferida e debilitada, vitimada por mais um golpe – um impeachment sem crimes – e violentos açoites do ilegítimo governo Temer, utilizando de vasta campanha mentirosa e meios ilícitos, chega ao poder um político inexpressivo, incompetente, porém de forte viés autoritário e fascista.

A partir daquele momento tomou corpo uma novela dantesca, que vai do purgatório em direção às profundezas do Inferno.

De forma muito rápida tudo vai sendo desmontado e destruído. Os direitos trabalhistas, da aposentadoria, férias, 13º, carteira assinada e outras garantias frutos de dezenas de anos de lutas, e que são substituídas por trabalho temporário, intermitente e outros graves retrocessos.

Os sindicatos, trincheiras de luta dos trabalhadores são aniquilados. Milhões são desempregados, outros em número maior são lançados nas valas da fome e da insegurança alimentar. Centenas de milhares de pequenas e médias empresas são fechadas.

Setores de suma importância como a educação sofrem cortes violentos quase que inviabilizando a própria manutenção das universidades e outras instituições públicas de ensino, formação e graduação.

Os órgãos responsáveis pelo controle fiscalização do meio ambiente são praticamente desmontados, e nossos eco sistemas desde o Cerrado, Pantanal, a Amazônia, parques ecológicos, APPs, e áreas indígenas, são escancaradas à sanha inescrupulosa e criminosa de madeireiros, garimpeiros, fazendeiros, grileiros, para a boiada passar a vontade, como afirmou o ex-ministro corrupto do setor.

Os incêndios florestais, na maioria criminosos, para aumento de pastagens e roubo de madeiras, avolumam os prejuízos até a presente data.

Mas o mais grave, causado por esse governo, está sendo na área de saúde, onde a Covid-19 já matou mais de 570 mil brasileiros, principalmente devido ao negacionismo, indicação de medicação inadequada e demora na compra de vacinas, enquanto negociações espúrias na aquisição de imunizantes – inclusive com denúncias sobre propinas – envolviam membros do governo, como apontam apurações na CPI do Senado.

E o presidente desvairado, sem noção e totalmente descompromissado com as regras estabelecidas pela nossa Constituição, continua diuturnamente atacar os demais poderes, o Judiciário, o Legislativo, pilares insubstituíveis da democracia.

Na medida que suas ações irresponsáveis são confrontadas e Bolsonaro percebe seu isolamento e queda de sua popularidade, como uma fera acuada, torna-se mais raivoso e perigoso.

Mesmo diante de derrotas irreversíveis, Bolsonaro teima em manter sua pauta suicida, clama pela adesão de seus fanáticos, e ameaça concretizar seu sonhado golpe com forças que jamais pode ter total controle.

A continuar essa novela dantesca, Bolsonaro, em marcha batida, está a arrastar o povo brasileiro e o Brasil para situações cada vez mais graves e perigosas, talvez como Dante citou em sua obra, para as profundezas do Inferno.

Urge uma ação mais responsável das demais instituições, principalmente do Congresso que já acumula quase 150 pedidos de impeachment, sob a conivência do deputado Lira. Urge uma ampla frente popular e democrática para barrar o insano.

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